Já depois deste comentário, o ministro recusou qualquer tentativa de ingerência na RTP, por causa do cartoon sobre polícias.
O Spam Cartoon era desconhecido para a grande maioria dos portugueses mas passou a ser um nome familiar para milhares de portugueses, desde a semana passada.
O episódio do dia 6 de Julho, Carreira de Tiro, mostra um polícia num treino com uma pistola – e o alvo em que acerta mais vezes é o alvo mais escuro, a simular uma pessoa negra.
Este episódio surgiu na sequência da morte do jovem francês atingido a tiro por um polícia, originando depois cenários de tumultos e caos em França.
O cartoon de Cristina Sampaio, apesar de ser baseado num assunto de outro país, originou uma queixa-crime da PSP e diversas críticas em Portugal, entre diversos partidos, polícias, comentadores e mesmo de um ministro.
Reacção às reacções
José Luís Carneiro, ministro da Administração Interna, falou directamente com presidente do Conselho de Administração da RTP. Foi o próprio ministro que contou que telefonou a Nicolau Santos para manifestar o seu “desagrado” e para dizer que a administração da RTP deveria ter “sentido de responsabilidade, para que a liberdade de expressão não coloque em causa a imagem e o prestígio das instituições”.
Ricardo Araújo Pereira não gostou desta reacção. Na SIC Notícias, o comentador (visivelmente incomodado) começou logo por questionar: “Sinceramente, não percebo como este senhor (José Luís Carneiro) ainda é ministro! Não consigo entender!”.
“O Governo ligou para a RTP a dizer ‘Estou? Eu não gostei deste programa’. E já estamos na comemoração dos 50 anos do 25 de Abril”.
“O cidadão José Luís Carneiro não gostou do programa e ligou para o PBX. Liga lá para baixo, para as secretárias da RTP a dizer:
– Olhe, não gostei muito.
– Mas quem é o senhor?
– Zé Carneiro.
– Pronto, obrigado.
– Não, não. Estou? É o ministro!”.
Ricardo aproveitou para dar os parabéns à Cristina Sampaio, autora do Spam Cartoon: “Graças a ela, foi uma semana hilariante: a PSP foi barbaramente agredida por um boneco. Depois, fartei-me de rir com os textos sobre o PSD a alinhar com o Chega, a pressionarem a RTP”.
“Mas, passadas horas, o ministro diz ‘Eu tive oportunidade a ligar para lá, a dizer que não gostei’. Isto não é o futuro ou os avisos sobre PSD e Chega; isto é o presente!“.
E depois veio uma comparação com foco no líder do Chega: “A noção de liberdade de expressão do André Ventura é exactamente igual à de vários adversários do André Ventura: liberdade de expressão sim, desde que não digam coisas que eu acho que são ofensivas. É o que pensam André Ventura, as pessoas do PSD e o ministro da Administração Interna!”.
“Isto não é um debate entre esquerda e direita. Isto é um debate entre gente autoritária e democrata! É a simples decência!”, continuou Ricardo Araújo Pereira, antes de aumentar o volume: “Outros dizem: a liberdade de expressão tem limites. Toda a gente sabe isso, pá!”.
“Nada foi proibido, ninguém foi preso. Mas ficámos a perceber como são estes potenciais censores!”, finalizou.
No mesmo programa, João Miguel Tavares avisou quem defende a demissão de José Luís Carneiro, por causa desta reacção: “Teríamos de demitir o ministro, o Chega, o PSD, a polícia…”.
Pedro Mexia percebe que um cartoon origina protesto, mas um protesto “não pode levar a que um ministro telefone à RTP”.
Ministro explica
Curiosamente, horas depois deste programa, José Luís Carneiro assegurou que não quis interferir na RTP: “Trata-se, naturalmente, de um contacto institucional para compreender o enquadramento, porque havia uma intranquilidade grande, quer na polícia, quer na Guarda Nacional Republicana, porque não tinham compreendido o enquadramento”.
“Eu já escrevi na imprensa – nunca aceitei pressões nem tentativas de influência; e longe de mim pensar que pudesse ter tido essa interpretação esse contacto institucional”.
O ministro da Administração Interna sublinhou que a chamada que fez foi para o presidente do Conselho de Administração da RTP, “que não tem poderes editoriais, nem tem poder de interferência na liberdade de informação”.
E foi um telefonema para “dar uma palavra de tranquilidade às forças de segurança“.
Além disso, José Luís Carneiro garante que aprecia “imenso” cartoons e a liberdade de expressão.
Agora o Ministro não pode telefonar para mostrar o seu desacordo! Tudo serve para pedir demissões! Afinal quem é que faz censura? Já não se pode falar!
Olha, este já esqueceu a ex-ceo da tap e e um gajo qq a telefonar-lhe . Ou vários.
Que amnésia conveniente.
Talvez Ricardo Araújo Pereira achasse graça se alguém, em nome da liberdade de expressão, negasse a realidade do holocausto…
Fonix este RAP desde que começou a ter algumas “ovações “, ninguém o segura. Muito perigoso prq dispara para tudo que mexe. Vou mesmo ter que o repudiar por muita pena prq. até houve tempos que lhe tinha algum respeito..
Eu até acho que o Ministro devia pedir a intervenção do Ministério Público, só não o tendo feito por respeito e em consideração à falta de meios operacionais desta Instituição.