Entre os sete estados decisivos nas eleições norte-americanas, a Pensilvânia surge como o mais importante de todos. As estimativas apontam que quem vencer na Pensilvânia tem 90% de probabilidade de ganhar as eleições.
Apesar de o Michigan, a Geórgia, a Carolina do Norte, o Nevada, o Wisconsin e o Arizona estarem todos com corridas apertadas nas eleições americanas esta noite, há um estado que se está a impor como o mais decisivo dos decisivos — a Pensilvânia.
Conhecida como o Estado da Pedra Angular devido à sua importância histórica na gestão das primeiras 13 colónias britânicas que vieram a tornar-se os Estados Unidos, a Pensilvânia está a dar um novo sentido a esta alcunha neste sufrágio.
De acordo com as estimativas do analista Nate Silver, que criou o agregador de sondagens FiveThirtyEight, quem vencer na Pensilvânia tem uma probabilidade de 90% de ganhar a Casa Branca.
Esta importância não ficou indiferente a nenhum dos candidatos. Na véspera das eleições, tanto Kamala Harris como Donald Trump agendaram aparições e comícios na Pensilvânia. Ambas as campanhas também têm gastado mais em anúncios na Pensilvânia do que em qualquer outro estado.
Se Harris ganhar na Pensilvânia, no Wisconsin e no Michigan — três estados-chave que Hillary Clinton perdeu em 2016 e que Joe Biden recuperou em 2020 — e um distrito no Nebraska, será eleita a primeira mulher presidente dos EUA.
Se Trump selar a vitória na Pensilvânia e conseguir ainda ganhar na Carolina do Norte e na Geórgia — recorde-se que Trump ganhou na Carolina do Norte em 2020 e na Geórgia em 2016 —, estará de volta à Casa Branca. Sem a Pensilvânia, o caminho de Donald Trump fica muito complicado, com os Republicanos a ter de virar três estados que Biden ganhou em 2020.
Muitos dos momentos mais marcantes da campanha eleitoral também aconteceram em solo pensilvaniano, incluindo o único debate entre Harris e Trump. Também foi lá que Donald Trump foi alvo de uma tentativa de assassinato e que serviu batatas fritas no McDonald’s.
A Pensilvânia testemunhou ainda a aposta de Kamala Harris em Tim Walz como número dois da campanha Democrata e foi palco do anúncio da candidata da sua agenda económica caso seja eleita.
A atenção tem sido tanta que até há já quem esteja farto. “Eu prometo, não é preciso fazer uma sondagem para saber que 98% das pessoas estão tipo ‘tenho de fugir desta mer**‘”, revela o Senador Democrata John Fetterman à NBC.
Os Estados Unidos em miniatura
Com 19 votos no colégio eleitoral e sendo o quinto estado mais populoso de todo o país, a Pensilvânia é vista quase como um microcosmo dos Estados Unidos devido à sua realidade demográfica e económica.
A maioria da população é branca, mas há algumas localidades com crescentes populações hispânicas, uma realidade que se está a verificar em todo o país. A Pensilvânia tem ainda 12% de negros, enquanto que a população negra representa 13% do total de norte-americanos.
O estado tem ainda duas grandes zonas urbanas em Philadelphia e Pittsburgh onde os Democratas dominam e territórios rurais no interior que favorecem os Republicanos. Este contraste até inspirou a piada antiga na política norte-americana de que a Pensilvânia é Philadelphia e Pittsburgh com o Alabama (um estado profundamente Republicano) pelo meio.
No plano económico, é um estado industrializado em declínio que compõe, juntamente com os estados vizinhos do Michigan e do Wisconsin, o rust belt — o cinturão da ferrugem — uma região denotada pela quebra da indústria e da população. Depois da indústria, a agricultura é o segundo maior setor no estado.
O declínio da indústria pode ajudar a explicar a vitória surpresa de Donald Trump nestes estados em 2016, já que um dos principais pontos da campanha Republicana contra Clinton foi o ataque aos acordos comerciais que favoreceram o outsourcing da mão de obra e devastaram as economias locais, como o NAFTA ou o TPP.
Em 2016, Trump venceu a Pensilvânia por uma pequena margem de 40 mil votos. Já em 2020, Joe Biden conseguiu recuperar o estado por apenas 80 mil votos. Só uma vez nos últimos 40 anos é que um candidato vencedor obteve uma margem de dois dígitos na Pensilvânia — Barack Obama na sua vitória em 2008 contra John McCain.
Os trunfos de cada lado
Do lado de Kamala Harris, a aposta é em cativar os eleitores das zonas urbanas e dos subúrbios e rezar que a sua margem com este eleitorado seja grande o suficiente para colmatar o domínio de Trump nas zonas rurais.
Os Democratas procuram ainda conquistar os votos dos 160 mil eleitores Republicanos que votaram em Nikki Haley nas primárias contra Donald Trump. “O que essas pessoas precisam de ouvir é que tanto o passado de Kamala Harris quanto os seus planos futuros são basicamente posições centristas – que ela não é uma esquerdista radical louca e de olhos arregalados”, explica Craig Snyder, ex-republicano e dirigente do movimento “Haley Voters for Harris” da Pensilvânia.
A escolha de Tim Walz para o seu número dois também será um trunfo importante, já que o Governador do Minnesota pode apelar mais ao eleitorado branco da classe trabalhadora com a sua imagem de um “tipo normal” do midwest. Kamala Harris, que foi procuradora-geral da Califórnia e eleita Senadora pelo mesmo estado, tem uma imagem mais cosmopolita que dificulta a sua ligação com este grupo demográfico.
Do lado de Trump, a estratégia passa por espremer ao máximo o apoio nas partes rurais, incluindo apelar ao registo de quem não se registou para votar nas eleições anteriores. Apesar de os Democratas registados ainda serem mais do que os Republicanos, este trabalho parece estar a dar frutos, já que a margem é a menor desde que o estado começou a divulgar estes dados em 1998.
A última sondagem do New York Times na Pensilvânia, publicada no domingo, antecipa um empate técnico, com tanto Trump como Harris com 48%, mas com a candidata Democrata a ter uma ligeira vantagem. Resta-nos esperar para ver se este cenário se confirma esta madrugada.