Mortes, destruição, ameaças a meteorologistas e crocodilos em casa: o rasto do furacão Milton

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Cristobal Herrera-Ulashkevich / EPA

Furacão Milton nos EUA

O furacão Milton causou “múltiplas mortes”, elevados danos materiais e deixou 2,6 milhões de pessoas sem luz na passagem pela Flórida (EUA). Pelo meio, há teorias da conspiração e as inundações trazem surpresas perigosas.

O departamento do xerife do Condado de St. Lucie, na costa oeste da Flórida, relatou “múltiplas mortes” relacionadas com os tornados que atingiram uma comunidade de reformados antes de o furacão Milton chegar à península.

O furacão atingiu a costa norte-americana na quarta-feira como uma tempestade de categoria 3. Entretanto, já perdeu intensidade, descendo para a categoria 1, de acordo com a última actualização do Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC, na sigla em inglês).

Contudo, o estado de emergência mantém-se devido à grande quantidade de chuva que o furacão deixou no seu rasto, como avisou o NHC. Continuam em vigor os alertas de inundações repentinas e deslizamentos de terra.

A tempestade deixou pelo menos 2,6 milhões de pessoas sem energia, segundo o levantamento realizado pelo portal especializado PowerOutage. Os concelhos de Pinellas, Manatee e Hillsborough são os mais afectados.

Os cortes de energia aumentaram durante a noite e várias cidades, como São Petersburgo, sofreram também cortes no abastecimento de água.

O furacão chegou a ter rajadas de ventos máximos sustentados de 144 quilómetros por hora, referiram as autoridades.

Destruição e crocodilos em casa

Ainda é cedo para contabilizar as vítimas e os estragos causados pela tempestade, mas já há imagens que dão uma dimensão da situação. Vídeos e fotografias divulgados nas redes sociais mostram o tecto de um estádio arrancado pelos fortes ventos, bem como estragos em várias habituações.

Por outro lado, as inundações de casas estão a trazer novos perigos aos moradores. Há quem se tenha deparado, a meio da noite e com a casa cheia de água, com um crocodilo abrigado da tempestade no interior da habitação.

Teorias da conspiração culpam meteorologistas

Os meteorologistas têm vivido dias intensos por esta altura, tentando recolher o máximo de informação possível sobre o furacão para que a Protecção Civil possa intervir no apoio às populações.

Estão habituados a esta missão, mas, neste ano, enfrentam um novo problema: as fake news que se espalham pela Internet.

“Há tanta informação má a flutuar que a boa informação foi obscurecida”, lamenta o meteorologista Matthew Cappucci em entrevista, por telefone, à revista Rolling Stone, salientando que está “a perder toda a fé na humanidade”.

Nos últimos meses, começaram a ser disseminadas “ideias que teriam sido ridicularizadas” noutros anos, e “pontos de vista estranhos” que, “de repente”, se tornaram “universais”, salienta Cappucci, notando que isso torna o seu trabalho “muito mais difícil”.

Além disso, os meteorologistas ficam com o trabalho a dobrar porque precisam de divulgar informação útil e, ao mesmo tempo, desmentir as “fake news”.

Republicanos acusam democratas de controlar clima

Entre as teorias da conspiração sobre os furacões que têm sido espalhadas está a de que o Governo pode controlar o clima, sendo, assim, apontado como o “culpado” pelas tempestades.

Estas ideias ganham maior importância durante o clima eleitoral tenso que se vive nos EUA, na antecâmara das eleições presidenciais.

E quem leva por tabela são os meteorologistas que chegam a ser acusados de modificarem o clima e de criarem furacões com lasers espaciais! Alguns recebem mesmo ameaças de morte simplesmente por desmentirem informação falsa nas redes sociais.

“Publicar uma previsão de um furacão e as pessoas acusarem-me de ter criado o furacão e de trabalhar para alguma entidade secreta dos Illuminati é decepcionante e angustiante”, lamenta Cappucci.

“A ignorância está a tornar-se socialmente aceitável. Há quarenta ou 50 anos, se eu dissesse que pensava que a [ida à] lua era mentira, as pessoas teriam rido de mim. Agora, as pessoas estão a unir-se através destes pontos de vista incrivelmente marginais”, acrescenta.

O meteorologista John Morales que foi notícia porque chorou em directo, quando se apercebeu da potência do Milton, lamenta que estamos na “era da pós-verdade” e que “este tipo de crenças loucas não se limitam apenas ao maluco tio Joe”.

Até alguns políticos as estão a espalhar“, nota, considerando que “custam vidas e desonram os socorristas e os funcionários públicos”.

A política republicana Marjorie Taylor Greene foi uma das que acusou os Democratas de controlarem a meteorologia.

Susana Valente, ZAP // Lusa

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2 Comments

  1. O último capítulo deste texto mostra o quanto os americanos estão imbecilizados/estupidificados. E são eles a nação mais poderosa (ainda…) do planeta. O pior é que esta cambada de idiotas é bem capaz de levar o Trumpas de volta à Casa Branca.

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  2. Eles resolviam isto maneira simples…
    Publica fake news que poe em risco a vida das pessoas? Prisao, inclusive políticos.
    Quando comecassem a bater com as costelas nas grades a parvoice terminava

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