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Poema de Fernando Pessoa censurado em manual escolar do 12.º ano

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António Costa Pinheiro / Wikimedia

Fernando Pessoa – Heterónimo, 1978, óleo sobre tela de António Costa Pinheiro

O manual escolar de português para o 12.º ano Encontros, da Porto Editora, retirou três versos de um poema de Álvaro de Campos. A Ode Triunfal contém linguagem obscena, tendo sido substituída por linhas a tracejado.

Alguns excertos do poema Ode Triunfal de Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, foram retirados num dos manuais escolares de Português do 12.º ano, da Porto Editora, e substituídos por linhas a tracejado.

A notícia, avançada pelo Expresso, adianta ainda que o manual censurado é um dos livros aprovados pelo Ministério da Educação.

De acordo com o jornal, os versos “Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas” e “E cujas filhas aos oito anos – e eu acho isto belo e amo-o! / Masturbam homens de aspeto decente nos vãos de escada” foram retirados da versão original do poema do heterónimo de Fernando Pessoa.

Os alunos de uma das 90 escolas que adotaram este manual no presente ano letivo aperceberam-se do sucedido ao escutarem uma gravação áudio do poema de Álvaro de Campos. Foi desta forma que constataram que os versos que ouviam na gravação não figuravam nas páginas do manual, tendo sido substituídos por linhas a tracejado.

A leitura de obras de Fernando Pessoa e heterónimos faz parte das “Aprendizagens Essenciais” decretadas pelo Ministério da Educação, que definem que o aluno deverá ter “um conhecimento e uma fruição plena dos textos literários do património português e de literaturas de língua portuguesa”.

Segundo as informações recolhidas pelo Expresso, não aparece nenhuma indicação no livro a dar conta das alterações efetuadas ao texto original de Álvaro de Campos, nem na ficha técnica, nem nas páginas do poema.

Contactados pelo matutino, nem a Porto Editora nem o Ministério da Educação deram para já esclarecimentos. A editora disse ao jornal que terá de confirmar a situação e contactar os autores, remetendo explicações para a próxima semana.

ZAP //

34 Comments

    • Estás enganado. O Álvaro de Campos não era um pseudónimo do Pessoa. Era um heterónimo. O que significa que tinha uma personalidade própria, completamente distinta da do Pessoa. Foi um personagem que o FP criou, que tinha uma personalidade e um estilo próprios, diferentes dos do seu criador. Logo o Pessoa não era pedófilo.

      • Correcto. É heterónimo. Erro meu.
        Mas, não o livra da suspeição dada esta sua veia criativa se basear nele próprio e sendo a vida dele muito cheia de secretismo e enigmática, muito sobra à nossa imaginação deste tipo de personalidade…

  1. A questão é a censura.

    Fernando Pessoa (com os seu heterónimos) tem material em quantidade e qualidade suficiente para permitir o tal “conhecimento e uma fruição plena dos textos literários do património português e de literaturas de língua portuguesa”, sem ser necessário incluir estes poemas, certamente mais “atrevidos”, e que ainda hoje causam mal estar.
    Bastava NÃO pôr este poema no livro, em vez de censurar alguns versos/palavras.

    As obras de arte devem ser “usufruídas” integralmente.
    Quem somos nós para nos arrogarmos a capacidade de decidir o que “amutar” de uma obra???

    A quem chocar, ou não gostar, o remédio é simples.

    • Concordo que o que está em causa, é a censura, mas antes disso, o que deverá estar em causa, é a política de adequação das obras literárias, sejam lá de quem forem. Obviamente que, só porque se trata de um dos nomes maiores da nossa literatura, há outras obras que podiam perfeitamente ser escolhidos. Não sei quem é o responsável por esses critérios, mas parece-me que um texto com “E cujas filhas aos oito anos – e eu acho isto belo e amo-o! / Masturbam homens de aspeto decente nos vãos de escada”, configura pedofilia, mau gosto e brejeirice barata, e desnecessária como objeto de estudo para jovens, e que, se a obra escolhida fosse outra e não esta, não haveria necessidade de agora estarmos a falar de censura.

