Purga em Moscovo. Surovikin e mais 12 altas patentes militares detidos

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O General russo Sergei Surovikin

Altas patentes militares russas, incluindo o general Sergei Surovikin, ex-comandante das forças de Moscovo na Ucrânia, foram presas, no âmbito da rebelião do Grupo Wagner, informou hoje o Wall Street Journal (WSJ) citando fontes próximas do processo.

O general, que comandou as forças russas na Síria e depois na invasão da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro do ano passado, foi detido e interrogado, segundo as mesmas fontes, juntando-se a outras altas patentes que foram presas, suspensas ou demitidas.

Surovikin, conhecido como “General Armagedão” pelas campanhas de bombardeamentos que empreendeu na Síria, não era acusado de nenhum crime, mas estava a par alegadamente dos planos de rebelião do líder do grupo mercenário Wagner.

Yevgeny Prigozhin abandonou a Ucrânia, onde as suas tropas terão sido supostamente atacadas por forças russas, e, na noite de 23 para 24 de junho, os seus soldados tomaram sem resistência a cidade estratégica de Rostov (sul da Rússia).

Os mercenários empreenderam depois uma marcha para Moscovo para depor as chefias militares, iniciativa travada apenas quando as suas colunas estavam a pouco mais de 200 quilómetros da capital, num acordo mediado pelo Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko.

A detenção de Surovikin, que está a ser noticiada pelo WSJ, estará inserida numa campanha do Kremlin para afastar oficiais suspeitos de deslealdade.

Com o general, indicou o WSJ, pelo menos 13 altos oficiais foram detidos para interrogatório, tendo alguns deles sido libertados posteriormente, e cerca de 15 foram suspensos do serviço ou demitidos.

Nem o Kremlin nem o Ministério da Defesa da Rússia responderam aos pedidos de confirmação do jornal. Andrei Kartapolov, líder do comité de defesa do parlamento russo, disse num vídeo que circulou nas redes sociais esta semana que Surovikin estava apenas a descansar e que não se encontrava “disponível”.

Segundo uma das fontes do jornal, o coronel-general Andrey Yudin e o vice-chefe da secreta militar, tenente-general Vladimir Alexeyev, também foram detidos e a seguir colocados em liberdade, após terem sido suspensos e os seus movimentos restringidos e sob observação.

Entre outras figuras detidas está o ex-coronel general Mikhail Mizintsev, que foi vice-ministro da Defesa, e conhecido como “o carniceiro de Mariupol”, e que ingressou no Grupo Wagner de Prigozhin.

Surovikin foi visto pela última vez num vídeo divulgado em 23 de junho, parecendo angustiado e com uma arma com na mão direita, enquanto pedia a Prigozhin e aos seus mercenários para cancelarem a sua rebelião.

Desde o final de junho, o Kremlin começou a desmantelar o Grupo Wagner, que tem tido um papel relevante na Ucrânia, responsável pela recente captura de cidade ucraniana de Bakhmut, na província de Donetsk (leste), e um instrumento de projeção de poder russo no Médio Oriente, em concreto na Síria, no continente africano.

Um general experiente

Surovikin nasceu na Sibéria, tem 56 anos e tinha uma carreira militar em ascensão: lutou no Afeganistão, Tchechénia, Tajiquistão e Síria. Carrega consigo uma reputação de crueldade e brutalidade, embora na Rússia seja visto como um “líder militar duro e exigente”.

Na Tchechénia, a sua promessa pública de “destruir três militantes por cada soldado morto” ficou famosa, segundo a agência de notícias russa TASS. Antes de ser nomeado general do Exército, em 2021, Surovikin lutou na guerra na Síria.

Liderou o grupo de tropas russas naquele país desde março de 2017 e, segundo a TASS, assumiu o controlo da maior parte do território, das principais ligações de transportes e campos de petróleo.

Em novembro de 2017, foi nomeado comandante-em-chefe das Forças Aeroespaciais Russas e, portanto, responsável pela destruição aérea de grande parte da cidade síria de Aleppo.

Um mês depois, em dezembro de 2017, Surovikin foi condecorado por Putin: recebeu o título de Herói da Federação Russa “pela coragem e heroísmo demonstrados no cumprimento do dever militar na República Árabe da Síria”.

O currículo do general também inclui a morte de manifestantes pró-democracia em Moscovo em 1991 durante uma tentativa de golpe — na época, foi descrito como “implacável”.

O militar foi preso na época, mas o então presidente russo Boris Yeltsin ordenou a sua libertação, segundo a TASS.

ZAP // Lusa

3 Comments

  1. O mistério continua. Então uns vão para a cadeia, enquanto o mestre Prigozhin anda por aí, até reunindo-se com o Presidente?! E as suas empresas continuam a ter negócios com o Estado russo?! Afinal, quem é que planeou o quê, quando e com o suporte de quem? Acho que nem Shakespeare conseguia imaginar uma peça como esta!

  2. Parece que Putin está refém do que Prigozhin sabe sobre ele. Não há outra explicação para o tratamento de exceção que beneficia Prigozhin.

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