Samora Correia também passou a ser um novo foco por causa do aeroporto. Os terrenos vão ser muito procurados.
O setor imobiliário registou “um aumento substancial” da procura de imóveis em Alcochete e Samora Correia poucas horas depois de o Governo ter anunciado a construção do novo aeroporto, segundo empresas imobiliárias nos concelhos de Alcochete e Benavente.
“Posso dizer que os nossos telefones ainda não pararam de tocar. Nós temos aqui clientes com terrenos a que nós tínhamos dado um determinado valor e eles já querem pôr o dobro [do preço] em cima deles”, disse à agência Lusa Cristina Peres, da Imobiliária ERA Samora Correia, no concelho de Benavente, no distrito de Santarém.
“Os terrenos vão ser muito procurados para a construção de novas habitações, mas também para todos os serviços que são necessários junto de um grande aeroporto. Isto vai ser brutal aqui para esta zona. Era uma zona pacata, vai deixar de ser”, acrescentou.
Segundo Cristina Peres, um apartamento em Samora Correia já custa atualmente cerca de 200 mil euros e uma moradia mais de 400 mil, mas os preços “ainda devem subir mais, porque Samora Correia está a 20 minutos de Lisboa e vai ficar a 10 minutos do futuro aeroporto”.
O Governo anunciou na terça-feira a construção da nova infraestrutura – para substituir o Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa – no Campo de Tiro da Força Aérea, também conhecido como Campo de Tiro de Alcochete (pela proximidade deste núcleo urbano) e que fica maioritariamente localizado na freguesia de Samora Correia, tendo ainda uma pequena parte na freguesia de Canha, já no município do Montijo (distrito de Setúbal).
Nos concelhos do Montijo e de Alcochete, também no distrito de Setúbal, os terrenos e as casas já estão a preços muito elevados para a maioria dos cidadãos, mas os operadores do setor acreditam que vai haver um aumento da procura nos próximos tempos.
“Aquilo que potencia efetivamente a construção e a compra e venda de imóveis nesta região é a sua localização em relação a Setúbal e a Lisboa. O aeroporto tem sido sempre uma questão paralela, até porque não é assim tão bem-vindo para algumas pessoas, que acham que pode ser mais prejudicial do que trazer algo de positivo”, afirmou Cláudio Oliveira, da Imobiliária Novo Impacto, que trabalha no setor há mais de 12 anos.
“Claro que para os construtores e para os proprietários de terrenos a expectativa é que a procura ainda aumente mais, mas a realidade é que nos últimos anos a oferta tem sido inferior à procura”, referiu, assegurando que o português médio já tem dificuldade em adquirir uma habitação e que o “principal comprador de casas na região já é o mercado internacional”.
No concelho de Alcochete, onde um apartamento novo ou uma moradia a estrear podem custar mais umas largas dezenas de milhares de euros, comparando com o Montijo ou Samora Correia, Ana Nascimento, da Imobiliária Century21 Nações, acredita que os imóveis já estão muito caros e que o anúncio do novo aeroporto não terá um impacto muito significativo nos preços.
“Um T2 novo, a estrear, em Alcochete, não o consegue comprar por menos de 450.000 euros. Uma moradia em banda pode andar à volta dos 550.000 euros, moradias isoladas à volta de 1,2 milhões de euros”, indicou.
Apesar dos preços elevados, Ana Nascimento contou que na quarta-feira, um dia depois do anúncio do novo aeroporto, “algumas grandes construtoras já procuravam terrenos na região, para verem o que poderão construir”.
O vice-presidente da Associação dos Mediadores do Imobiliário de Portugal (ASMIP), Francisco Bacelar, não tem dúvidas de que a construção do novo aeroporto e o comboio de alta velocidade “vão aportar muitos interesses, na zona envolvente e nas vias de acesso, que podem ajudar a dinamizar o imobiliário”.
“Será um novo centro imobiliário, como foi há 20 e poucos anos a Expo98. À volta do aeroporto haverá um novo centro imobiliário, uma nova cidade que se perspetiva para as próximas décadas”, acrescentou, advertindo que “podem surgir entraves que atrasem o prazo previsto pelo Governo para a construção do novo aeroporto”.
Segundo o Governo, liderado pelo social-democrata Luís Montenegro, a futura infraestrutura, que terá a denominação Aeroporto Luís de Camões, deverá estar concluída dentro de 10 anos.
A escolha do Campo de Tiro de Alcochete coincide com a recomendação do relatório final da Comissão Técnica Independente responsável pela avaliação ambiental estratégica do novo aeroporto.
// Lusa