Uma pintura de Caravaggio anteriormente desconhecida, encontrada há apenas alguns anos, deveria render até 170 milhões de dólares – 150 milhões de euros – em leilão esta semana. Mas nunca chegou ao leilão.
Em vez disso, um comprador anónimo comprou a pintura na terça-feira antes do leilão de 27 de junho em Toulouse, na França, informou o The Guardian.
A tela mostra a cena bíblica de Judite – uma judia – a decapitar o general Assírio Holofernes, para salvar o seu povo. Caravaggio já é conhecido por imortalizar este conto horripilante na pintura “Judith and Holofernes”, que terminou por volta de 1598 ou 1599.
Mas será esta versão alternativa da decapitação sangrenta de Caravaggio? Vários especialistas têm dúvidas, segundo o jornal britânico.
O “perdido” Caravaggio surgiu numa casa de Toulouse em abril de 2014, informou a CNN naquele ano. Depois de os proprietários encontrarem a lona manchada de água no sótão durante uma reforma, contactaram um amigo chamado Marc Labarbe, que também era um leiloeiro de arte.
Labarbe enviou uma fotografia da pintura para Eric Turquin, um respeitado especialista em arte parisiense e especialista em mestres antigos, para análise. Dois anos depois, Turquin declarou que a obra de arte tinha sido pintada por Michelangelo Merisi da Caravaggio, informou a Reuters em 2016.
“Um pintor é como nós – tem tiques. E há todos os tiques de Caravaggio nisto”, disse Turquin à Reuters. Além disso, acredita-se que Caravaggio tenha criado outra pintura de Judith e Holofernes em 1606, de acordo com registos datados de há 400 anos, disse Turquin ao The Guardian.
Não se sabe exatamente o que aconteceu à obra desde o século XVII. A sua última localização conhecida foi numa exposição em Antuérpia, na Bélgica, no ano de 1689. A obra barroca foi pintada por Caravaggio em 1599.
Raios-X e limpeza revelaram que a pintura do sótão sofreu muitas revisões com “muitos retoques”, que os especialistas veem como um sinal de que uma pintura não é uma falsificação ou cópia.
Por outro lado, vários especialistas contestam a proveniência da pintura, disse Richard Spear, especialista em barroco italiano da Universidade de Princeton, ao jornal The Art Newspaper.
Alguns especialistas sugerem que a pintura é obra do artista flamengo Louis Finson, contemporâneo de Caravaggio. Outros propõem que Finson completou a pintura que Caravaggio deixou inacabada em 1607, depois de fugir de Malta para escapar de uma sentença de morte por assassinar um homem numa agressão na rua.
Representantes do leilão recusaram-se a divulgar a identidade do comprador ou o preço de venda da pintura, mas a obra está vinculada a um “grande museu” sem nome fora da França, onde será exibido ao público.