Presidente da TAP: “Governo passou a excesso de controlo. E perdi a paciência com Christine”

António Cotrim / LUSA

Manuel Beja, presidente do Conselho de Administração a TAP

Presidente do Conselho de Administração criticou o Governo, a CEO e analisou o caso do voo do presidente da República. CMVM abre processo.

O processo TAP teve novo capítulo nesta terça-feira, desta vez com a presença do presidente do Conselho de Administração na comissão parlamentar de inquérito.

Manuel Beja disse que o Governo esteve “muito bem” a gerir a empresa durante o período complicado da pandemia.

“Mas perdeu o norte ao longo do caminho. O princípio da não interferência foi sendo progressivamente substituído pela prática do controlo“, afirmou Manuel Beja, que disse mesmo que houve um “excesso de controlo” por parte do Governo na TAP.

Os planos do Ministério das Infraestruturas foram muitas vezes “desacelerados” devido ao “imobilismo” do Ministério das Finanças. E assim a gestão e a agilidade da TAP não eram saudáveis.

Ainda sobre o Ministério das Infraestruturas, neste caso sobre o ex-ministro Pedro Nuno Santos, o presidente contou aos deputados que tentou contactar o então ministro em seis ocasiões. Sempre sem sucesso.

Também pediu para se encontrar com Fernando Medina, ministro das Finanças. E conseguiu – oito meses depois do primeiro pedido.

Alexandra Reis e Christine Oumières-Widener, presidente-executiva, estavam a ter uma “tensão crescente” e divergências. Manuel Beja tentou que as duas se entendessem, tentou informar o Governo sobre isso, mas também não conseguiu.

“Acreditei na altura – e continuo a acreditar – que a saída de Alexandra Reis poderia e deveria ter sido evitada”, comentou.

O chairman da TAP garante que não participou nas negociações para a saída de Alexandra Reis. Assinou o acordo de saída, mas estava contra essa decisão. Beja assegurou que não sabia que esse processo poderia ser ilegal.

Christine Ourmières-Widener foi alvo de críticas: “Liderança pouco servidora e com falta de bom senso e razoabilidade”.

Perdi a paciência”, assumiu o presidente, quando recordou a conversa que teve com Christine sobre o seu marido ter utilizado um motorista da TAP.

O pedido de alteração de voo de Marcelo Rebelo de Sousa também foi abordado. Manuel Beja acredita que não foi o presidente da República a realizar esse pedido. E, nesse assunto, esteve sempre “alinhado” com Christine Ourmières-Widener.

O ainda presidente do conselho de administração da TAP contou aos deputados que recebia diversos e-mails de diplomatas para falar sobre pedidos de rotas e esse tipo de questões. “Acho isso completamente legítimo. Este caso é ilegítimo”, descreveu.

CMVM abre processo

O presidente do Conselho de Administrador da TAP, Manuel Beja, adiantou esta terça-feira que a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) abriu um processo contra a empresa, devido à comunicação sobre a saída da ex-administradora Alexandra Reis.

“Obtive informação cerca de uma hora antes desta audição que a CMVM terá aberto um processo contra a TAP”, respondeu Manuel Beja ao deputado do PSD Hugo Carneiro, na comissão de inquérito à TAP.

O ainda “chairman” da companhia aérea disse não conhecer ainda o teor da notificação, porque a recebeu quando estava a caminho da Assembleia da República.

Em causa está o comunicado da TAP à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) aquando da saída de Alexandra Reis da empresa, em que a companhia dava conta de que a administradora tinha renunciado ao cargo para abraçar novos desafios.

Após ser conhecida a indemnização de 500.000 euros recebida por Alexandra Reis, a ex-administradora explicou, em nota enviada à Lusa, que a saída tinha partido de uma iniciativa da TAP.

Mais tarde, a empresa enviou nova comunicação à CMVM a confirmar que a saída tinha ocorrido por sua iniciativa.

Manuel Beja sublinhou ainda que o teor do primeiro comunicado foi negociado pelos advogados de ambas as partes.

ZAP // Lusa

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