Ana Sofia Silva emigrou, como milhares de jovens portugueses qualificados, para conseguir trabalhar na área em que estudou, de restauro de instrumentos musicais antigos, e trabalha hoje num dos museus mais importantes dos Estados Unidos.
“Não me restou alternativa senão ir para fora tentar a minha sorte”, relatou à agência Lusa a jovem que trabalha atualmente no Musical Instrument Museum, em Phoenix, no Estado de Arizona, museu norte-americano que está entre os cinco mais importantes nesta área.
Foi uma importante conquista profissional para Ana Sofia Silva, mas pagou um preço elevado: emocional, pela distância da família e dos amigos, e financeiro, porque está a pagar dois empréstimos ao banco para conseguir esta mudança de vida.
A jovem é mestre em música com especialização em História dos Instrumentos Musicais, estudou também ciências musicais e engenharia florestal para compreender a anatomia e biodegradação da madeira.
É ainda licenciada em Conservação e Restauro de Bens Culturais pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, mas a música está presente na vida de Ana Sofia desde os 11 anos, através das sociedades filarmónicas do Seixal, onde cresceu.
“Foi inteiramente uma decisão minha sair de Portugal. Há algum tempo que eu andava a querer mudar a minha situação profissional porque, embora eu trabalhasse com instrumentos musicais numa empresa, em Lisboa, estava muito distante da componente museológica de conservação e restauro para a qual eu tinha estudado tanto tempo”, relatou à Lusa numa entrevista por correio eletrónico.
Durante três anos, Ana Sofia trabalhou em reparação de instrumentos musicais de sopro na empresa de Domingos Caeiro.
A oportunidade de realizar um estágio no Metropolitan, em Nova Iorque, surgiu a partir de um contacto de uma amiga, Susana Caldeira, que já trabalhava naquele museu como conservadora de instrumentos musicais.
O estágio no Metropolitan era uma oportunidade aliciante: Ajudar num projeto de renovação das galerias, mas desde o início soube que não teria qualquer tipo de remuneração ou ajuda financeira.
“Por isso tive de pedir um empréstimo ao banco para garantir o estágio. Tivesse o banco recusado, eu não teria ido”, contou.
Ana Sofia Silva lamenta que em Portugal não existam oportunidades de trabalho na área em que estudou.
“Em parte, culpo a falta geral de financiamento às artes e à cultura. E se já é difícil para determinados profissionais de conservação e restauro nas áreas mais conhecidas, como pintura ou escultura, para obterem trabalho e posições de quadro nos museus portugueses, nas áreas mais especializadas, como instrumentos musicais, tornou-se impossível”.
Quando terminou o estágio em Nova Iorque regressou a Portugal, e procurou novamente alternativas relacionadas ou não com a área em que se especializou, mas foi em vão.
Nessa altura surgiu uma nova oportunidade nos Estados Unidos, desta vez de fazer um mestrado de História dos Instrumentos Musicais, que é exclusivamente disponibilizado pela Universidade de Dakota do Sul, em colaboração com o National Music Museum.
“O museu fica situado dentro do campus da universidade e contém uma das maiores e mais relevantes coleções de instrumentos musicais existentes nos Estados Unidos, e com renome internacional”, apontou.
Estas razões pesaram na decisão de voltar a partir para os Estados Unidos, mas também de voltar a pedir empréstimo ao banco para este “empreendimento”.
No entanto, teve a vantagem de conseguir uma bolsa de estudante/trabalhador para o período do mestrado, oferecida pela universidade de Dakota do Sul.
Findo o mestrado, e voltando a procurar emprego, conseguiu um lugar no Musical Instrument Museum, em Phoenix, Arizona, no início do ano passado, contratada como conservadora.
Mas apesar de estar a fazer o que gosta, pensa sempre em “viver mais próximo de casa”.
“Se há algo que me custa mais nisto tudo é estar longe da família. Por isso, vou estando atenta a outras oportunidades que possam surgir”, salientou.
Em Portugal “há muito trabalho que precisa de ser feito, mas não há financiamento”, conclui Ana Sofia Silva.
/Lusa