Uma missão pioneira com uma tripulação privada fez história esta quinta-feira ao realizar o primeiro passeio espacial comercial, que a NASA saudou como “um salto gigantesco” para a indústria espacial. Era a “missão espacial mais arriscada de sempre”.
A missão Polaris Dawn da SpaceX, lançada na terça-feira a partir do Centro Espacial Kennedy, na Florida, e liderada pelo bilionário de 41 anos Jared Isaacman, entrou para a história da aventura espacial.
Na quarta-feira, levou a sua tripulação mais profundamente no cosmos do que qualquer ser humano em meio século, desde a era Apollo, realça o Science Alert.
E esta quinta-feira, às 10:12h, quando a nave espacial Dragon estava numa órbita de 700 quilómetros, o oxigénio puro começou a fluir para os novos fatos espaciais da sua tripulação de quatro membros.
Pouco tempo depois, Isaacman abriu a escotilha e assomou ao exterior da nave, agarrando-se às mãos e aos pés de uma estrutura conhecida como “Skywalker”, enquanto uma vista deslumbrante da Terra se desenrolava sob o astronauta.
Assim começou oficialmente a primeira Atividade Extraveicular (EVA) de um cidadão privado.
“SpaceX, lá em casa temos ainda muito trabalho para fazer, mas daqui a Terra parece um mundo perfeito“, disse Jared Isaacman para o controlo da missão, em Hawthorne, Califórnia, onde a equipa irrompeu em aplausos.
Foi mais um marco importante para a SpaceX, empresa fundada por Elon Musk em 2002, que desde então se transformou numa potência incontornável da indústria aeroespacial.
“O sucesso de hoje representa um salto gigantesco para a indústria espacial comercial e para o objetivo a longo prazo da NASA de construir uma economia espacial americana vibrante”, escreveu o chefe da NASA, Bill Nelson, no X/Twitter.
Testes dos fatos
Antes da abertura da escotilha, a tripulação foi submetida a um procedimento de “pré-respiração” para remover o azoto da sua corrente sanguínea, prevenindo complicações resultantes da descompressão. A pressão da cabina foi então gradualmente reduzida para se alinhar com o vácuo do espaço.
Isaacman e a colega de tripulação Sarah Gillis, engenheira da SpaceX, revezaram-se no exterior do veículo, passando alguns minutos a realizar testes de mobilidade com os novos fatos de próxima geração da SpaceX — que têm visores de alerta, câmaras no capacete e sistemas de mobilidade articular melhorados.
Os dois astronautas regressaram então ao interior da sua Dragon. A atividade extraveicular terminou oficialmente ao fim de uma hora e 46 minutos, após a repressurização da cabina.
SpaceX and the Polaris Dawn crew have completed the first commercial spacewalk!
“SpaceX, back at home we all have a lot of work to do, but from here, Earth sure looks like a perfect world.” — Mission Commander @rookisaacman during Dragon egress and seeing our planet from ~738 km pic.twitter.com/lRczSv5i4k
— Polaris (@PolarisProgram) September 12, 2024
Embora tenha sido uma estreia no sector comercial, o passeio espacial ficou aquém das proezas ousadas do início da era espacial.
Os primeiros astronautas, entre os quais Alexei Leonov, o pioneiro cosmonauta soviético, em 1965, flutuavam amarrados às suas naves espaciais, enquanto alguns astronautas dos vaivéns espaciais da NASA dos anos 1980 usavam mochilas a jato para voar completamente sem amarras.
Uma vez que a Dragon não tem câmara de vácuo, toda a tripulação foi exposta ao vácuo do espaço. O piloto da missão, Scott Poteet, e a engenheira da SpaceX, Anna Menon, permaneceram presos à nave enquanto monitorizavam os sistemas de apoio vitais.
“O risco é maior do que zero, isso é certo, e é certamente maior do que qualquer coisa que tenha sido realizada numa base comercial”, disse à AFP o antigo administrador da NASA Sean O’Keefe.
Primeira de três missões Polaris
A caminhada espacial seguiu-se a uma primeira fase audaciosa da missão, durante a qual a nave Dragon atingiu uma altitude máxima de 1400 km — uma altitude três vezes maior do que a da Estação Espacial Internacional, numa região repleta de partículas perigosas e de alta energia.
Os quatro astronautas foram submetidos a mais de dois anos de treino em preparação para a missão histórica, com centenas de horas em simuladores, para-quedismo, mergulho e atividades no cume de um vulcão equatoriano.
As próximas tarefas incluem testar as comunicações por satélite baseadas em laser entre a Dragon e a rede de satélites Starlink, e dezenas de experiências, incluindo testes em lentes de contacto com microeletrónica incorporada para monitorizar as alterações na pressão e forma dos olhos no espaço.
A Polaris Dawn é a primeira de três missões no âmbito do programa Polaris, uma colaboração entre Isaacman e a SpaceX.
Os termos financeiros da parceria permanecem em segredo, mas Isaacman, fundador e diretor executivo da Shift4Payments, terá investido 200 milhões de dólares da sua fortuna para liderar a missão orbital SpaceX Inspiration4 de 2021, constituída exclusivamente por civis.
A missão Polaris final tem como objetivo ser o primeiro voo tripulado da Starship da SpaceX, um protótipo de foguetão da próxima geração que é fundamental para as ambições do fundador Musk de colonizar Marte.