Bombers

Um incêndio de grandes proporções em Lérida, no nordeste da Catalunha, que os bombeiros classificam como “de sexta geração”, modificou as condições atmosféricas, criando um “pirocúmulo”, que em meia hora alcançou velocidades de 28 km/h. É a “nova normalidade”.
O violento incêndio que na terça-feira causou duas mortes em Lérida, na Catalunha, é um exemplo de uma nova categoria de fogos florestais, que os bombeiros classificam como sendo de “sexta geração“.
Estes fenómenos são “capazes de gerar processos convectivos imprevisíveis” que alteram drasticamente o comportamento do fogo, explica ao El País o engenheiro florestal e subinspetor Bomberos de la Generalita Edgar Nebot.
Estes incêndios manifestam-se através de pirocúmulos — nuvens de gases e vapor de água que podem atingir alturas extraordinárias. Na terça-feira, este fenómeno alcançou 14 km de altura, gerando ventos que fizeram o fogo avançar a 28 km/h, uma das velocidades mais altas já registadas.
Além das alterações climáticas que proporcionam condições para a formação destes pirocúmulos, o fenómeno de terça-feira foi também devido à abundante quantidade de material combustível encontrado — principalmente campos agrícolas de cereais ainda por colher, explica Nebot.
“Desde que se formam os grãos até à colheita, a paisagem torna-se extremamente vulnerável, com toneladas de combustível seco“, detalha o engenheiro florestal, que sublinha o impacto socioeconómico devastador para os agricultores locais.
Também Luis Berbiela, vice-presidente da Fundação Pau Costa, entidade criada após a catástrofe de Horta de Sant Joan, que em 2009 consumiu uma área de 1.140 hectares na região de Ports de Tortosa-Beseit, na Catalunha, e resultou na morte de cinco bombeiros, alerta para esta “nova normalidade“.
Segundo o especialista, quando a vegetação se incendeia, liberta enormes quantidades de calor que fazem o ar elevar-se rapidamente, chocar com as camadas altas da atmosfera e desmoronar-se, criando direções caóticas nas frentes de fogo.
Este fenómeno torna as evacuações extremamente difíceis, obrigando ao confinamento de populações. O incêndio desta terça-feira Lérida, que confirma os receios dos bombeiros sobre a conversão da vegetação primaveril em combustível incendiário após a secagem, consumiu 5.500 hectares de terreno agrícola.
O incêndio, que forçou o confinamento de cerca de 20.000 pessoas em diversos municípios catalães, coincidiu com a onda de calor que se está a fazer sentir no sul da Europa, que pulverizou recordes de temperatura e atingiu uma extensão geográfica sem precedentes, que se estendeu de Inglaterra até aos Balcãs.