Precisa de estar online para ler esta notícia. E para obter prazer?

Um estudo divulgado esta terça-feira alerta para o uso descontrolado da internet para fins lúdicos. As redes sociais, por exemplo, estimulam um comportamento de necessidade de resposta imediata e de verificação constante das mensagens, que se pode tornar patológico.

Uma vez que o ZAP não tem formato impresso, precisa mesmo de estar online para ler esta notícia. Também poderá precisar de estar online para ir ao email do trabalho, fazer pagamentos, bem como para comunicar com amigos e familiares. E para obter prazer? Também precisa de estar online?

O projeto de investigação “Scroll, Logo Existo”, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, em parceria com o Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências, inquiriu 1.704 residentes em todo o país, maiores de 16 anos, com o objetivo de estudar as práticas de uso dos ecrãs e os comportamentos aditivos, tendo a fase de recolha e tratamento de dados decorrido entre setembro de 2022 e outubro de 2023.

Em declarações à rádio Antena 1, o líder da investigação, Joaquim Fialho, explicou como avaliar se somos ou não dependentes dos ecrãs: “Se tivermos ou não a capacidade de desligar no momento certo, se tivermos ou não a capacidade de viver sem o telemóvel, ou se conseguimos ou não ficar horas sem estar online. A partir do momento em que saibamos que conseguimos controlar estes três elementos, não temos um problema de dependência de ecrãs“.

“Quando é que devem soar os alertas? A partir do momento em que precisamos de estar online para obter prazer“, explicou Joaquim Fialho.

Prazer ≠ Necessidade

Quase 90% dos inquiridos apontaram o WhatsApp como a rede social mais utilizada. “Hoje, verificamos que grupos de amigos, colegas de trabalho, grupos de estudantes e outras afinidades, utilizam esta aplicação como forma de interação instantânea”, referem os investigadores.

Adiantam que, este facto, associado a outras redes sociais de grande penetração nos jovens e adultos, como o Facebook (79,4%), Instagram (62,9%) e o YouTube (60,9%), entre outras, “contribuem para um padrão de comportamento aditivo que resulta da necessidade de reagir aos estímulos constantes (notificações) e a uma cultura instalada de resposta na hora, facto que contribui para a construção de uma lógica de interação de dependência de ecrãs”.

“Se por um lado é cada vez mais difícil desenvolver atividades e interações sem a mediação digital, por outro lado, é cada vez mais complexo distinguir a fronteira entre a utilização ‘normal’ e a utilização ‘patológica’”, adverte o estudo que é apresentado esta terça-feira em Lisboa.

Os dados obtidos permitem identificar “uma prática híbrida de utilização da internet, fortemente continua ao longo das rotinas diárias, confundindo-se o espaço de utilização entre os compromissos formais (escola ou trabalho) e os espaços de lazer”.

O estudo sublinha que a complexidade desta fronteira e a elevada preocupação com o que se passa online, “constitui um quadro potenciador de dependência online, visível e transversal em todos os participantes”.

Adianta que o uso compulsivo possibilitado pela internet e pelas redes sociais, cuja porta de acesso são smartphones, tablets, computadores, constituem uma conjugação de elementos potenciadores da dependência digital, assim como os planos de tarifário com dados ilimitados ou facilidade de pontos de WiFi, também contribuem para potenciar e facilitar o acesso.

Para que serve a internet?

Segundo os dados, a principal finalidade de utilização da internet é para acesso ao correio eletrónico (90,7%) e atividade profissional (84,7%).

A utilização da internet para acesso às redes sociais aparece em terceiro lugar (72,4%), ficando à frente da finalidade de estudo ou pesquisa (69,5%), sendo o valor inferior quando a finalidade está relacionada com informações sobre viagens (49,9%).

No que se refere ao acesso a serviços, compras e operações financeiras, 65,8% respondeu aceder a serviços públicos, 62% para comprar produtos e serviços online e 53,6% para utilizar serviços de home Banking.

O lazer e a diversão são entendidos com uma das principais finalidades para 58,5% dos participantes, 54,2% utiliza a internet para fazer chamadas, 51% para ver TV, filmes, vídeos e ouvir música e 44,7% tem como finalidade ler jornais e revistas.

Com menor preferência de utilização da internet, encontra-se a utilização para jogos online (15,7%) ou para encontros amorosos (1,8%).

A investigação aponta também para uma associação entre a idade e situação profissional e a relação de dependência dos ecrãs, concluindo que os estudantes têm uma maior exposição aos ecrãs para fins lúdicos, tornando-os mais propensos para a dependência.

ZAP // Lusa

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