“Uma revolução de sem-abrigo.” Manifestação histórica em Lisboa

As pessoas em situação de sem-abrigo manifestam-se, nesta segunda-feira, em frente à Assembleia da República num protesto inédito no nosso país. De tal forma que os organizadores da iniciativa falam de uma “revolução de sem-abrigo” que querem deixar de ser “invisíveis”.

“Somos todos invisíveis.” Este é o desabafo na TSF de António, um dos sem-abrigo que faz parte do grupo de pessoas que vivem na rua que organizou a manifestação desta segunda-feira. O protesto decorre ao longo do dia, em frente à Assembleia da República.

“A revolução que vai haver não é de cravos nem de rosas, é de sem-abrigo“, afiança o grupo organizador, conforme cita o jornal Sol.

“A promessa de Marcelo Rebelo de Sousa foi tirar os sem-abrigo da rua, dar-lhes dignidade e dar-lhes uma casa, mas cada vez há mais despejos, mais desemprego, mais pessoas na rua e menos respostas”, aponta o comunicado sobre o protesto que é referido pelo mesmo jornal.

Os sem-abrigo sentem-se “desprezados no dia-a-dia”, como lamenta António na TSF. “As instituições, a Câmara, o presidente e o governo não nos dão apoio”, desabafa.

Somos invisíveis, mas temos de sair da escuridão. Queremos ver a luz ao fundo do túnel”, diz ainda este sem-abrigo que vive na rua em Lisboa.

Ninguém dá trabalho a um sem-abrigo. Numa entrevista de trabalho, perguntam-nos onde mora? Respondemos: na rua. E aí já não há mais conversa. Acabou a entrevista”, queixa-se ainda António que chegou a ter vários empregos antes de ter acabado a viver na rua.

Os organizadores do protesto notam que os albergues que acolhem sem-abrigo “não têm condições, têm percevejos, porcaria, quartos pequenos com 18 pessoas” e “as pessoas roubam-se umas às outras”.

“Cada pessoa tem um número, ali o nome não existe. Quando se entra para ali, é como uma prisão: não és mais do que um número“, dizem.

“A Câmara Municipal de Lisboa e a Santa Casa da Misericórdia têm tanta casa fechada, queremos abri-las e organizá-las”, afirmam também.

O protesto foi convocado depois dos despejos no Largo de Santa Bárbara, na freguesia de Arroios, em Lisboa. Um edifício abandonado foi ocupado por um grupo de apoio a sem-abrigo, mas os proprietários ordenaram o despejo das pessoas.

A autarquia e a Santa Casa da Misericórdia acabaram por realojar as pessoas.

150 sem-abrigo em Lisboa com casa ou emprego desde início da pandemia

Quase 150 pessoas até agora em situação de sem-abrigo em Lisboa conseguiram desde o início da pandemia de covid-19 encontrar casa, um quarto ou um emprego, no âmbito de programas desenvolvidos pela Câmara Municipal.

Segundo uma nota do gabinete do vereador da Educação e Direitos Sociais, Manuel Grilo, do Bloco de Esquerda (que tem um acordo de governação da cidade com o PS), desde o início da pandemia já passaram pelos quatro centros de acolhimento de emergência para sem-abrigo criados pela autarquia mais de 500 pessoas.

Dessas, 47 foram encaminhadas para o programa “Housing First”, um projecto financiado pela Câmara de Lisboa em que as pessoas são integradas em habitações tendencialmente individuais e têm um acompanhamento por técnicos que as orientam a gerir uma casa tendo em vista a sua integração social.

A autarquia prevê que até ao final do ano um total de 380 pessoas estejam alojadas através deste programa.

Outras 51 pessoas, segundo a nota do gabinete de Manuel Grilo, foram encaminhadas para “outros tipos de resposta de alojamento, como quartos em apartamentos partilhados”.

Através da RedEmprega, 45 pessoas que passaram pelos centros de acolhimento conseguiram emprego “e podem hoje voltar a ser independentes”, lê-se ainda na nota.

A RedEmprega é um programa que a autarquia tem em parceria com a APEA – Associação Portuguesa de Emprego Apoiado e a Fundação Aga Khan Portugal e que tem como objetivo “reforçar a resposta de empregabilidade para pessoas vulneráveis na cidade”, apoiando a inclusão social e no mercado de trabalho.

“Uma parte considerável das pessoas que caíram na rua desde o início do ano fê-lo porque perdeu o emprego ou uma fonte de rendimentos estável, decorrente da crise económica que vivemos”, refere o comunicado.

Actualmente, a Câmara de Lisboa tem em funcionamento quatro centros de acolhimento de emergência para sem-abrigo, com capacidade para acolher 220 pessoas: no Pavilhão Municipal Casal Vistoso, na Casa do Largo, no Clube Nacional de Natação e na Pousada da Juventude do Parque das Nações.

 

ZAP // Lusa

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