/

Ainda não há “necessidade” de criar programa nacional da saúde da mulher

1

Rita Sá Machado, Diretora Geral da Saúde

Directora-Geral da Saúde fala sobre mortalidade, vacinas, farmácias, alarmes, envelhecimento, ou imigração.

Qual é o papel da Direcção-Geral da Saúde (DGS) na sociedade portuguesa?

“É o organismo do Ministério da Saúde que acompanha os portugueses desde que estão no ventre materno até ao envelhecimento. Elaboramos o programa de saúde materna, programa de saúde infantil, programa nacional de vacinação para toda a vida, programas associados a rastreios de visão e audição…”.

A resposta é da Directora-Geral da Saúde, Rita Sá Machado, que admite que mesmo com a pandemia “ainda há um desconhecimento” sobre o que é esta entidade.

No podcast Como anda a nossa saúde?, Rita Sá Machado começou por falar sobre o anunciado excesso de mortalidade no início do último Inverno.

Considera que houve um “cocktail” de diversos factores: gripe, frio mais intenso e encontros mais frequentes entre amigos e familiares, na época de Natal e Ano Novo.

Vacinação

No entanto, lembra que a cobertura vacinal contra a gripe, que já era superior a 60% nessa fase, foi então intensificada.

Ainda nesse contexto, salientou que é preciso “desmistificar” uma análise:
pela primeira vez, as estatísticas incluíram pessoas com mais de 60 anos. As pessoas estavam habituadas a olhar para os números de maiores de 65 anos. Houve aí um “lapso”, avisa.

Menos pessoas vacinaram-se contra a COVID-19 devido à já conhecida “fadiga”.

A polémica inclusão das farmácias comunitárias nas campanhas de vacinação pode ser repetida: “Os portugueses gostaram de ter mais um ponto de contacto com o sistema de saúde. Esperamos poder contar com as farmácias comunitárias no próximo ano”.

Quando há situações de alarme, como a pandemia, a DGS deve realizar uma “aproximação a todos os parceiros, incluindo comunicação social, para desmistificar assuntos. A DGS tem de ser um veículo de informação clara, transparente”, reforça.

E dá o exemplo do sarampo: “O cidadão deve entender que, apesar de estarmos bem posicionados, não podemos achar que a situação está completamente controlada. É preciso manter um nível de alerta, que não precisa de ser elevado”.

Programa para a mulher

A Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde propôs a criação de um programa nacional da saúde da mulher – algo que já existe noutros países.

Ainda não surgiu essa necessidade. Aquilo que estamos a implementar no terreno parece, por enquanto, ainda estar a funcionar”.

“Embora não exista um programa vocacionado para a saúde da mulher, nós temos várias áreas que, se nós as interligássemos formalmente através de um documento, nós tínhamos também um programa nacional para a saúde da mulher”, justifica Rita Sá Machado.

Mas pode ser criado um programa nacional focado na mulher, admite: “Isto não significa que, muito rapidamente, e daqui a algum tempo, não seja necessária essa adaptação”.

A DGS, destaca não olha para a mulher “de um ponto de vista reprodutivo”.

“Dentro da Organização Mundial da Saúde, começa-se não só a falar de programas para a saúde da mulher, mas até de programas para a saúde do homem, porque são também importantes e são áreas de relevo para a nossa sociedade”, continua.

Envelhecimento e imigração

Para a directora, o envelhecimento começa a ser preparado na infância: “O que estamos a fazer hoje com os bebés vai ter impacto ao longo da sua vida. Alguém de 75 anos que faz cinco fármacos para três patologias: vamos conseguir preparar essas patologias – como hipertensão arterial ou diabetes – desde a infância. Uma criança com obesidade infantil terá mais propensão a ter hipertensão ou diabetes em adulta. Temos de fazer esta preparação”.

Rita Sá Machado também defende maiores apostas na organização dos serviços de saúde, ou na saúde mental (isolamento, comunidades).

Em relação ao tema “quente” da imigração, do ponto de vista da saúde pública, o essencial é “compreender as necessidades de saúde do migrante, sobretudo na primeira fase, a de aculturação, que pode ter factores diferentes de origem ou da viagem. Muita atenção a isso”, avisou.

Pode haver um contexto epidemiológico inicial no imigrante mas, após alguns anos, a saúde do imigrante vai “assemelhar-se ao contexto nacional”.

Por fim: Portugal está pronto para uma eventual nova pandemia? “Como bons portugueses, aprendemos muito com o que aconteceu. Mas há algum percurso a fazer. O essencial é o foco na preparação e resposta a potenciais emergências de saúde pública”, respondeu.

ZAP //

1 Comment

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.