Quem é Kit, o protetor das avós que engana burlões?

Kitboga/Youtube

Kitboga, o enganador de burlões, leva 3,4 milhões de seguidores no YouTube.

Assume personagens, muitas vezes uma inocente avozinha, para atrair burlões. O principal objetivo é fazê-los perder tempo — com muito humor à mistura.

É um herói no Youtube e na Twitch, onde transmite, ao vivo, para 3,4 e 1,2 milhões de seguidores, respetivamente, os hilariantes esquemas fraudulentos com os quais combate… outros esquemas fraudulentos.

Alterando a voz para parecer uma avozinha inocente, o streamer Kitboga, também conhecido como Kit, atrai burlões para as suas armadilhas todas as semanas e já se dedica à atividade a tempo inteiro. Vinga as milhares de vítimas de burlas — que aumentaram 22% num ano nos EUA — com muito humor à mistura.

Muitas vezes, surpreendentemente, os burlões, que pensam que estão a lidar com pessoas idosas, frágeis e inocentes, fornecem ao streamer detalhes valiosos sobre as suas contas bancárias, endereços de carteiras de criptomoedas, entre outras informações. “Se eles pensam que estamos a cair nas suas fraudes, acabam por dar demasiada informação”, diz o criador de conteúdo.

Depois de enganar os burlões, apresenta reclamações seguem ao FBI. Recuperar o dinheiro roubado é raro, explica, mas denunciar as burlas às autoridades aumenta as hipóteses de apanhar o burlão.

“Telefono-lhes para lhes fazer perder tempo”

Um dos objetivos é manter os criminosos o máximo de tempo possível envolvidos neste “isco”, de modo a que enganem o menor número de pessoas possível.

Por vezes, fica mais de 40 horas a desperdiçar o tempo dos burlões. Mesmo quando estes começam a pensar que o dinheiro da “avozinha” está garantido e que a burla concluída com sucesso, Kit estraga-lhes os planos de formas hilariantes. Os burlões ficam, normalmente, bastante irritados com a situação.

Numa das situações, um burlão esteve 48 horas a falar com uma personagem de Kitboga. Pensou que estava prestes a receber 455 mil dólares (cerca de 427 mil euros) em Bitcoin, mas “sem querer”, o youtuber “envia-os” para a carteira de criptomoedas errada.

“Por que é que não copiou e colou o que lhe enviei?”, pergunta à vítima o burlão, irritado: “Burro! Escreveste o código errado! Ligue para a equipa de apoio e diga que inseriu o código errado!”

“Literalmente, você é a pessoa mais idiota, mais burra, mais filha da p***. Não tenho palavras neste momento”, diz o burlão, desesperado, enquanto o streamer faz tudo para não se “descascar” a rir.

Num esquema mais rebuscado, que durou meses, Kit fez-se passar por Edna, que estava a ser alvo de um burlão nigeriano que procurava conquistar o seu amor… e os seus milhões de dólares para comprar uma casa na Lua.

Durante horas e horas, a personagem Edna foi empatando o burlão. Um dia, sugeriu que se casassem na Nigéria, país em que o burlão disse nunca ter estado.

“Interessante, porque todos os vossos endereços IP estão lá”, responde, já com a voz grossa, o youtuber, no momento de desmascarar o ladrão.

É um entre milhares de exemplos do trabalho do vingador.

“Todos os dias há burlões a aproveitarem-se das pessoas. Eu telefono-lhes para lhes fazer perder tempo, para lhes explicar o seu ‘guião’ e as suas mentiras, para denunciar informações sempre que posso e para, de alguma forma, tornar mais leve uma situação sombria”, explica o criador de conteúdo na sua biografia no YouTube.

“Receber e-mails de alguém a dizer: ‘Eu sabia que isso era um golpe por causa do teu vídeo’, acaba por ser um sentimento muito bom”, confessa Kitboga à NPR.

Tudo começou quando burlões tentaram roubar a sua própria avó, que sofria de demência. “Surgiu a ideia de que talvez eu pudesse fazer alguma coisa”, conta.

Recentemente, o herói sem capa adotou uma nova abordagem mais eficaz que lhe permite travar burlões até enquanto dorme. Criou uma armadilha com recurso a Inteligência Artificial (IA)que envia uma série de etapas “infinitas” de verificação de contas Bitcoin roubadas que não existem — mais uma maneira de os fazer perder tempo.

“Eu não recomendaria isto de forma alguma”, avisa uma agente reformada do FBI ao NPR. “Se é realmente só para entreter os seguidores, então, não, não acho que seja a coisa certa a fazer”.

Isto porque, muitas vezes, os próprios burlões são também vítimas de operações de tráfico humano e forçados a efetuar as chamadas. Além disso, nunca se sabe com quem se está a lidar do outro lado do telefone, alerta: alguns burlões podem fazer muito mais do que defraudar as pessoas graças às suas eventuais habilidades de hacking.

Tomás Guimarães, ZAP //

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