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Ministro da Educação promete mais testes no regresso às aulas. Professores alertam para incumprimento das regras de segurança

Hugo Delgado / Lusa

O regresso dos alunos do secundário é marcado pela testagem de 300 mil estudantes, professores e funcionários, depois da vacinação de quase 200 mil trabalhadores escolares num “fim de semana para ganhar coragem”, anunciou esta segunda-feira o ministro.

“Foi um fim de semana para ganhar coragem. Tivemos um conjunto muito significativo de quase 200 mil docentes e não docentes a serem vacinados” contra a covid-19, sublinhou o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, no final da visita à Escola Secundária Padre António Vieira, em Lisboa.

A Padre António Vieira foi a escola escolhida pelo ministro da Educação e pelo Presidente da República para marcar o fim do ensino à distância e o regresso dos mais de 300 mil alunos do ensino secundário às salas de aula, uma das medidas previstas para a terceira fase do plano de desconfinamento.

Mais de cinco mil estabelecimentos de ensino públicos e mais de mil privados voltaram a abrir os portões para deixar entrar todos os seus alunos.

Depois do regresso gradual dos mais novos, esta segunda-feira foi a vez dos estudantes do secundário desligarem os ecrãs e regressarem à escola, que deixaram em janeiro devido ao agravamento da pandemia de covid-19.

Na Padre António Vieira, para o primeiro dia de aulas presenciais estavam marcados cerca de 600 testes de despistagem à covid-19, segundo números avançados pela diretora do agrupamento, Dulce Chagas.

Uma ação que se repete um pouco por todo o país. Segundo o ministro, arrancou mais uma fase de testes que irá englobar 300 mil alunos, professores e funcionários, para que este regresso seja feito “ainda com mais segurança”.

Com a vacinação e testagem “aumentam as camadas de proteção” que já existem através do uso das máscaras e do álcool gel, sublinhou Tiago Brandão Rodrigues.

O receio de contágio foi precisamente a razão apontada por uma das poucas alunas que esta segunda-feira disse preferir manter-se em ensino à distância. Numa turma com 24 alunos, cinco admitiram que prefeririam continuar em casa, quando questionados pelo Presidente da República, que em conjunto com o ministro visitou a mesma escola.

“É melhor ficar em casa, estamos mais protegidas”, defendeu a estudante do 10.º ano, sendo automaticamente contrariada por uma colega que admitiu que “não se consegue aprender tão bem em casa, porque a internet falha e tudo é mais difícil”.

Neste debate, Marcelo Rebelo de Sousa e Tiago Brandão Rodrigues acrescentaram algumas razões para a importância da reabertura das escolas.

Além de garantir a qualidade das aprendizagens, também significa para muitos alunos a única oportunidade de ter uma alimentação saudável e de praticar desporto, que são duas medidas essenciais no combate à obesidade. “Daqui a 20 anos vão perceber que isto faz toda a diferença”, prometeu o ministro.

Para demonstrar que as escolas são espaços seguros, Tiago Brandão Rodrigues voltou a lembrar os resultados do programa de despistagem à covid-19, iniciado em janeiro e ainda a decorrer: “Os índices de positividade são de 0,1 a 0,15%, o que é baixíssimo”.

Além disso, acrescentou o Presidente da República falando para uma turma do 10.º ano: “Os confinamentos são uma chatice. São uma paragem”.

Já em declarações aos jornalistas, o Presidente da República sublinhou a importância da educação para o futuro do país: “Porque é que a abertura das escolas é o primeiro passo (nos planos de desconfinamento)? Porque tudo começa na Educação”.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, o regresso dos alunos dos ensinos secundário e superior são uma espécie de recomeço. “Hoje é de novo Primavera”, disse, lembrando que também foi “Primavera” quando a 15 de março regressaram às escolas os mais pequenos (desde as creches ao 1.º ciclo) e depois, a 5 de abril, os jovens do 2.º e 3.º ciclo.

Esta segunda-feira, mais de cinco mil escolas públicas e mais de mil estabelecimentos privados voltaram ao modelo de ensino presencial com todos os seus alunos.

Professores dos 2.º e 3.º ciclos alertam para incumprimento das regras de segurança

No entanto, e apesar de todas as medidas implementadas, a maioria dos professores dos 2.º e 3.º ciclos, que retomaram o ensino presencial há duas semanas, alertam para o incumprimento, por parte dos alunos, de algumas regras para conter a Covid-19 e 38% dizem sentir-se inseguros.

Essas são algumas das conclusões de um inquérito promovido pela Federação Nacional da Educação (FNE) na semana passada, que envolveu 1.132 trabalhadores, 995 dos quais docentes, das escolas dos 2.º e 3º ciclos que reabriram no dia 5 de abril.

De acordo com os resultados divulgados esta segunda-feira, apesar de a maioria (72%) considerar que as escolas se estão a organizar para assegurar que são locais seguros, 64% dos inquiridos relatou que não há cumprimento das regras de segurança por parte dos alunos.

Em concreto, quase todos os professores (93%) referem o distanciamento físico, além do uso de máscara fora das salas de aula (50%) e da higienização das mãos (40%).

Comparativamente ao anterior inquérito promovido pela FNE no final de março, aquando da reabertura do pré-escolar e do 1.º ciclo, os professores relatam agora um maior incumprimento das regras entre os alunos mais velhos, referido por apenas 37% dos primeiros docentes a voltar ao regime presencial.

Esse aumento reflete-se, por outro lado, no sentimento de insegurança no trabalho com os alunos.

“Na consulta inicial feita aos educadores de infância e professores de 1.º ciclo, este sentimento ficava nos 26,9% e agora, com os docentes do 2.º e 3.º ciclos, sobe para 37,7%”, refere a estrutura sindical em comunicado.

Na sequência destes resultados, a FNE sublinha a necessidade de promover o “cumprimento escrupuloso de todas as regras” e defende uma intervenção reforçada no âmbito do programa Escola Segura “para que as regras de segurança sejam cumpridas por todos, nomeadamente nos espaços exteriores às escolas”.

No mesmo inquérito, a FNE procurou perceber também quais são as principais preocupações dos trabalhadores e saúde mental e o bem-estar são a principal preocupação referida.

A este respeito, enquanto 55% dos docentes não registaram alterações no seu bem-estar, 25% disse ter melhorado e 20% sente, por outro lado, que o seu bem-estar piorou.

Já nos alunos, cerca de metade dos professores notaram melhorias na sua saúde mental com o regresso à escola, mas 14% regista que piorou.

Além da saúde mental, os professores também se manifestaram preocupados com a saúde e segurança no local de trabalho, referida por 53% dos inquiridos, e com o excesso de trabalho e o efeito da pandemia da covid-19 e do ensino a distância nas aprendizagens.

Os estabelecimentos de ensino dos 2.º e 3.º ciclos reabriram em 5 de abril, conforme previsto no plano de desconfinamento do Governo, depois de mais de dois meses encerrados devido ao agravamento da pandemia da Covid-19 em Portugal no início do ano.

O desconfinamento das escolas já tinha arrancado três semanas antes, com o pré-escolar e 1.º ciclo, e esta segunda-feira juntaram-se também as escolas secundárias e o ensino superior.

A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 3.020.765 mortos no mundo, resultantes de mais de 141,2 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 16.946 pessoas dos 831.221 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

ZAP // Lusa

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