Passos Coelho: “Há quem ache que fui o pior que aconteceu a Portugal”

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Manuel de Almeida / Lusa

Pedro Passos Coelho à saída de audiência com Aníbal Cavaco Silva

Montenegro, Portas, Cavaco e TSU. Antigo primeiro-ministro fala sobre o passado e sobre o presente. Mas olha mais para trás.

Pedro Passos Coelho tem noção de que há muitos portugueses que acham que foi “extraordinário” enquanto primeiro-ministro de Portugal (2011-2015), mas também há muitos que o criticam.

E de uma forma pouco meiga: “Há pessoas que acham que fui extraordinário e há pessoas que acham que fui o fim do mundo e o pior que podia ter acontecido ao país. E ainda hoje se nota isso”.

Em entrevista à rádio Observador, o antigo primeiro-ministro fala muito sobre o passado. E admite falhas: na TSU e na comunicação, por exemplo.

A taxa social única (TSU) iria descer de 23,75% para 18% e os trabalhadores passariam a contribuir com 18% (e não 11%) para a Segurança Social. Originou – entre outros motivos – uma manifestação de centenas de milhares de pessoas em 2012.

O Governo recuou na altura. Passos admite nesta entrevista que foi um “erro político”. Mas ainda hoje não sabe que alternativa tinha para apresentar à troika, guardando “sentimentos mistos” sobre o assunto.

“Insensível”

Outro problema: comunicação. O então primeiro-ministro teve problemas de comunicação “realmente grandes”, assume.

“Acredito que pudesse ter feito melhor comunicação do que aquela que fiz. Concentrei muita da informação, sobretudo aquela que era mais negativa, porque nunca quis mandar ministros informar o país das coisas difíceis que tinham de fazer. Fui sempre eu”, recorda.

“E há quem diga que tinha uma forma dura de comunicar, insensível. É provável que sim, mas era deliberado, de certa maneira. Porque se o primeiro-ministro aparecesse vacilante, choroso… Era preciso que as pessoas percebessem que havia um compromisso firme”, justificou.

Portas-CDS-troika

Uma figura central nesses tempos foi Paulo Portas. O líder do CDS, colega de Governo, é alvo de críticas diretas: “Não tinha uma noção precisa, realista, de qual era o limite das nossas possibilidades”.

“E uma vez que o seu partido tinha como bandeiras essenciais a questão fiscal, a questão dos impostos, a questão dos pensionistas, quando tivemos de tomar medidas que eram medidas gravosas, o CDS e Paulo Portas convenceram-se, a partir de certa altura, que era assim porque nós não defendíamos devidamente os interesses do país junto da troika”, relata.

Passos Coelho conta que, durante as negociações para a sétima avaliação da troika ao memorando de ajustamento, Portas fez questão de criar deliberadamente a expressão “TSU dos pensionistas” para criar “um sobressalto e uma revolta no país”.

“O próprio CDS não tinha uma medida alternativa. Não a apresentava. Não aceitava aquela, mas não apresentava uma equivalente”.

Num determinado momento os responsáveis da troika viram que “havia um problema com o CDS” e, por isso, passaram a exigir cartas assinadas por Paulo Portas.

“Para impedir uma humilhação do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros (Paulo Portas), obriguei o ministro das Finanças (Vítor Gaspar) a assinar comigo e com ele a carta para as instituições. Assinámos os três. Paulo Portas não sabe disto. Não sabe que foi uma exigência minha, porque o que a troika exigia era uma carta dele, assinada por ele, porque não confiava nele”, contou.

A decisão da “demissão irrevogável” surpreendeu Cavaco Silva, o então Presidente da República, que ficou “evidentemente bastante magoado”.

Cavaco

Precisamente sobre Cavaco Silva, o antigo líder do PSD recorda que Cavaco tentou uma aproximação com o PS (liderado por António José Seguro na altura).

Mais uma vez, com o CDS no meio da história: “O Presidente da República achou que o CDS podia não ser de confiança para assegurar as tarefas do pós-troika”.

Mas há uma mistura de análises a Cavaco Silva. Se, por um lado, o Presidente da República “salvou o Governo mais do que uma vez” e apoiou sempre o seu Executivo, Cavaco também criou problemas.

