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Há uma “nova forma de racismo anti-brancos”?

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(dr) PCA-STREAM

A morte de um jovem de 16 anos numa pequena aldeia francesa, após um ataque à faca feito por um grupo de agressores, recuperou em força a ideia de que há uma “nova forma de racismo anti-brancos”. Mas será que se pode realmente falar disso?

Thomas Perotto, de 16 anos, foi esfaqueado mortalmente por um grupo de jovens de uma localidade vizinha quando saía de um baile na pequena aldeia de Crépol, na região francesa de Drôme, a 18 de Novembro passado.

Em tribunal, “9 testemunhas em 104” que foram ouvidas alegaram que ouviram comentários “hostis aos brancos” entre os agressores, como cita a imprensa francesa que teve acesso ao processo.

“Estamos aqui para matar os brancos”, terão gritado os agressores segundo relatos dos amigos que estavam com Thomas num podcast do jornal Le Dauphine Libéré.

Thomas não era oriundo de qualquer comunidade, ou etnia, historicamente discriminada, pertencendo à maioria da população de origem francesa da aldeia.

Os nomes dos suspeitos do crime foram omitidos em vários jornais franceses, mas houve outros que os divulgaram, assinalando que alguns teriam origens africanas e muçulmanas.

Contudo, apesar das alegações, o processo judicial contra os agressores não inclui o racismo como um factor agravante e o Ministério Público (MP) francês alega que a motivação do crime terá sido outra.

“Nesta fase do procedimento, embora as motivações dos agressores não estejam claramente estabelecidas, os elementos recolhidos não são suficientes, nem juridicamente decisivos, para estabelecer que os actos foram cometidos por adesão ou não pertença, verdadeira ou suposta, a uma alegada raça, etnia, nação ou religião específica das vítimas”, segundo um comunicado do MP citado pelo jornal Le Figaro.

Apesar disso, há quem acredite na motivação do “racismo anti-brancos” na morte de Thomas. Em Paris e Lyon, chegaram a colar-se cartazes, onde se sublinha isso mesmo, apontando que o jovem foi assassinado “por ser branco”.

Extrema-direita e direita moderada alinhadas no “racismo anti-branco”

A extrema-direita já defendia a ideia de uma guerra em curso contra os “franceses nativos” mesmo antes da morte de Thomas. O ex-candidato presidencial Eric Zemmour, conhecido como o “Trump francês”, fala mesmo de um “francocídio”.

E a líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, considerou que o “racismo anti-branco existe” e que tem de ser “levado em consideração”.

Mas também o ex-primeiro-ministro francês Édouard Philippe, da direita moderada, falou do conceito numa entrevista ao “Jornal de domingo” da Franceinfo.

As declarações de Philippe surgiram no âmbito da morte de Thomas, com o ex-governante a reforçar que “é bem possível que exista uma nova forma de racismo anti-branco, tal como existe uma velha forma de racismo anti-negro, anti-árabe ou anti-judeu”.

Um “novo anti-semitismo”

Esta posição de Édouard Philippe é um sinal de que está a decorrer “uma evolução, até mesmo uma revolução intelectual“, que faz com que, actualmente, “a menção ao racismo anti-branco já não é tabu“, sublinha o advogado e ensaísta Gilles-William Goldnadel num artigo de opinião no jornal Le Figaro.

Estamos a assistir, assim, a um “tímido reconhecimento de um fenómeno vergonhosamente negado”, segundo o advogado que também fala de um “novo anti-semitismo” que já não se sente na extrema-direita, mas na extrema-esquerda – ou “islamo-esquerda”, como também refere -, onde o judeu é visto como o “nacionalista branco e dominante”.

O fenómeno também tem repercussões noutros países, nomeadamente nos EUA, onde os presidentes das prestigiadas Universidades norte-americanas de Harvard e da Pensilvânia alegaram, recentemente, em declarações ao Congresso, que os frequentes apelos ao genocídio de judeus nos seus campus universitários, depois do início da guerra em Gaza, têm de ser “contextualizados” e não constituem “perseguição”.

“Brancos não têm desvantagens devido à sua cor”

Porém, há sociólogos que discordam profundamente deste conceito, considerando um “absurdo” falar-se de “racismo anti-brancos”.

“O racismo anti-brancos não existe para as ciências sociais, não faz sentido“, salienta o sociólogo Éric Fassin, especialista em questões raciais da Universidade Paris VIII, em declarações ao jornal Le Point.

“Quando falamos de racismo anti-branco, reivindicamos uma concepção puramente individualista enquanto o racismo se baseia nas relações sociais”, aponta Fassin, sublinhando que é “um fenómeno de dominação social”.

O demógrafo e sociólogo Patrick Simon concorda em declarações à Franceinfo, reforçando que “os brancos não encontram desvantagens devido à sua cor nas orientações escolares, no acesso ao emprego, à habitação, à saúde ou nas relações com as instituições”.

“A grande distinção entre o racismo anti-branco e o racismo que afecta as minorias é que o que os brancos relatam são os atritos da vida quotidiana, interacções agressivas, mais ou menos violentas, durante as quais pode haver insultos referentes à cor da pele ou nacionalidade francesa”, refere o demógrafo.

Mas “estes insultos não estão associados a preconceitos e estereótipos que constituem um sistema de desvalorização, como é o caso das minorias ‘racializadas’”, acrescenta Simon, explicando que “o racismo é uma lógica de superioridade inscrita na capacidade de controlar os privilégios“.

Na justiça francesa, há alguns casos, mais ou menos recentes, em que houve condenações por ofensas de carácter racista contra brancos. Foi isso que aconteceu em 2018, quando o rapper Nick Conrad foi condenado a uma multa de 5 mil euros devido à música “Pendez les Blancs” (algo como “Pendurem os brancos”), cujo videoclip mostrava um homem branco a ser linchado.

Susana Valente, ZAP //

5 Comments

  1. Aos poucos o Povo começa a abrir os olhos, em certos sítios já vão tarde e só têm de aceitar e aguentar noutros assobia-se para o lado e inventa-se mil e uma desculpa.

  2. Se homem pode virar mulher e mulher pode virar homem, por que branco nao pode virar preto? E vice e versa? Nossa sociedade sofre de um grande problema. Não aceita aquilo que é, a forma como nasceu. “Brancos não tem desvantagens “? Experimenta ser branco e rico em África e vc vai ver o caixão que te aguarda. Falta de respeito pelo próximo e falta de aceitação. Só serve para criar mais tensão e discórdia na sociedade.

  3. Há e bem acentuado! Só um imbecil não o vê! Esses sociólogos vivem debaixo de uma pedra de certeza! O que aconteceu no antigo Ultrmar português? No Zimbábue? África do Sul? Certas zonas da Ásia e da América a do Sul? Os brancos são perseguidos e sempre que possível rebaixados! Na Europa e nos EUA temos estes idiotas a negar as evidências. Então se estamos no nosso país e somos nativos se usufruímos daquilo para que os nossos antepassados tanto lutaram é racismo e privilégio da cor? Que insanidade. O que aconteceu aos candidatos brancos à politica e na presidência na África do Sul? À população branca no nosso antigo Ultramar? Foi uma moda? Tentem usar os vossos argumentos, quaisquer cobtra alguém com outro tom de pele e vejam quem se fica a rir quer tenha razão ou não?

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