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Parque indiano deixa guardas matar pessoas para salvar os rinocerontes

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Szilas / Wikimedia

Rinoceronte Indiano (Rhinoceros unicornis)

Rinoceronte Indiano (Rhinoceros unicornis)

O parque natural de Kaziranga, na Índia, permite que os seus guardas florestais possam atirar – e até matar – caçadores furtivos para salvar os rinocerontes. O problema é que o método controverso já apanhou várias pessoas inocentes.

O Kaziranga National Park, um parque natural em Assam, na Índia, é uma história de sucesso quando se trata da proteção e preservação de rinocerontes. Há um século, existiam apenas alguns rinocerontes-indianos na região. Atualmente, o parque abriga mais de 2.400, o equivalente a dois terços da população mundial.

No entanto, o método para assegurar o bem-estar destes animais é bastante controverso: os guardas do parque têm permissão para atirar – e até mesmo matar – potenciais caçadores que apareçam naquela zona. Até agora, há registo de 50 mortes.

Os guardas do parque levam tão a sério o seu dever que, em 2015, mais pessoas foram mortas graças a esta estratégia do que rinocerontes foram mortos por caçadores.

O objetivo destes caçadores é conseguir os chifres dos rinocerontes, geralmente vendidos por quantias que podem ultrapassar os cinco mil euros por cada 100 gramas, consideravelmente mais caro do que o ouro. A ideia é que estes chifres funcionam como uma cura milagrosa para todas as maleitas, desde o cancro até à disfunção erétil.

Será que o parque foi longe demais?

É certo que estes animais precisam de proteção mas a questão que tem vindo a ser colocada é se, antes de mais, o parque não está a ultrapassar os limites do razoável.

Os guardas do Kaziranga possuem, por exemplo, o mesmo poder que algumas forças armadas, sendo-lhes dado pelo próprio Governo. Ou seja, se algum dos trabalhadores matar uma pessoa não sofre qualquer tipo de punição.

Em 2013, quando o número de rinocerontes mortos por caçadores furtivos mais do que duplicou, os políticos locais exigiram uma atitude. O então chefe do parque, M. K. Yadava, logo propôs a rigorosa estratégia de coibir qualquer entrada desautorizada. Qualquer um que fosse encontrado dentro do parque “devia obedecer ou ser morto”.

O responsável justificou esta decisão com a crença de que os crimes ambientais, incluindo a caça furtiva, são mais graves do que o próprio assassinato. “Eles corroem a própria raiz da existência de todas as civilizações nesta terra de forma silenciosa”, afirmou.

Saber exatamente quantas pessoas são mortas no parque é extremamente difícil. “Nós não mantemos um registo”, disse um oficial do departamento florestal da Índia, que gere os parques nacionais do país, à BBC.

50 mortos, 2 presos

O diretor atual do parque, Satyendra Singh, explica que é difícil controlar os gangues de caça furtiva porque estes recrutam pessoas locais para os ajudar a entrar no parque, enquanto que os verdadeiros “atiradores” tendem a vir de países vizinhos.

Porém, Singh assegura que os guardas não atiram sem alertar primeiro os suspeitos. Se estes não responderem ou fugirem, aí são disparados tiros. Caso se rendam, são detidos.

Segundo o diretor, nos últimos três anos, 50 caçadores furtivos foram abatidos. No entanto, apenas duas pessoas foram presas e devidamente julgadas.

Para as pessoas que vivem próximas do parque, o número crescente de mortes tornou-se um grande problema. A área é densamente povoada e muitas das comunidades locais são grupos tribais que vivem na floresta há muito tempo.

De acordo com alguns testemunhos, há pessoas inocentes que já foram apanhados no meio do conflito.

Caso disso é Goanburah Kealing, que foi morto por guardas florestais, em dezembro de 2013, quando estava a cuidar das duas vacas da família. O pai acredita que os animais entraram no parque e o filho, que tinha graves problemas de aprendizagem, só entrou para tentar encontrá-las.

Além disso, não há vedações ou sinais que marquem as fronteiras do parque, por isso é fácil cometer um erro. As autoridades de Kaziranga dizem que os guardas só balearam o jovem porque este não respondeu ao aviso.

O caso de Akash

No entanto, é o caso de Akash Orang que se destaca entre todos. Em julho do ano passado, o rapaz, de apenas sete anos de idade, estava a voltar para casa pela estrada principal da aldeia, que faz fronteira com o parque, quando levou um tiro na perna.

As lesões foram tão graves que a criança teve de ser transportada de urgência para o hospital principal de Assam, a cinco horas de distância. Passados cinco meses e várias cirurgias, Akash ainda mal consegue andar, estando o seu irmão mais velho encarregue de o carregar durante a maior parte do tempo.

