No segundo dia, a COP26 conseguiu dois importantes compromissos internacionais. Além de um acordo global para travar a desflorestação, traçaram o objetivo de reduzir em 30% as emissões de metano.
Mais de 100 países, entre eles Portugal. mas também os Estados Unidos e a União Europeia como entidade, comprometeram-se esta terça-feira a reduzir as emissões de metano em 30% até 2030, em comparação com 2020.
A decisão foi anunciada em Glasgow, no Reino Unido, onde decorre até dia 12 a 26.ª cimeira das Nações Unidas sobre alterações climáticas (COP26).
O metano é um gás com poderoso efeito de estufa, muito superior ao mais ‘mediático’ dióxido de carbono, e, segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, um dos que podem ser reduzidos mais rapidamente.
“Reduzi-lo abrandaria imediatamente o aquecimento global”, disse Ursula von der Leyen, lembrando que o metano é responsável por cerca de 30% do aquecimento do planeta desde a revolução industrial.
O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, salientou também que o metano é “um dos gases com efeito de estufa mais poderosos”, salientando depois que os países signatários do compromisso representam 70% do PIB mundial.
“Hoje, os Estados Unidos, a União Europeia, e parceiros, lançaram formalmente o Global Methane Pledge (Compromisso Global do Metano), uma iniciativa para reduzir as emissões globais de metano e manter possível o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5 graus celsius (acima dos valores médios da era pré-industrial). Um total de mais de 100 países, representando 70% da economia global e quase metade das emissões antropogénicas de metano, subscreveram agora o compromisso”, lê-se num comunicado do Governo norte-americano.
Os Estados Unidos e a União Europeia já tinham anunciado em setembro que estavam a trabalhar no acordo, ao qual se juntaram 103 países, entre eles, além de Portugal, o Brasil, o Canadá, a França, a Alemanha, a Indonésia, o México, a Nova Zelândia, a Arábia Saudita ou o Reino Unido, entre outros.
Na nota, os Estados Unidos salientam que os países signatários não só se comprometem em reduzir as emissões de metano como a avançar para a utilização de melhores metodologias de inventário disponíveis para quantificar emissões de metano.
Os Estados Unidos e a União Europeia “também se orgulham de anunciar uma expansão significativa do apoio financeiro e técnico para apoiar a implementação do compromisso. Filantropos globais comprometeram-se com 328 milhões de dólares em financiamento para apoiar o aumento da escala deste tipo de estratégias de mitigação do metano em todo o mundo. O Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, o Banco Europeu de Investimento, e o Fundo Verde para o Clima comprometeram-se a apoiar o acordo através de assistência técnica e financiamento de projetos. A Agência Internacional de Energia servirá também como parceiro de implementação”, diz-se no comunicado.
De acordo com o documento a concretização do Compromisso Global de Metano reduzirá em pelo menos 0,2 graus Celsius o aquecimento global até 2050, “proporcionando uma base fundamental para os esforços globais de mitigação das alterações climáticas”.
Além disso, segundo a Avaliação Global do Metano da Coligação Clima e Ar Limpo (CCAC) e do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), conseguir os objetivos até 2030 do compromisso hoje divulgado evitaria mais de 200.000 mortes prematuras, centenas de milhares de idas a urgências hospitalares relacionadas com a asma, e mais de 20 milhões de toneladas de perdas de colheitas por ano até 2030.
O metano (CH4), emitido pela agricultura e pecuária, combustíveis fósseis e resíduos, é o segundo gás com efeito de estufa mais importante ligado à atividade humana depois do dióxido de carbono (CO2). Ainda que pouco falado, tem um efeito de aquecimento cerca de 29 vezes superior ao CO2 durante um período de 100 anos, e cerca de 82 vezes durante um período de 20 anos.
Especialistas saúdam acordo
Especialistas na área do ambiente saudaram o compromisso assumido na cimeira das Nações Unidas sobre alterações climáticas, encarando-o como sendo muito positivo na luta contra o aquecimento global.
“Cortar as emissões de metano é essencial para se conseguir manter o aquecimento global nas metas pretendidas”, disse Helen Mountford do World Resources Institute.
“Uma ação rápida e forte na redução da emissão de metano iriá trazer inúmeros benefícios para todo o mundo, desde limitar o aquecimento global como melhorar a saúde pública e a qualidade da comida”, acrescentou.
Também para Maria Pastukhova, especialista em energia da organização E3G, um grupo de reflexão europeu, independente, sobre alterações climáticas, o acordo é encorajador.
“O Acordo, feito por países que emitem metade do metano do mundo, é um passo positivo e há muito esperado, pondo em evidência a segunda maior causa do aquecimento global causada pela humanidade. O verdadeiro trabalho começa agora. Antes da COP27, o compromisso tem de conseguir a adesão dos três maiores emissores, China, Rússia, e Índia, apoiados por mecanismos transparentes de governação e monitorização”, afirmou.
China, Rússia, e Índia não se juntaram aos 103 países que assinaram o Compromisso Global para o Metano.
Maria Pastukhova alertou que a indústria do gás, petróleo e carvão devem intensificar esforços para reduzir drasticamente as emissões relacionadas com a energia, mostrando resultados tangíveis nos próximos anos.
A especialista também salientou que a redução das emissões de metano não pode substituir “a necessidade de um esforço global contínuo para reduzir a procura de combustíveis fosseis”, se o mundo quiser alcançar a meta de não deixar que as temperaturas globais subam além de 1,5 graus Celsius em relação à época pré-industrial.
ZAP // Lusa