O relógio pertencia a um passageiro que acabou por morrer nas águas geladas após o naufrágio do Titanic. A sua mulher sobreviveu e conseguiu um lugar num dos botes salva-vidas.
Um relógio de bolso centenário recuperado do Titanic, uma relíquia de um dos desastres marítimos mais infames da história, foi vendido em leilão por 97 mil libras em 2023, segundo a casa de leilões Henry Aldridge & Son.
O relógio foi retirado do corpo de Sinai Kantor, um imigrante judeu russo que morreu nas águas geladas quando o navio se afundou a 15 de abril de 1912 — e tem uma história que parece saída do famoso filme de James Cameron.
Sinai Kantor, 34 anos, e a sua mulher Miriam embarcaram no Titanic como passageiros de segunda classe, pagando 26 libras pelos seus bilhetes, o equivalente a cerca de 3525 euros atuais.
O casal era oriundo de Vitebsk, na Rússia, e esperava começar uma nova vida em Nova Iorque, onde planeava estudar medicina e medicina dentária. Sinai, um comerciante de peles, tencionava vender baús de peles para financiar o seu sonho americano, relata o All That’s Interesting.
No entanto, os seus planos foram tragicamente interrompidos. Quando o Titanic embateu num icebergue, o protocolo de evacuação “mulheres e crianças primeiro” permitiu que Miriam conseguisse um lugar num barco salva-vidas, mas não havia lugar para Sinai. Juntamente com mais de 1500 pessoas, Sinai sucumbiu às águas geladas do Atlântico, tal como Jack Dawson no filme.
Dias depois, o corpo de Sinai foi recuperado, juntamente com os seus objetos pessoais, incluindo o relógio agora leiloado. Para Miriam, a obtenção destes objectos não foi fácil. Seguiu-se uma batalha legal de cinco semanas até conseguir recuperar os bens do seu falecido marido.
O relógio, vendido por um descendente direto de Sinai e Miriam Kantor, tem um valor cultural e histórico significativo. A frente tem números hebraicos, enquanto a parte de trás apresenta uma imagem em relevo de Moisés a segurar os Dez Mandamentos, refletindo a herança judaica da família Kantor.
Apesar da sua idade e da exposição à água do mar, o relógio de fabrico suíço continua a ser um artefacto comovente. O mostrador está manchado, os ponteiros estão quase corroídos e a caixa prateada desgastou-se, revelando o latão por baixo. No entanto, o seu valor simbólico ultrapassa o seu estado físico.