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Civis foram sozinhos ao Espaço na esperança de se “Benjamin Buttonizarem”

Inspiration4 crew

Missão Inspiration4 da SpaceX fez um novo voo 100% civil para estudar a reação do nosso corpo a viagens espaciais de curta duração. Temporariamente, os quatro “inspirados” inverteram o envelhecimento.

No seu terceiro aniversário, a missão Inspiration4, da SpaceX, o primeiro voo espacial totalmente civil como também protagonizou a recolha inédita, por parte da tripulação, de amostras de sangue e de pele dos seus próprios corpos, como parte dos esforços para entender melhor a reação do corpo humano a viagens espaciais de curta duração.

A orbitar a Terra a uma altura de 575 quilómetros, uma equipa de quatro “inspirados” passou estas amostras para as mãos de uma “superequipa” de investigação composta por mais de 100 instituições de mais de 25 países, que as analisaram e traduziram as suas notáveis descobertas num Atlas Médico e Ómico Espacial (SOMA), publicado na revista Nature.

“Os participantes civis têm diferentes antecedentes educativos e condições médicas em comparação com os astronautas com uma longa carreira de exposição a voos espaciais”, explica Emmanuel Urquieta, médico-chefe do Translational Research Institute for Space Health (TRISH), em comunicado.

Benjamin Buttoning

O esforço conjunto levou à descoberta do alongamento temporário dos telómeros, as capas protetoras nas extremidades dos nossos cromossomas, algo que foi observado nos membros da tripulação da Inspiration4.

Normalmente, os telómeros encurtam à medida que envelhecemos, um processo associado ao envelhecimento celular. No entanto, os telómeros dos quatro astronautas alongaram-se, o que sugere uma inversão (embora apenas temporária) deste processo de envelhecimento, um fenómeno mais conhecido como “Benjamin Buttoning“.

“Pensamos que é o equivalente do ADN à hormese [o efeito/resposta à exposição de grandes quantidades de uma substância ou condição]”, explica o fisiólogo e biofísico Chris Mason ao Space: “É o efeito que observamos quando se exerce pressão sobre o corpo, por exemplo, no ginásio, os seus músculos ficam doridos, mas o corpo responde aumentando a sua força”.

Vale a pena realçar que este efeito de rejuvenescimento teve curta duração. Quando os astronautas regressaram à Terra, os seus telómeros não só voltaram ao comprimento que tinham antes ao voo, como até ficaram mais curtos, o que indica que os efeitos anti-envelhecimento observados durante o voo espacial não são sustentáveis uma vez que se dá o regresso à Terra.

Alterações fisiológicas

Os dados do SOMA exploraram ainda outras alterações fisiológicas durante as viagens espaciais, tais como alterações do sistema imunitário — que persistem durante meses após o voo — e potenciais danos a longo prazo em órgãos como os rins, que poderiam exigir diálise para futuros viajantes espaciais de longa duração.

Não é tudo cor de rosa: as viagens espaciais expõem os astronautas a radiações que podem danificar o seu ADN, embora o projeto SOMA esteja a estudar contramedidas para atenuar estes riscos.

A investigação encontrou impactos no sistema cardiovascular e reparou que os efeitos psicológicos das viagens espaciais não são propriamente positivos.

E apesar da dimensão do estudo, a amostra, composta por apenas quatro indivíduos, não é representativa o suficiente para tirar conclusões incontestáveis.

Tomás Guimarães, ZAP //

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