    • Afirmar que ama ver meninas de 8 anos a masturbarem homens não é “atrevimento”, é crime. Muito mais hoje que há 90 anos. Logo, um texto com aquele conteúdo, a ser estudado em salas de aula, deve ser trabalhado com muito cuidado e o Fernando Pessoa e os seus heterónimos têm muitas outras obras de qualidade para formar os jovens e para estes entenderem a importância do autor para a Literatura Portuguesa.

  2. E por que não substituir por este belo poema, também da autoria de um expoente máximo da literatura lusa:

    Lá na rua onde eu moro, conheci uma vizinha
    Separada do marido está morando sozinha
    Além dela ser bonita é um poço de bondade
    Vendo meu carro na chuva ofereceu sua garagem!

    Ela disse: ninguém usa desde que ele me deixou!
    Dentro da minha garagem teias de aranha juntou!
    Põe teu carro aqui dentro, se não vai enferrujar!
    A garagem é usada mas teu carro vai gostar!

    Ponho o carro, tiro o carro, à hora que eu quiser
    Que garagem apertadinha, que doçura de mulher
    Tiro cedo e ponho à noite, e às vezes à tardinha
    Estou até mudando o óleo na garagem da vizinha!

    Só que o meu possante carro, tem um bonito atrelado,
    Que eu uso pra vender cocos e ganhar mais um trocado
    A garagem é pequena, o que é que eu faço agora?
    O meu carro fica dentro, os cocos ficam de fora!
    A minha vizinha é boa, da garagem vou cuidar
    Na porta mato cresceu, dei um jeito de cortar!
    A bondade da vizinha, é coisa de outro mundo
    Quando não uso a da frente, uso a garagem do fundo!

  3. Concordo que o que está em causa, é a censura, mas antes disso, o que deverá estar em causa, é a política de adequação das obras literárias, sejam lá de quem forem. Obviamente que, só porque se trata de um dos nomes maiores da nossa literatura, há outras obras que podiam perfeitamente ser escolhidos. Não sei quem é o responsável por esses critérios, mas parece-me que um texto com “E cujas filhas aos oito anos – e eu acho isto belo e amo-o! / Masturbam homens de aspeto decente nos vãos de escada”, configura pedofilia, mau gosto e brejeirice barata, e desnecessária como objeto de estudo para jovens, e que, se a obra escolhida fosse outra e não esta, não haveria necessidade de agora estarmos a falar de censura.

  4. Mas não vivemos numa sociedade livre, justa, democrática, plural?
    Não estamos a falar de alunos de 12.º, muitos deles maiores de idade?
    E por acaso estes mesmos alunos não dizem “caralho”, foda-se” e etc. dentro e fora das aulas?
    E não há aulas de educação sexual?
    E não vivemos numa sociedade que legitima e impõe até a tolerância para com orientações sexuais alternativas?
    Então porquê e para quê tanta mariquice com uns versos?

  5. E isto é apenas o ínicio, da censura no mundo académico – e a tentatíva de construír uma narrativa que os estudantes não devem estar sujeitos a tal vocabulário.

    Isto é ‘mainstream’ no mundo académico nos EUA, pejado por Dems que em vez de educarem tentam ditar o que querem privando os jovens da criação do pensamento crítico.

    Interessante, quando leio no artigo, que nem a editora nem o Min. Educação foram capazes de se pronunciar sobre o caso – o que mais está censurado que não é do conhecimento público?

    E quem é que censura? Quais as premissas para a censura? Quem elegeu tais entidades para censurar?

    É a exposição a diversidade de opiniões que forma o carater e permite a escolha e liberdade de opinião, nunca a criação de uma bolha ou escudo.

    Isto é grave, visto estarmos perante o início do ‘politicamente correto’ e da ‘obrigatoriedade de discurso’; o que é, ou não, permitido dizer.

    Tanto quanto sei o art.º 37 (Liberdade de expressão e informação) da Constituição Portuguesa ainda existe.

