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Professora acusa reitor da UTAD de violar emails e alterar notas de “certos alunos”

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro / Facebook

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

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Onda de críticas continua contra o reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Emídio Gomes, que admitiu que vigiava os professores. Agora, uma docente da UTAD acusa-o de violar emails e de alterar notas de alunos.

“Sabemos que os nossos emails são vistos” e que “são abertos processos por nos recusarmos a mudar notas de certos alunos“, denuncia a professora da UTAD Mila Simões de Abreu numa carta aberta publicada pelo Correio da Manhã (CM).

A docente que é arqueóloga refere ainda que “os métodos de avaliação de unidades curriculares são alterados pela reitoria” e salienta que quem recusar cumprir as orientações do reitor é alvo de “processos disciplinares” e tem o “contrato terminado”.

“Os docentes são intimidados e insultados em reuniões a sós” com o reitor, denuncia ainda a professora. Alguns, “não aguentando a pressão, são obrigados a pedir baixas médicas“, acrescenta, citada pelo CM.

O professor da UTAD António Crespi que integra o Sindicato Nacional do Ensino Superior, confirma as alegações da professora, revelando ao CM que “o reitor viola os direitos, liberdades e garantias consagrados na Constituição”.

“É recordista de processos a docentes”, diz, sublinhando que ele próprio foi “insultado e alvo de processo disciplinar”.

Reitor da UTAD confirmou que vigia os professores

Estas declarações surgem depois de o reitor da UTAD ter dito que sabe “tudo sobre os professores” da instituição através de reuniões com “confidential agrément” (acordo de confidencialidade) que realiza com “núcleos de curso”.

Sei exactamente o que cada um deles faz, como está – quando faltam às aulas, quando fazem batota com as aulas, quando não põem lá os pés, sei isto tudo de cada um”, afirmou na conferência inaugural do Inov-Norte, Centro de Excelência de Inovação Pedagógica na Região Norte, que decorreu no passado dia 9 de Outubro.

A propósito dessas palavras, os professores universitários André Carmo e Pedro Oliveira que integram Sindicatos desta classe profissional, escreveram um artigo de opinião no jornal Público intitulado “As vigilâncias do senhor reitor”, onde acusam Emídio Gomes de ser “um polícia dos professores”.

Os dois docentes acusam ainda Emídio Gomes de “intimidar os estudantes para denunciarem os professores“, salientando que pretende “instituir a delação como norma, legitimar a denúncia anónima” e “torpedear o funcionamento democrático e transparente das instituições de Ensino Superior”.

Carmo e Oliveira constatam que o reitor vê o seu papel como “Big Brother”, ou como “Grande Inquisidor”, e que o seu comportamento “indicia um estatuto de impunidade que tudo permite”.

Assim, consideram que devia ser dispensado “da maçada de gerir a universidade” e voltar para o “baú onde tem trabalho para “40 ou 50 papers””, como terá dito o reitor.

Sindicatos denunciam medo e intimidação

O Sindicato Nacional do Ensino Superior (Snesup) alerta também para um “clima de medo” que se vive na UTAD, salientando que recebe um “elevado número de pedidos de apoio jurídico de docentes e investigadores” da instituição.

Em comunicado, o Snesup pede, assim, ao Conselho Geral da UTAD e ao Ministério da Educação que “repudiem este tipo de práticas não conformes com o estado de direito democrático”.

O Sindicato dos Professores do Norte (SPN) também criticou as palavras do reitor, considerando que “ilustram como práticas de incentivo à intriga, persecução e hipervigilância se têm propagado em muitas instituições do Ensino Superior”.

Também em comunicado, o SPN refere que o discurso de Emídio Gomes é “absolutamente inaceitável e incompatível com as funções que desempenha”, e “denuncia publicamente o seu carácter persecutório e instigador de um ambiente de intimidação“.

Reagindo a estas acusações em declarações ao CM, o reitor sublinha que não têm “qualquer fundamento” e salienta que as suas afirmações foram “retiradas do contexto da resposta à pergunta sobre o papel dos estudantes na avaliação dos docentes e a forma como estes devem ser avaliados”.

ZAP // Lusa

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