Portugal vai integrar as operações da NATO e da União Europeia orientadas para a proteção dos cidadãos afegãos que ao longo dos últimos anos colaboraram com as forças militares estrangeiras no país.
Após a conquista de Cabul por parte dos talibãs afegãos e do abandono do país por parte das principais figuras do Governo, a comunidade internacional começa a emitir considerações sobre o sucedido, apesar da relutância de alguns países em assumir uma posição no que respeita ao reconhecimento da autoridade do grupo extremista islâmico.
Em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou ao jornal Público que “infelizmente o tema Afeganistão foi objeto de referências várias em reuniões do Conselho Superior de Defesa Nacional”. “Digo infelizmente porque se foi temendo sempre o efeito de decisões que viessem a ser tomadas por outros que não Portugal, tudo num tempo muito acelerado”.
Optando por não se pronunciar sobre o tempo e o modo como os Estados Unidos da América, o chefe de Estado português teceu elogios ao Governo português. “Sou testemunha de como o Governo português mostrou sempre uma consciência muito lúcida acerca do contexto vivido, dos riscos emergentes e das consequências não só geopolíticas como humanitárias”.
Na noite de domingo João Gomes Cravinho anunciou que Portugal vai integrar as operações da União Europeia e da NATO para proteger os cidadãos afegãos que colaboraram com as forças militares internacionais que ao longo dos últimos 20 anos estiveram naquele país. O ministro da Defesa admitiu mesmo a possibilidade destes cidadãos virem para Portugal.
“Como a maioria da comunidade internacional acompanhamos com grande preocupação. O nosso objetivo imediato é apoiar e criar condições para que possam sair do país em segurança os funcionários que trabalharam com a NATO, com a União Europeia e com as Nações Unidas. Nessa matéria Portugal participará evidentemente no esforço coletivo que se está agora a desenhar”, disse à RTP.
Gomes Cravinho afirmou que não conhecia o número exato de cidadãos afegãos que necessitavam de apoio, mas no que respeita ao aeroporto de Cabul, onde as forças portuguesas estão presentes no âmbito de uma missão da NATO, o ministro diz estarem à espera de asilo 243 funcionários afegãos mais as respetivas famílias.
A propósito destes, Cravinho afirmou que parte pode vir para Portugal, deixando para a NATO qualquer tipo de decisão relativa aos moldes como a situação vai decorrer. “Portugal não tomará uma iniciativa própria e isolada. Vamos ver até que ponto é que é possível dialogar com as novas autoridades”, afirmou.
Augusto Santos Silva afirmou também à RTP que “Portugal vai integrar a operação da União Europeia para garantir a proteção de cidadãos afegãos”. Esta segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou à agência Lusa que 12 dos 16 civis portugueses que estavam no Afeganistão já tinham sido retirados. “A grande maioria trabalhava para a segurança da delegação da União Europeia” em Cabul, explicou, adiantando que “falta retirar alguns portugueses que ainda estão em atividade operacional no aeroporto”.
Portugal está ainda, de acordo com o ministro dos Negócios Estrangeiros, a fazer uma identificação dos afegãos que colaboraram com a comunidade internacional e que, “portanto, possam correr risco de vida ou de segurança”. O ministro dos Negócios Estrangeiros referiu à Lusa que esse trabalho de identificação e ajuda aos colaboradores está a decorrer e lembrou que, “hoje, haverá uma reunião em Bruxelas ao nível dos embaixadores, no comité de política de segurança”, na qual a questão deverá ser debatida.
Na esfera partidária, o Bloco de Esquerda afirmou que o regresso dos talibãs ao comando dos destinos do Afeganistão é a uma prova da “irresponsabilidade da ocupação pela NATO”. “Pela nossa parte, sempre a criticámos: a invasão ajudou à exaltação do terrorismo em largas partes do mundo e, como repetidamente se tem provado, nunca são invasores estrangeiros a impor a democracia num país“, refere o partido em comunicado.
Em relação ao futuro, o BE considera que “o mundo deve agora olhar para os probelmas do povo afegão, submetido por um grupo de fanáticos religiosos, e procurar as formas de o apoiar sem acrescentar problemas e violência às suas enormes dificuldades”.
Que hipocrisia esta de um país que abandonou os soldados africanos que combateram do seu lado em Angola, Moçambique e Guiné, e que quer, agora, ajudar os afegãos que colaboraram com a Nato!