    A preocupação deve ser educar os nossos jovens, muni-los do conhecimento, capacitá-los de pensamento crítico e expô-los a maior diversidade de ideias e pensamentos possível de modo a prepará-los para o futuro.

  6. Eu mandei aqui umas carvalhadas há cerca de uma hora e também fui censurado. O ZAP não publicou o meu post. Fi-lo de propósito apenas para demonstrar que a censura em alguns contextos aplica-se e é defensável. Sobretudo quando o limite entre arte e simples má educação é muito ténue. E no meu caso não ia lá qualquer forma de arte… apenas boçalidades… com alguma rima em utas, alhos e ões.

      • O fascismo é de esquerda inventado por Mussolini um socialista. Direita é pela liberdade individual, raros são os ditadores de direita e quando existem como na ditadura militar do Brasil, nem sequer censuraram de maneira muito activa, e acabam por entregar o poder. Coisa que nunca acontece numa ditadura fascista de esquerda

  7. Há uma ideia generalizada, e mal, que se for um vulto da cultura então as obscenidades que profere viram obra de arte, puro talento, verdadeiras pétalas no melhor dia de Primavera. As partes censuradas não são nenhuma forma de arte. Como em tudo há um bom e um sofrível Pessoa. Também o Ronaldo tem jogos bons e outros maus… e ainda outros fora do estádio em que entra com tudo por trás. Neste caso considero que as partes censuradas o foram corretamente.
    Demonstrei aqui hoje mesmo, e por duas vezes, que o próprio ZAP não me deixa publicitar conteúdos do mesmo nível.

  8. a seguir vão ao Gil Vicente que para além do bom vernáculo nem deixa o judeu embarcar na Barca do Inferno numa atitude de claro racismo e xenofobia
    o politicamente correcto no seu melhor tal como no tempo do Gil Vicente em que o não era correcto segundo os padrões morais ia para o index, isto é, era posto fora de jogo
    um dia destes vão acender as fogueiras

  9. O que está em causa é a censura. E o que está em causa é a interpretação do poema.

    Assumir que a frase de cima figura em pedofilia é assumir de igual modo que a estrofe que se segue está em concordância com a factualidade e que efectivamente há gentalha abaixo de todos os sistemas morais.

    Maravilhosamente gente humana que vive como os cães
    Que está abaixo de todos os sistemas morais,
    Para quem nenhuma religião foi feita,
    Nenhuma arte criada,
    Nenhuma política destinada para eles!

    Deixem o poema estar como está. A interpretação é tudo. Ou então tapem as mamas da Vénus de Milo nos manuais de história de arte. Rasurem tudo.

  10. E porque razão tinha mesmo que ir o poema à escola? Parece afinal que o mal vem da incompetência das pessoas ligadas ao ensino e não de outra coisa.

  11. Meu que ignorância

    Esse cara não fazia nada de mais, mas fez questão de descrever todas as sensações humanas, mesmo as patológicas e socialmente não aceitas..

    Isso chamasse arte e Fernando Pessoa chamasse gênio.

    PF incautos Naomi diminuam. Ele não foi pedofilo e nem perto disso oh ignorantes!

    • O mais engraçado amigo Carlos, é que, até hoje, poucos sabem da mediunidade de Fernando Pessoa. Os chamados heterónimos, eram seus amigos espirituais que se utilizavam do seu dom para poderem psicografar. Este facto é mais conhecido no Brasil do que em Portugal. Daí que naquela época FP se mantivesse tão reservado, pois não seria compreendido…e nem hoje ainda o é.

      • Não sabia e faz muito sentido…
        Para além de que a doutrina espírita é muito mais estudada e aceite no Brasil do que em Portugal. Existe muita ignorância a esse respeito, infelizmente, pois espiritismo iguala logo a bruxaria nas mentes ignorantes…

    • “Isso chamasse arte e Fernando Pessoa chamasse gênio.” , pelo menos conhece o poeta, mas deve ter faltado às aulas de português.

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