Petr Ruzicka / Wikimedia Commons

Escrita antiga em Khmer
Estamos longe de ter o menor alfabeto do mundo — o mais curto tem 11 letras —, mas era ainda mais impensável termos 74 carateres para decorar. Mas não para os falantes de um curioso dialeto do Sudeste Asiático.
Com as nossas 26 letras, já leva uns tempos até que se decore o alfabeto português. Podíamos simplificá-lo, como o fazem os 4,320 falantes da língua Rotokas, que vivem na ilha de Bougainville, na Papua Nova Guiné.
Este alfabeto tem apenas 12 letras e 11 sons e é o mais pequeno do mundo. A grafia é compreensível para um português: as vogais, por exemplo, são, como as nossas, A, E, I, O, U, mas também AA, EE, II, OO e UU.
Ou podíamos simplificar ao estilo do latim, como os italianos, que só usam 21 letras, acabando com os inglesismos (as letras k, w, x, e y não existem), e com a letra j (sim, a primeira letra do nome mais comum dos homens portugueses não existe em Itália).
Mas fique sabendo que os espanhóis batem-nos em número de letras: têm 27, e a culpa é do Ñ. Como lembra no Instagram o linguista Marco Franco Neves, o ñ é bem diferente do nosso ç, que não é uma letra porque é apenas uma “variação do c”. O ñ é uma letra à parte, ordenado no alfabeto depois do n.
Curiosamente, conta o linguista, o alfabeto espanhol até 2010 tinha 29 letras, uma vez que os dois L, o “ll” (que em espanhol se lê “lh”) e o “ch”, eram considerados letras. Hoje, são considerados dígrafos, ou seja, duas letras que juntas formam um só fonema (como os nossos “ch” ou “lh”).
Mas na Europa há um campeão das letras, e há apenas 5 milhões de pessoas que a têm como língua-mãe. Falamos do alfabeto eslovaco, com 46 letras: A, Á, Ä, B, C, Č, D, Ď, DZ, DŽ, E, É, F, G, H, CH, I, Í, J, K, L Ĺ, Ľ, M, N, Ň, O, Ó, Ô, P, Q, R, Ŕ, S, Š, T, Ť, U, Ú, V, W, X, Y, Ý, Z, Ž.
74 letras e muita História
O alfabeto mais longo do mundo é o Khmer, a base da língua dialetal certificada do Camboja. Tem 74 letras, com 33 consoantes, 24 vogais dependentes (não podem ser escritas sozinhas), 12 vogais independentes e vários símbolos diacríticos.
É um língua repleta de História, uma vez que é uma das mais antigas do Sudeste Asiático, dominado na parte continental pelo império Khmer até ao século XV. Esta língua tem influências do sânscrito e das línguas Pāli, conta o Language Department, e as suas escrituras mais antigas remontam a 611 d.C..
Este complexo alfabeto tem quatro estilos de escrita: um que usa que utiliza letras oblíquas, outro referente às letras verticais, outros com tipos de letra com serifas mais nítidas e a versão caligráfica do alfabeto.
Uma curiosidade do Khmer: para descrever a quantidade, não se usam números — repetem-se as palavras. Por exemplo, se quisermos escrever “dois porcos velhos”, escrevemos “cru:k” (porco) e duas vezes “cah” (velho): cru:k cah cah.
O alfabeto “maior que a vida”
Apesar do recordista do Guiness ser o Khmer, todos os alfabetos são “meninos” quando falamos do chinês. Este não tem um alfabeto definido e ordenado, e ainda bem: para escrevê-lo, gastaríamos inúmeras páginas.
Parece quase infinito, e costuma dizer-se que o alfabeto chinês é “maior que a vida” — tem mais de 100 mil carateres, mas um chinês “normal” só conhece alguns milhares.
Note também que mandarim e chinês não são a mesma coisa — o primeiro é um dos dialetos do chinês, falado por mais de metade da população e selecionado como a língua oficial da China e de Taiwan.
O Chinese Language Institute explica que, em 2013, o governo chinês publicou uma lista dos 3500 caracteres mais essenciais utilizados na língua chinesa moderna.
Mas, se tem curiosidade em aprender chinês (ou mandarim, como é mais comum no ocidente), que este artigo não o iniba: para conseguir ler um jornal, por exemplo, precisará de reconhecer “apenas” cerca de 1000 letras. Bom trabalho.