Almunia, J., et al Oceans (2025) CC BY 4.0

E se lhe disséssemos que as orcas têm um lado romântico? Acredite que é verdade. Apesar de terem fama de caçar estrategicamente mamíferos marinhos e, por vezes, afundarem iates no Mediterrâneo, foi agora descoberto este lado destes animais.
Depois de os drones terem recentemente mostrado que as orcas gostam de dar massagens com algas umas às outras, uma nova investigação, publicada na revista Oceans, revelou que também gostam de se beijar… com língua.
Até agora, este comportamento, conhecido cientificamente como “tongue-nibbling” (roer de línguas), só tinha sido observado em orcas sob cuidados humanos. Esta limitação levou os investigadores a questionarem se o comportamento seria natural nas orcas selvagens ou se seria um produto do ambiente de cativeiro.
No entanto, nas águas dos fiordes de Kvænangen, na Noruega, foram agora registadas duas orcas selvagens (Orcinus orca) a darem-se um beijo atrevido.
Segundo o IFL Science, a interação foi registada por um grupo de cientistas durante uma sessão de snorkelling, e mostra aquilo que o novo artigo descreve como “episódios repetidos de contacto oral gentil, frente a frente”. Os mergulhadores estavam posicionados na horizontal dentro de água para minimizar o risco de perturbar as orcas.
O comportamento ocorreu entre duas orcas adultas e foi filmado com uma câmara GoPro. A interação teve uma duração total de 1 minuto e 49 segundos, composta por três episódios de beijos com 10, 26 e 18 segundos, respetivamente.
Após o último, as orcas separaram-se e nadaram em direções opostas. Este comportamento é semelhante ao que foi observado no Loro Parque, um zoo na ilha de Tenerife, em 2013. Nesse caso, “um dos indivíduos projetava a língua enquanto o outro fazia movimentos suaves de mordiscar”, explicam os autores.
Conversas com os tratadores do parque sugerem que o comportamento de roer línguas foi observado em quatro orcas diferentes. O comportamento também já foi registado em baleias-beluga, onde se acredita que serve para reforçar os laços sociais e é frequentemente observado em juvenis.
Pode ainda ser um comportamento que contribui para o desenvolvimento de competências sociais e até motoras nos cetáceos.
“O ‘tongue-nibbling’ é extremamente raro”, disse Javier Almunia, autor do estudo. “Os cuidadores de orcas em várias instalações conhecem o comportamento, mas a sua prevalência é extremamente baixa — pode surgir e depois não voltar a ser observado durante vários anos”.
O facto de o comportamento ter sido observado tanto em contextos zoológicos como em estado selvagem deixa os investigadores mais confiantes de que este tipo de beijo faz parte do repertório comportamental natural das orcas.
O comportamento foi mencionado pela primeira vez em 1978 e só agora foi registado em imagens comparáveis no meio selvagem, o que demonstra a dificuldade de estudar comportamentos subaquáticos nestes mamíferos e como o investimento em tecnologias de monitorização subaquática poderá ser benéfico para conhecer melhor o comportamento das orcas.