Onde está Carles Puigdemont? É o que pergunta a Catalunha, que está, neste momento, numa “caça ao homem”. O líder independentista catalão regressou esta quinta-feira a Espanha, sete anos depois, discursou e voltou a desaparecer.
Carles Puigdemont voltou a Espanha esta quinta-feira após sete anos no estrangeiro para fugir à justiça.
Este regresso, pré-anunciado pelo independentista catalão, acontece no dia em que o parlamento catalão inicia o plenário de investidura do novo governo regional.
O antigo presidente do governo regional surgiu publicamente nas ruas de Barcelona, poucos minutos antes das 09h00 locais (08h00 em Lisboa), numa concentração em que estavam mais de duas mil pessoas e que foi convocada pelo partido a que pertence, o Juntos pela Catalunha (JxCat).
Puigdemont falou durante alguns minutos aos apoiantes que estavam numa praça nas imediações do parlamento catalão, desceu depois do palco instalado no local e caminhou a seguir alguns metros, rodeado por dirigentes do seu partido e centenas de outras pessoas, que levavam cartazes e bandeiras independentistas.
Eleito deputado nas eleições catalãs de 12 de maio, Puigdemont parecia dirigir-se para a entrada do Parque da Cidadela, onde está localizado o edifício do parlamento catalão. O acesso ao parlamento está blindado e controlado por uma barreira policial desde a madrugada, mas Puigdemont não chegou a este local, onde poderia ser detido.
Catalunha numa caça ao homem
O dirigente separatista desapareceu, aparentemente, entre a multidão de apoiantes e o seu paradeiro é neste momento desconhecido.
De acordo com a RTP, foi acionada uma megaoperação – “Jaula” – com controlo das estradas de saída da Catalunha, para tentar localizar Puigdemont e evitar de novo a sua saída para o estrangeiro.
Imagens transmitidas pelas televisões mostram como foram cortadas diversas estradas, como a autoestrada que liga a Catalunha ao sul de França, com os carros a serem inspecionados pela polícia.
Polícia detido: Terá ajudado Puigdemont
Um elemento da polícia da Catalunha, os Mossos d’Esquadra, foi detido por suspeita de ter ajudado Carles Puigdemont a abandonar o centro de Barcelona sem ser detido, disse esta força de segurança.
Segundo fontes da polícia da Catalunha, os Mossos detiveram um dos seus agentes, que é dono do carro em que a polícia pensa que Puigdemont fugiu do local onde apareceu em público.
Sem direito a amnistia
Nas breves palavras que dirigiu aos apoiantes que o receberam em Barcelona, esta manhã, Puigdemont condenou a “politização da justiça” espanhola, que lhe recusa a amnistia aprovada pelo parlamento de Espanha.
“Não nos interessa estar num país em que as leis de amnistia não amnistiam”, disse Puigdemont, que lamentou a “repressão feroz” do movimento independentista catalão por parte das autoridades espanholas, após a tentativa de autodeterminação de 2017, que protagonizou e na sequência da qual abandonou Espanha, sendo ainda hoje alvo de uma mandado de detenção em território espanhol.
“Vim aqui hoje para lembrar que ainda estamos aqui. E estamos aqui porque não temos o direito de renunciar a um direito que é nosso”, afirmou, antes de insistir em que “todos os povos têm o direito à autodeterminação.”
“O direito de autodeterminação pertence aos povos. Ninguém da política tem o direito de renunciar a um direito que é coletivo, o direito do povo da Catalunha em decidir livremente o seu futuro”, considerou.
Sete anos depois, voltou a fugir
Puigdemont anunciou na quarta-feira que pretendia estar esta quinta-feira na sessão parlamentar convocada para votar a investidura do socialista Salvador Illa como novo presidente do governo regional (conhecido como Generalitat).
Mas o líder separatista sabia que podia ser detido e voltou a fugir.
Num vídeo que havia divulgado nas redes sociais, Puigdemont admitiu que arrisca ser detido, com este regresso a Espanha. No entanto, por estar já em vigor a lei de amnistia para separatistas da região, o poçítico considerou que a sua detenção seria “arbitrária e ilegal”.
O Tribunal Supremo espanhol recusou, num primeiro parecer, aplicar a amnistia a Puigdemont, que apresentou recurso desta decisão e aguarda uma resposta.
O “desafio” do Tribunal Supremo “tem de ter uma resposta e de ser confrontado” em nome da democracia, disse Puigedemont, para justificar o regresso a Espanha.
O Partido Socialista da Catalunha (PSC, estrutura regional do Partido Operário Espanhol, PSOE) foi o mais votado nas últimas eleições catalãs, em que as forças independentistas perderam a maioria absoluta que nos últimos 14 anos garantiu sempre executivos separatistas na região.
Salvador Illa negociou o apoio da independentista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que foi o terceiro partido mais votado, para ser investido presidente da Generalitat.
O outro grande partido independentista, o Juntos pela Catalunha (JxCat, conservador), de Carles Puigdemont, foi o segundo mais votado.
O JxCat condenou a ERC por estar disposta a acabar com a frente separatista catalã e viabilizar um governo “espanholista” para a região.
ZAP // Lusa