“Hitler tentou matar-me porque sou judeu. Putin está a tentar matar-me porque sou ucraniano”

DBT / Thomas Köhler

Roman Shvartsman discursa no Parlamento da Alemanha

Relato impressionante de Roman Shvartsman. Com 88 anos, sobreviveu ao Holocausto e agora tenta sobreviver a outro tipo de perseguição.

Roman Shvartsman foi um protagonista marcante, e até emocionante, no Parlamento da Alemanha.

Nesta quarta-feira o Bundestag organizou uma sessão, um memorial, pelas vítimas dos crimes nazis, no tempo de Adolf Hitler.

Aos 88 anos, o judeu Roman Shvartsman pode contar como sobreviveu ao Holocausto. Disse ele próprio que “viveu um dos períodos mais cruéis da história da humanidade”.

Nascido num contexto muito apertado, onde nem havia rabino na sua aldeia porque o judaísmo – entre outras religiões – era proibida pelas autoridades soviéticas.

Já durante a II Guerra Mundial, em 1941 a família (restante, já que o pai e o irmão mais velho foram combater) começou a fugir dos nazis.

“Foram duas semanas terríveis a conduzir uma carroça puxada por cavalos para lugar nenhum, enquanto era alvo de bombardeios”, relatou.

Passou por campos de milho com soldados de metralhadora, a poucos metros; passou por milhares de cadáveres de civis.

Foram apanhados. Depois passaram dois anos e meio num gueto, “atrás de arame farpado. Dois anos e meio de humilhação, dor, piolhos e… fome constante“.

Foram libertados em 1944. Para trás ficou o registo de mais de 25 000 mortos só da sua cidade natal, Bershad.

Um deles era o seu irmão de 14 anos – que foi enterrado pelo próprio Roman Shvartsman. O adolescente estava a fazer trabalho forçado num dos campos controlados pelos alemães, escorregou, caiu ao rio, mas os nazis pensaram que era uma tentativa de fuga e dispararam enquanto ele estava na água.

Apesar de ter confrontado a morte muitas vezes, também viveu “momentos de gentileza e solidariedade no gueto”.

E, revela agora, foram esses momentos que o ajudaram a “perseverar e não perder a fé. E a sobreviver!”.

O trabalho da sua vida é agora preservar a memória das vítimas do Holocausto.

Ucrânia

E é aqui que entra o contexto da guerra na Ucrânia.

Em Odessa estava a ser construído um monumento de homenagem às vítimas locais do Holocausto – mas a construção foi interrompida por causa da invasão da Rússia.

Sim, Roman Shvartsman é judeu e ucraniano.

“Desde que a Rússia atacou a nossa população civil, as nossas cidades e o nosso sistema energético no dia 24 de Fevereiro de 2022, as nossas vidas e a nossa liberdade estão mais uma vez em perigo”.

Roman avisa que Vladimir Putin, presidente da Rússia, está a tentar destruir os ucranianos “como nação, assim como Hitler tentou destruir o povo judeu na II Guerra Mundial”.

“Naquela altura, Hitler queria matar-me porque sou judeu. Agora Putin está a tentar matar-me porque sou ucraniano“.

A casa de Roman foi destruída por um míssil russo, há pouco mais de um ano.

Enquanto lamenta que Odessa esteja a “sofrer muito com o terror russo”, tem visto “destruição e sofrimento novamente“.

“As histórias de tortura contadas pelos defensores ucranianos, em relação aos ocupantes russos, causam-me dores fantasmagóricas. Eu estive no gueto. Eu vi o diabo“, lembra, enquanto apela para não “superestimar o diabo, porque o seu poder só é aquele que lhe damos”.

Roman Shvartsman agradeceu ao Parlamento alemão pela ajuda que tem dado à Ucrânia e deixou o aviso: “Qualquer um que acredite que Putin ficará satisfeito com a Ucrânia está enganado”.

Por isso, pediu mais meios aéreos, mais mísseis, mais apoio.

“O mundo precisa de parar de ter medo! A Ucrânia fará de tudo para evitar que a guerra chegue até vocês!”.

E, pedindo ajuda para travar a “guerra de aniquilação” de Putin, admite e explica o seu medo: “Eu escapei da destruição uma vez. Agora estou velho, mas tenho que viver com o medo de que os meus filhos e os netos dos meus filhos se tornem vítimas de uma guerra de aniquilação”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.