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Por que é que tanta gente está a morrer em Portugal?

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Já não morria tanta gente desde a pandemia — e a gripe A não é a única culpada. Adesão às vacinas está em baixa e falhas no SNS potenciam dificuldades. “Próximas duas semanas vão ser fundamentais”.

A Direção-Geral da Saúde (DGS) trouxe esta quinta-feira más notícias para Portugal. O excesso de mortalidade vai continuar nas faixas etárias a partir dos 45 anos.

“Iremos manter um excesso de mortalidade nos 65 mais e também nos 45-64 anos”, diz esta quinta-feira à Renascença a diretora-geral da Saúde, Rita Sá Machado.

Os últimos dias têm lembrado os tempos da pandemia covid-19. Desde a véspera de Natal, contabilizaram-se mais 1002 mortes — mais de 21% — acima do esperado, conta à Renascença o investigador da Nova-SBE, José Miguel Diniz. O dia 2 de janeiro foi o mais mortal, com 550 óbitos.

São números que ultrapassam os valores dos tempos de conclusão da pandemia. Seria preciso juntar os meses de dezembro de 2022 e janeiro e fevereiro de 2023 — em que se registou um excesso de 1110 mortes — para alcançar o número de mortes atual.

Só entre a última semana de 2023 e a primeira de 2024, foram registadas mais de sete mil mortes. Excluindo os anos da pandemia, este é o janeiro mais mortífero em oito anos.

Portugal é, entre mais de 20 países com a classificação mais alta no excesso de mortalidade, o único com “excesso muito elevado”. Situação é “preocupante“, confessa ao Diário de Notícias o epidemiologista do Instituto de Saúde Pública do Porto, Milton Severo.

Mas afinal o que justifica este excesso de mortalidade no país?

Mortalidade jovem aumenta

A mortalidade em grupos etários mais jovens preocupa cada vez mais, mas tem uma explicação.

“É importante olharmos ao facto de estarmos, e de termos tido, um período de frio extremo e extenso“, sublinha a diretora, que alerta também para a atividade gripal.

“Não é pouco relevante olharmos para o subtipo do vírus da gripe que está em circulação, que é o subtipo H1. Podemos ter maior número de infeções naquilo que são as faixas etárias mais jovens e também alguma doença grave nos mais jovens. Isto é uma análise ainda preliminar, sendo que a análise está a ser feita e será também feita mais no final da época gripal”, diz.

Gripe A. Imunidade do grupo mais baixa

A gripe A é uma das grandes responsáveis pelo surto de mortalidade.

Com 1372 novos casos positivos, a estirpe de fácil contágio é muito severa para os grupos mais vulneráveis, daí a importância da vacinação.

Verifica-se “alguma baixa da imunidade de grupo”, que o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, num relatório de dezembro, justifica com a “aplicação generalizada de medidas não farmacológicas durante a pandemia de covid-19”, avisa o antigo presidente do colégio de medicina geral e familiar da Ordem dos Médicos e atual professor e investigador da Universidade do Porto, Paulo Santos.

O frio é muitas vezes o principal suspeito, mas o culpado é outro: a humidade.

O frio “apresenta-se como um fator que não parece ser dos principais responsáveis. No entanto, por outro lado, a humidade e mais especificamente, a humidade mínima relativa este ano apresentou valores marcadamente mais elevados do assistimos no ano passado. O ano passado estaria entre os 55% e os 70%, na maioria do país. Atualmente temos valores entre 80% e os 100%”, explica o especialista.

Vacinação sem adesão

Com menos de 63% da população acima dos 60 anos vacinada contra a gripe, Rita Sá Machado lembra: ” a campanha de vacinação ainda não acabou. Diria que as próximas duas semanas vão ser as semanas fundamentais para que a vacinação ocorra”.

A DGS apela à população que se vacine, tanto contra a gripe sazonal como para a covid-19.

“É tão importante que as pessoas se vacinem. Tal como acontecia nos tempos de pandemia e antes disso e agora ainda mais”, reforça.

A vacinação também poderá ser alargada a faixas etárias mais jovens.

“Existe essa opção”, confessa, mas a DGS quer antes garantir que não há risco.