“Uma boa parte das decisões que o Tribunal Constitucional assumiu, assumiu no conforto de que o Presidente da República não concordava com elas. E ele foi muito vocal nessas matérias”, lembra.

Além disso, houve “discordância severa e assumida em termos públicos” entre primeiro-ministro e presidente: “E isso evidentemente que nem sempre ajudou. Algumas vezes desajudou”.

Montenegro

Pedro Passos Coelho não é propriamente o maior apoiante de Luís Montenegro. E tem noção de que o actual presidente do PSD ocupa esse cargo pelo que fez no Parlamento, nomeadamente enquanto líder parlamentar precisamente no Governo de Passos. “De contrário, não creio que alguém se fosse lembrar dele por esse efeito”.

“Ele faz parte dessa herança e desse legado (passista). Em que medida é que ele se quer desconectar mais desse seu próprio passado também ou não, não sei. Parece-me que foi muito evidente durante os últimos tempos que houve essa preocupação de tentar desligar”, considera Passos Coelho.

Compreende que Montenegro está a traçar o seu caminho, por isso é natural que haja algum afastamento – mas Passos não vai deixar de dizer o que pensa: “É importante que os partidos possam ter uma perspetiva para o futuro e não ficarem sempre só ligados ao seu passado. E, portanto, às vezes é um equilíbrio difícil de fazer”.

“Não quer dizer que se renegue o passado, mas se andarmos sempre só a defender o passado ou com o passado ao colo, a gente não consegue abrir tanto futuro. Ele saberá como é que quer fazer as coisas e a última coisa que quero é andar a criar constrangimentos. Agora, também não posso ser impedido de, de quando em vez, poder dizer alguma coisa do que penso. E eu penso pela minha cabeça, evidentemente”, finaliza Pedro Passos Coelho.

ZAP //

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19 Comments

  1. Para mim foi. Para além de o meu IRS ter disparado em flecha (até hoje), o idiota do meu patrão serviu-se da suposta crise para congelar o meu salário durante oito anos.

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  2. Sou + 1 que não acha, tem a certeza.
    Foste e queres voltar a ser o maior ladrão dos últimos 50 anos.
    E não foi só à conta da Troika.

    “Bruxelas diz que houve fraude na empresa de Passos Coelho

    O gabinete anti-fraude da Comissão Europeia (OLAF) contraria as conclusões do Ministério Público (MP) português e considera que a Tecnoforma cometeu “graves irregularidades” na gestão de fundos europeus”

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  3. Achas que muitos Portugueses pensam que foste o Pior para Portugal? Eu sou um deles, , mas não acho , tenho a certeza.

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  4. Não, estás em segundo! Pior que tu só a múmia paralítica! Nunca se engana, raramente tem dúvidas e dias antes do BES sucumbir veio para as notícias afirmar que o BES ‘não tinha problema nenhum porque os activos eram maiores que os paxivos’! Enfim…

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  5. Alguma dúvida? Qual o grau de destruição da economia que o «ir além da trika», do «aguentem-se» e do «vão mas ´+e trabalhar para o estrangeiro, emigrem!» causou? Sem avaliação rigorosa, há uma percepção segura de que teve um efeito 2 ou 3 vezes superior ao da intervenção da troika em si mesma.

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  6. O 1º ministro mais incompetente da história da democracia. A solução para tudo foi…. CORTAR, FECHAR, CORTAR, FECHAR, CORTAR, FECHAR … e vender aos chineses.
    Para governar assim qualquer um vai para lá e de certeza absoluta que faz melhor.
    CORTAR, FECHAR, CORTAR, FECHAR, e nos momentos de maior inspiração … mandar o incompetente das finanças aumentar impostos… brutalmente. INCOMPETENTES.

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  7. Bem , por os vistos , está a procura de un bom “Tacho” para arrecadar mais umas coroas a custa do Contribuinte . Este tipo , além de outros tantos já enjoa !

