Congresso do Livre “não correu mal” mas existe uma sombra dentro do partido: votar no PS, ou votar na “equipa B” do PS?
O líder do Livre, Rui Tavares, foi reeleito para a direcção do partido através de uma lista que conquistou 61% dos votos no XIV Congresso.
O congresso realizou-se na semana passada e “não correu mal” a um partido que tem mostrado uma “inesperada resistência” ao longo dos últimos anos: resistiu à ideia de um partido unipessoal, à confusão com a ex-deputada Joacine Katar Moreira, e à recente polémica nas eleições primárias.
A análise de Bruno Vieira Amaral, na rádio Observador, deixa no entanto um aviso: há um espectro a pairar, muito por causa da irrelevância do Livre. “O receio de que o bom resultado nas legislativas anteriores crie uma expectativa que depois se transforma em desilusão”.
Aliás, durante o congresso foi citado o exemplo do PAN, que parecia crescer claramente quando conseguiu um grupo parlamentar, mas depois recuou e voltou a ter uma só deputada.
Rui Tavares estará a contar com novas eleições legislativas a curto prazo. E aí vai verificar-se se o voto no Livre em Março foi “acidental”.
“Pode ter sido um voto acidental. Um voto por impulso mais do que convicção; um voto de eleitores desiludidos com PS ou PCP”.
Mas há outro aspecto a ter em conta: o Livre está numa fase em que tem uma oportunidade única de ser fundamental para formar Governo. “E nem precisaria de aumentar votos, bastaria o PS aumentar um pouco”.
Rui Tavares tem repetido que está pronto para uma solução à esquerda, que o Livre está pronto para auxiliar o Governo (socialista). Se PS+Livre conseguirem maioria absoluta, haverá Governo. “Mais do que o Livre crescer, interessa é que o PS cresça”.
O PS apostaria mais rapidamente no Livre do que no BE para formar Governo: “O Livre é mais dócil, mais previsível“.
No entanto, Bruno Vieira Amaral vê o outro lado desta disponibilidade: “Esta docilidade, esta mãozinha permanentemente estendida, fazer olhinhos ao PS… é que pode ser o calcanhar de Aquiles do Livre. Há o risco de se pensar que, afinal, o Livre é a equipa B do PS. Porque não se vota logo no PS em vez de se votar no Livre? É este equilíbrio difícil que o partido vai ter de conseguir”.
O partido tem a “consciência de que nem tudo está ganho. Mas a sombra, o receio continuam lá”, finalizou.