Falhas no SNS. Tempo de espera aumenta 60%

Numa altura em que a afluência às urgências é elevada, “o reforço dos serviços locais de saúde pública tem de ser feito”, avisa Rita Sá Machado.

“As coisas não foram sendo feitas em tempo certo” e houve uma “incapacidade da tutela em fazer a reorganização destes cuidados de saúde”, diz Paulo Santos.

Embora a afluência de casos menos urgentes tenha vindo a ser menor do que em anos anteriores, o tempo médio de espera entre a triagem e a primeira consulta médica aumentou bastante.

Considerando a totalidade dos episódios de urgência, o valor ultrapassa os 157 minutos, mais 60% que no ano passado.

Um dos principais problemas que continua por resolver e que tem grande impacto na qualidade do serviço é a falta de profissionais.

“[Esta é] a pior altura do ano para se promover uma reorganização dos serviços de saúde.”, confessa Paulo Santos. “Se não tivermos pessoal, o modelo não funciona. E, de facto, o Ministério da Saúde tem demonstrado uma grande dificuldade em conseguir reter as pessoas. É aqui que as coisas estão de facto a falhar, o que faz com que as pessoas se estejam a afastar do Serviço Nacional de Saúde”, lamenta.

“A crise no SNS não ajudou a esta mortalidade em excesso. Se tivesses tido os recursos disponíveis podíamos ter tido outro tipo de resposta, mas considero que o principal factor tem a ver com atividade epidemiológica da gripe e com a adesão à vacinação. Desde novembro que andávamos com dificuldades de atendimento aos utentes e daí não veio nenhuma mortalidade em excesso”, afirma Gustavo Tato Borges.

Pode agendar a vacinação online, através da plataforma disponível para o efeito. Se a sua farmácia não tiver disponível esta opção, poderá agendar diretamente ao balcão ou por telefone.

ZAP //

11 Comments

  1. Eu não sei oque se passa comigo, mas ainda não morri nenhuma vez.
    Pelo número de mortos, há pessoal que já deve ter morrido umas duas ou três vezes.
    Tenho que ir ao médico para ver o que se passa.

  2. Estes tipos parecem todos comerciais da indústria. É impressionante a crença instalada.
    A narrativa aponta sempre no mesmo sentido sem sequer haver justificação para tal.

  3. Ohhhh….José Caio , que pertinente a tua dúvida !…………. Tem Razão , vá consultar um Médico , Psicólogo ou mesmo Psiquiatra de preferência , e terá certamente uma resposta concreta !

  4. Mais seriamente ; …Com falta de acesso a Cuidados Primários nos Centros de Saúde de portas abertas mas com uma vergonhosa falta de Profissionais , Médicos (as) , Enfermeiros (as) , os que dependem exclusivamente do SNS por razões económicas evidentes , ficam a margem de um atendimento profilático eficaz , que evitaria inúmeras mortes consecutivas a diversas afeções e não só dos bicharocos virais Influenza . Algo não tratado ou mal tratado , só se pode complicar e vir a ser letal ! . A falta de acompanhamento preventivo Médico , leva e causa , digamos , uma inadmissível “seleção Natural” na População em Portugal !

  5. Temos um SNS também a morrer. Devido à sua estrutura pesada e completamente à deriva. E há outro fator importante: o complexo ideológico da esquerdalhada portuguesa que quer apenas o SNS nas mãos do Estado, quando para sobreviver e tornar-se capaz e eficaz tem que ter uma simbiose muito urgente com os meios de saúde privada. Só assim podemos salvar o SNS e mudar radicalmente a qualidade da saúde em Portugal.

  6. Aquilo que inventou o diretor do SNS (Dr. Araújo) não passa de mais do mesmo. É apenas uma recauchutagem no SNS. Esta gente devia ser toda presa. São uns principiantes. E o povo a sofrer por causa destes bandalhos. Em 10 de março botem-nos lá outra vez.

  7. É porque há cada vez mais pessoas com seguros de saúde privados, e porque há cada vez mais hospitais privados… ou será do guaraná? Nos USA onde impera o privado morrem aos magotes ou quando não morrem endividam-se e vendem a casa para pagar uma operação, é o mercado a Fuckcionar, e a cumprir a sua Fuckção…

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