Regulador revela perdas de água no sistema entre 20% e 50%

Apesar da evolução que Portugal registou em termos de recursos hídricos, Vera Eiró, que integra o Conselho de Administração da ERSAR, o regulador português para o setor da água, considera que “mais do que espaço para melhorias, há a necessidade de melhorar”.

Durante a conferência “A Blue New Deal”, promovido pela Águas de Gaia e pela Aqua Publica Europea, a responsável apontou as medidas para que sejam alcançados efeitos positivos a longo prazo, como a manutenção adequada das infraestruturas e a melhoria da eficiência estrutural e operacional do setor.

A redução de custos, o aumento da produtividade, a sustentabilidade económica e financeira do setor e a política adequada de recuperação de custos foram outros dos pontos referidos por Vera Eiró, citada pelo esta segunda-feira pelo ECO.

“Há perdas de água no sistema. Os consumidores não sabem muito sobre o que é perdido pelo caminho. Isto é sobre o que está a perder-se nesse caminho por causa da infraestrutura não estar preparada e isso é algo que precisa de ser melhorado aqui em Portugal, em algumas áreas mais do que noutras. Os dados recolhidos mostram 20%, 30% e 40% de perdas”, revelou.

Sobre as tarifas e os custos, esclareceu: “É o princípio de que o poluidor paga e de que quem usa tem de pagar pelo serviço. E o facto de que as tarifas precisam de traduzir, de facto, os custos específicos da água. Nós ainda não estamos aí e isso é algo que precisa de melhorar porque não podemos falar apenas de poupança na nossa torneira, precisamos de falar de poupança em todo o país, ao longo de todo o caminho que a água faz”.

Afonso do Ó, coordenador de Prática de Água na associação ambientalistas WWF Portugal, reforçou que os princípios básicos de “utilizador – pagador” e do “poluidor – pagador” ainda não estão implementados.

A mitigação dos efeitos das alterações climáticas foi outro dos assuntos. “Este tópico é mais operacional e leva à implementação de práticas de gestão de água mais sustentáveis. Isso significa pensar bem na reutilização da água”, sugeriu Vera Eiró.

“O aquecimento global está a colocar a água no topo da agenda”, referiu Dan Lert, vice-presidente da Câmara de Paris e presidente da Eau de Paris, sublinhando a necessidade de gerir a água de forma mais sustentável.

“No passado pensávamos na água como algo importante para a produção, para a agricultura, e agora nós vemos a água como algo que é necessário diretamente para nós. Não é só para a produção, não é só para a agricultura, é para bebermos, é para lavarmos as nossas mãos e para nos protegermos da covid-19″, explicou Vera Eiró.

“Nós precisamos de colocar a água na agenda porque ela é precisa para outros propósitos, mas também porque precisamos dela para beber, para lavar as nossas mãos e para nos protegermos”, frisou a responsável. Afonso do Ó acrescentou que a presença da água na agenda política é “importante para que se veja aquilo que é invisível”

“Uma das principais prioridades seria implementar legislação que já existe e medir o impacto da legislação para uma boa governação. Neste caso específico, a boa governação ainda não existe. Quando vejo todas as iniciativas legislativas relevantes da UE, acho que uma das prioridades seria os Estados Membros implementarem estas iniciativas e terem a noção do impacto da sua implementação”, afirmou Vera Eiró.

Já Afonso do Ó alertou para o facto de que a falta de implementação das iniciativas pode comprometer os objetivos de sustentabilidade que se pretendem atingir até 2027.

“A legislação é um motor para a inovação. Precisamos de implementar o que está feito e perceber se avançamos no bom caminho. Assim, as políticas de economia circular, o desenvolvimento de boas práticas, como o uso de água, também devem ser uma prioridade para garantir a proteção eficaz dos recursos hídricos de hoje e de amanhã”, concluiu Vera Eiró.

Taísa Pagno //

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