Na altura, o parque admitiu que cometeu uma falha terrível, pagou todas as despesas médicas e deu à família 200 mil rupias, aproximadamente três mil euros, de indemnização.

Esta foi a gota de água para os locais, que protestam contra a política do parque, especialmente pela forma como é conduzida. Além disso, está previsto que o Kaziranga duplique a sua dimensão nos próximos tempos, o que fez com que fossem emitidas várias ordens de despejo.

Recentemente, as autoridades locais despejaram duas aldeias, numa ação que motivou protestos violentos por parte dos habitantes e acabou com duas mortes.

E agora? Kaziranga é um caso de sucesso ou de preocupação?

11 Comments

  1. Caro ZAP, a imagem pertence a um Rinoceronte Africano (Espécie: Rinoceronte Branco “Ceratotherium Simum”) e o artigo é sobre Rinocerontes Indianos (Rhinocerus unicornis). Recomendo substituirem pela imagem apropriada, senão é como falar de elefante indiano e meter uma imagem de elefante africano.

  2. Caro ZAP, imagem está errada. Pertence à espécie Africana de Rinoceronte Branco (Ceratotherium Simum). O artigo é sobre o Rinoceronte Indiano (Rhinoceros unicornis) que é totalmente diferente, além das espécies nunca coabitarem pela óbvia separação geográfica.

    Recomendo a substituição da fotografia, senão será como falar de elefantes na India e colocar uma foto de Elefante Africano… Ou falar de Leopardos e meter fotos de Jaguares.

  3. Eu concordo plenamente, se não querem ser mortos que não tentem matar animais inimputáveis de qualquer coisa a título de ganancia, ainda por cima uma espécie que esteve ameaçada de extinção. Se tivessem feito isto pra todas as espécies extintas, que na altura eram ameaçadas de extinção, e foram vítimas de caça furtiva provavelmente ainda estariam a habitar na terra seres que não tem culpa de nada e são vítimas da estupidez e ganância humanas!
    É muito simples, se não queres ser morto não tentes matar! Os guardas estão de parabéns e os defensores dos direitos humanos peguem nos seus argumentos e metam-nos onde o sol não brilha! O ser humano não tem mais direitos e não é melhor do que qualquer outro animal a habitar a terra. Deixem de ser umas bestas egoístas e egocêntricas e parem de olhar pro seu umbigo e pode ser que consigam ver além de si mesmos e colocar-se na pele dos outros seres vivos mortos apenas pela ganância, pelo prazer mórbido de matar, vítimas da indiferença e do “humanismo” hipócrita.

  4. O ideal seria encontrar soluções para não existir mortes nem humanas nem dos animais, mas como muitas espécies já se extinguiram devido à caça excessiva, concordo que se proteja os animais em risco por todos os meios necessários.

  5. Concordo em pleno que se matem espécimes de homo sapiens sapiens em defesa dos rinocerontes. Finalmente que se vê uma decisão acertada em termos de verdadeira proteção de espécies em extinção !… Recorde -se que de homo sapiens existem no mundo 7000000000 ( 7 mil milhões) que estão a provocar graves desequilíbrios nos ecossistemas pois são predadores do piorou – tudo destroem á sua passagem, marimbando-se para as outras espécies, que também são criaturas de Deus… Concordo em pleno que sejam mortas quando movidos pela ganância estão a levar á extinsao , rinocerontes, elefantes e outros seres vivos como o sapiens é – só que esta espécie além de assasina é maquiavélica … Que morram alguns sapiens não faz falta nenhuma, numa perspectiva de equilíbrio dos ecossistemas … Esta medid devia extensiva a todos os parques de proteção de fauna e flora do mundo, devendo os sapiens serem condenados á sorte dos seres vivos que eliminam e até põem a risco a sobrevivência da especie!…

  6. Pois, eu defendo que quem matar um ser vivo que seja, seja ele qual for, deva ser morto.
    Eu comecei ontem a alimentar-se via fotossíntese. Até hoje ainda não precisei de matar ou mutilar qualquer ser vivo. Não suporto que se matem alfaces ou que se mutilem couves.
    Estou convencido de que irei provar que conseguimos viver muito bem através da fotossíntese, basta termos força de vontade, e eu tenho essa força.
    Se por acaso não sobreviver, não tem mal, há muitos animais como eu, da mesma espécie que a minha, e pelo menos o meu corpo irá alimentar muitas outras formas de vida enquanto me decomponho, nomeadamente as alfaces de que tanto gosto e que tão mal tratadas são.
    Um dia irão perceber-me…

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