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Entre a “revolução” e a “bomba eleitoral”, Costa amuou

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José Sena Goulão / Lusa

A redução no preço dos passes sociais, que está a ser apontada pelo PSD como uma “bomba eleitoral” do Governo socialista, marcou o debate quinzenal no Parlamento, com António Costa a defender-se, notando que a medida é uma “verdadeira revolução”, mas com um pequeno amuo pelo meio.

Foi tenso o debate quinzenal com a presença do primeiro-ministro no Parlamento, nesta terça-feira, 19 de Março. António Costa estava preparado para tirar do bolso os números da economia, como prova do bom trabalho do seu Governo, destacando o facto de ter “restaurado a confiança dos consumidores e empresas” e de ter conseguido a “estabilização do sistema financeiro”, bem como a “devolução de rendimentos cortados em salários e pensões”.

O primeiro-ministro notou também que Portugal está, há dois anos, a revelar um “crescimento acima da média europeia”, um cenário que “não é fruto do acaso”, sublinhou, mencionando como principal causa a reversão das políticas que tinham sido implementadas pelo Governo PSD/CDS.

Costa não falou por um segundo sequer da redução do preço dos passes sociais, na sua intervenção inicial, mas foi obrigado a falar do tema perante os ataques do PSD, cujos deputados criticaram a medida como um “acto eleitoral como nunca se viu”. Isto já depois de Marques Mendes ter falado da proposta como uma “bomba eleitoral”.

Para o primeiro-ministro, a medida é uma “verdadeira revolução” que se aplica a todo o país “na medida em que os autarcas de cada região entendam fazê-lo”. Uma ideia que defendeu perante as críticas de PSD e CDS que contestavam que a redução terá efeitos apenas em Lisboa, onde “o PIB per capita é de 120%, superior à media europeia”.

“Os senhores são contra esta redução de preços dos transportes públicos”, atirou Costa perante o burburinho dos sociais-democratas. Como o barulho dos deputados continuou em volume crescente, o primeiro-ministro interrompeu a resposta e calou-se.

“Os senhores deputados já estão esclarecidos”, foi a última coisa que disse ao PSD sobre o tema dos passes sociais, recusando-se a abordar o assunto mesmo depois de Fernando Negrão, o líder da bancada parlamentar social-democrata, lhe ter dito que queria ouvir mais esclarecimentos.

“O que o PSD não quer assumir é que votou contra os passes sociais e contra esta redução do seu tarifário, e não votou contra só para a Área Metropolitana de Lisboa e a Área Metropolitana do Porto, votou contra para todo o país”, atirou, mais tarde, o primeiro-ministro, considerando que existe uma “enorme contradição entre o discurso” do PSD no Parlamento e “o discurso que os autarcas do PSD fazem”.

À esquerda, Bloco e PCP fizeram a defesa do Governo, elogiando a redução do preço dos passes sociais, com Catarina Martins a aproveitar para criticar o anterior Governo de direita, sustentando que “eleitoralismo é disponibilizar um simulador no Portal das Finanças sobre a redução de uma sobretaxa que nunca chegou a acontecer”.

“Incomodam-se de serem os trabalhadores a beneficiar desta medida, ficaram-lhes os tiques da troika“, apontou, por seu turno, Jerónimo de Sousa que lembrou também que o PS chumbou a medida em 2016, votando ao lado da direita.

O debate quinzenal ficou ainda marcado pela tensão que tem sido habitual entre Costa e Assunção Cristas, com a líder do CDS a lançar críticas ao Governo no âmbito do Serviço Nacional de Saúde, dos impostos sobre os combustíveis e do IRC.

Outro tema lançado para o debate por Catarina Martins foi o acordo de cooperação estabelecido entre a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a RTP para a criação do canal 11. A líder do Bloco de Esquerda questionou Costa sobre o seu posicionamento quanto ao facto de a RTP se dispor a ceder “instalações, arquivo e pessoas” à FPF para “criar um canal concorrente a si própria”.

O primeiro-ministro manifestou-se surpreendido com os detalhes do acordo e apontou que o Governo já tinha pedido esclarecimentos à RTP. Ainda a meio do debate, a comunicação social reportou que a FPF suspendeu o acordo com a RTP.

SV, ZAP // Lusa

4 Comments

  1. “crescimento acima da média europeia”

    O sound byte do António Costa !
    “Esquece-se” de dizer que a média europeia é grandemente influenciada, por exemplo, pela Alemanha, que tem superavit e nem precisa de crescer.
    Portugal está na retaguarda de todos os países com idêntico desenvolvimento.
    Um crescimento de 2% é pífio e faz com que Portugal esteja em divergência acentuada com a UE !
    Por outro lado, só no “reinado” de Costa, a dívida pública piorou 20 MIL MILHÕES DE EUROS.
    A Imigração de jovens (a maior parte deles formados) cresceu, e passou a haver 150.000 emigrantes por ano !!
    São as “coisas” que a “família” Costa esconde aos portugueses. Família no sentido do termo.

  2. Mas alguém acredita neste politico aldrabão. Conseguiu sobreviver a umas eleições que perdeu com outros aldrabões e continua a caminhada levando-nos cada vez mais para o abismo.
    Lamentável é a atitude do cara das selfies, beijos e abraços.
    A estratégia é, quando cair que não estejamos cá, salve-se quem puder.
    Pobre Portugal.

  3. O senhor Costa é de facto um bom discípulo do Sócrates, tem sempre resposta na ponta da língua, então será que ele não sabe que a grande parte do país não tem transportes públicos à altura de satisfazer as necessidades das pessoas e dificilmente isso será possível por falta de interessados ou necessitados, as pessoas nas vilas e aldeias vão quando precisam e quando precisam raramente terão um transporte público à sua disposição, os problemas já existem em Lisboa e Porto por várias razões uma das quais até as greves e as pessoas não estão para se sujeitar a atrasos quando têm compromissos inadiáveis. Irá ser bom de facto para alguns mas daqui por pouco tempo irão reparar que a medida não será tão eficaz como o previsto e que por outro lado será mais uma medida discriminatória a dividir a sociedade.

  4. Este caso dos passes não passa de propaganda e de uma injustiça. Os transportes sempre alguém tem que os pagar. Muitos concelhos nem tem transportes públicos têm. Quem vai suportar as descidas dos passes no litoral são os contribuintes do interior que não os utilizam. Tudo isto contribui para alargar o fosso que existe entre o interior e o litoral. Mas o “socialismo” é mesmo assim. É a arte de tirar a quem trabalha para dar àqueles que nada fazem!!

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