Depois do repto lançado por Catarina Martins para que PS e BE se reúnam dia 31 para discutir uma solução governativa, António Costa deixou a coordenadora bloquista sem resposta direta.
As sondagens andam instáveis e do lado dos dois principais partidos portugueses já se percebeu que as próximas eleições legislativas serão das mais disputadas da democracia portuguesa. Como tal, ninguém quer atirar a toalha ao chão ou parecer agastado na luta — uma crítica que muitos têm dirigido a António Costa ao longo dos últimos dias, mas que este tem recusado veemente.
Durante o dia de ontem, o secretário-geral do partido socialista participou em três arruadas (Guimarães, Braga e Viana do Castelo) e nas diversas oportunidades que teve para discursar ou falar aos jornalistas não se deteve em críticas, ora ao PSD ora ao Bloco de Esquerda, sobretudo depois do apelo de Catarina Martins para que as duas forças políticas se reúnam a 31 de janeiro para dialogarem. É uma posição difícil para o líder do PS, que tenta conjugar a bandeira do voto útil com a necessidade de não hostilizar demasiado os bloquistas — os quais podem ser determinantes para a governação.
Mesmo assim, Costa não deixou de responder às críticas da coordenadora do Bloco, nas quais acusava o PS de ser um partido sem margem para o diálogo. “Toda a gente sabe que o PS é o único partido que dialoga com todos. […] Percebo que partidos que, já em 2020, quiseram romper a unidade da esquerda precisem de arranjar um bode expiatório, mas o que o Bloco tem a fazer é pedir desculpa, por ter rompido com a unidade de esquerda, quando ainda não havia um português vacinado“, atirou Costa. Mas o secretário-geral do PS ainda não tinha terminado, guardando mais palavras duras para Catarina Martins.
“O BE rompeu e ficou sozinho a votar com a direita. Não aceito lições de Catarina Martins.” A coordenadora do Bloco de Esquerda ficou ainda sem resposta relativamente ao repto lançado para a reunião pós-eleições.
Arrumado o assunto Bloco de Esquerda, António Costa virou-se mais tarde para o seu adversário direito, o PSD, em franca recuperação nas sondagens. Nas críticas feitas aos sociais-democratas, o secretário-geral do PS serviu-se de estratégias que outrora recusou e que foram usadas contra si. Tratou de usar o “papão” ou o “diabo” para lembrar os cortes e congelamentos dos tempos do Governo de Pedro Passos Coelho, dizendo que o antigo primeiro-ministro e Rui Rui não estão assim tão distantes.
Concentrou também o seu discurso, em Braga, nos jovens e no que estes “perderiam” caso seja o PSD a assumir a liderança dos destinos do país após 30 de janeiro. Através de dois slides, destacou que caso o Orçamento do Estado apresentado PS — e que os socialistas pretendem aprovar — estivesse em vigor um jovem e 23 anos, solteiro, pagaria menos 629€ de IRS por ano, ao passo que uma família que ganhasse 2760€ mensais, pagaria menos 629€. Os números serviram para lançar uma farpa a Rui Rio.
“O PSD diz que fazemos política pela negativa: política negativa é a deles, que impedem os jovens de ter esta redução. Lembrem-se bem destes números quando vos disserem que é igual votar no PS ou no PSD.”
Já em Viana do Castelo, recuperou o discurso das contas certas, tópico que parecia esquecido ao longo da campanha. “Gerimos melhor as contas públicas e a economia cresceu sete vezes mais”, relembrou. Sobre o programa do PSD deixou ainda uma provocação em tom de aviso. “É preciso ter cuidado, aquele programa está cheio de maroscas. Há dois anos, defendeu aumentar o IVA da restauração para ganhar folga. Agora é contra. Agora, que estamos em eleições, quer baixar, Mas só para o próximo ano e meio. E o que faz a seguir? Voltamos ao IVA que temos hoje? Ou aumentamos para ganhar a folga?”