  8. Um passado que nos deixou de joelhos, carregados de impostos ou seja mergulhados na maior austeridade de sempre. O primeiro chefe era o Gaspartiu que de carniceiro tinha muito Aplicou aos portugueses impostos sucessivos e abusivos com os quais se defrontavam com sérias dificuldades em conseguir pagar . Perante tal incumprimento as fianças regozijavam-se com as multas que recebiam ou nos arrestos que faziam. Para salvarem a sua situação disparou a emigração, aliás aconselhada pelo pm. Ainda que não chegasse toca de assaltar os bolsos dos reformados que criou uma onda de indignação e ódio que se mantém e dificilmente será esquecida . Outra ideia miraculosa era avançar para o retrocesso em que o os ordenados dos trabalhadores regredissem. A par disto toda a proteção era dada à banca e aos grandes grupos económicos. As política neoliberal fez parte desta governação em que o trabalhador era um mero pião do patronato. Nessa altura o psd perdeu militantes e ficou de tal maneira dividido que passados cerca de oito anos é que conseguiu ganhar por minoria . A s suas políticas terão que ser sérias e equilibradas para que possa implementar a governação para qual se destinou. Passos foi um pm de má memória e como tal não é desejado para o que quer que seja.A venda aos chineses . partido C, Chinês – foi um erro crasso considerada contrária aos interesses de Portugal. Se fomos prejudicados. Fomos. Todas estas conversas com impacto televisivo são apenas um tapa olhos com efeitos psicológicos.

  9. Pois, eu acho que o pior 1º ministro que Portugal teve não foi o Passos Coelho, foi José Sócrates ” o ladrão egocêntrico”. Porque Passos Coelho teve a tarefa de tirar o País da bancarrota, sim à custa de muitos sacrifícios das pessoas, sim inúmeras empresas que tiveram que fechar, mexeu na Lei das Rendas quando há décadas nenhum Governo teve o bom senso de o fazer pois sabiam o que tão mau seria ! A dias de se ver o que a Justiça que temos fará com José Sócrates e o seus inúmeros processos, uns já fechados porque subscreveram, outros anulados pelo Juíz amiguinho dele que o M.P. conseguiu pô-lo a andar, pouco mais falta para nada e, ainda, pedir uma indeminização ao Estado por danos ! José Sócrates foi o pior 1º ministro de sempre !

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  10. O Passos está-se a preparar, para na esteira do Chega, aparecer como próximo candidato a PR.
    Agora percebo onde o Ventura ia buscar apoio dentro do PSD para formar governo, que pelos vistos falhou.
    Temos de aturar mais uma múmia!

  11. E foste o pior que aconteceu a Portugal! Puseste os portugueses uns contra os outros, para poderes governar à vontade! Chamou-se “dividir para reinar”, uma táctica já bem conhecida desde os romanos…

  12. Depois da borrada que ele fez e da austeridade toda que ele aplicou, que afirmava que era para ficar, aqui o temos com a sua chantagem psicológica. Agora queixam-se que não há pedreiros. Nos tempos da troica as empresas de construção foram sujeitas a impostos abusivos que acabaram por falir . Os patrões e os empregados foram todos para o estrangeiro. Agora queremos um pedreiro e não temos. Tudo isto não passou de amadores que só resultou num verdadeiro retrocesso. Calhaus, pedras e patuá é que há mais. Isto é o exemplo dos que nos governam . Vejam a dívida que temos para pagar. Para a banca foram mais de 20 mil milhões. Um país amorfo sem perspectivas à vista.

  13. O Passos Coelho está fora da politica. Ninguém o quer de volta mas, pode falar não ?
    O José Sócrates quando fala, está lá toda a Comunicação Social para o ouvir repetir que é inocente e tudo foram erros do M.P.
    Sim, no seu tempo, foi criado um subsídio para os ciganos e outros coitadinhos que não têm trabalho ,nem casa, etc …
    O País foi muito mal gerido e claro corrupção com fartura que levou ao descalabro de o próprio José Sócrates ter que estender a mão à Europa mas, depois caiu, ou melhor a PJ apanhou-o no Aeroporto de Lisboa e ficou para a posteridade a célebre fotografia e, quem levou com a porrada toda foi o Passos Coelho. Sim, Passos Coelho apertou demasiado o cinto aos portugueses, daí O PSD estar fora do Governo há 8 anos e tem vindo a perder terreno …

  14. Se Portugal não tivesse corrupção poderia ter os mesmos ordenados do Luxemburgo. O Luxemburgo vive dos depósitos de muitos estrangeiros dando-lhes a fiabilidade que procuram. Isto é o suficiente para que permita dar à população um bom nível de vida.

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