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Parecia um enorme buraco negro no oceano. A verdade é muito mais sinistra

Google Maps

O buraco negro da Ilha de Vostok

Uma imagem sobre o meio do Pacífico parece mostrar uma crista que rodeia um buraco negro e assustador, que parece mergulhar profundamente na Terra. Na realidade, a mancha negra é muito mais assustadora.

São inúmeras e variadas as coisas inesperadas que o Google Maps nos permite descobrir — de um mafioso fugido à Área 51 chinesa, passando pelos destroços do MH370, um misterioso objeto submerso na costa da Grécia ou uma pirâmide misteriosa na do México.

Recentemente, mais um estranho objeto foi apanhado pelo Google Maps em pleno Oceano Pacífico: um enorme buraco negro.

A imagem, que é possível encontrar nas coordenadas -10.0667138,-152.3121475, parece mostrar uma crista que rodeia um buraco negro e assustador, que aparentemente mergulha profundamente na Terra.

Não tardaram a surgir teorias da conspiração para explicar a estranha formação. Algumas pessoas, conta o Metro, sugerem que será uma imagem desfocada de uma base militar instalada numa ilha deserta do Pacífico.

Outros, mais imaginativos, apontam que este buraco está nos antípodas do mítico Triângulo das Bermudas. “É por ali que saem as coisas que desaparecem” do outro lado?

O misterioso buraco está de facto do outro lado do mundo, mas o ZAP calculou a distância entre as coordenadas dos antípodas do ponto médio do Triângulo das Bermudas (25,4°S 109,5ºE) e do centro da mancha negra (10,3ºS 152°W). Bem, vão uns bons 10 mil quilómetros

Mas a realidade é, infelizmente, muito mais assustadora.

O “buraco negro” é na verdade uma densa floresta de árvores Pisonia grandis, uma angiospérmica da família Bougainvillea, na remota ilha de Vostok, a cerca de 640 km a noroeste do Tahiti.

Esta ilha é aparentemente tão bela como o paraíso tropical tahitiano — mas também mortífera, precisamente por causa da sua floresta.

As pisonias são conhecidas como “assassinas de pássaros” e guardam mesmo as provas do seu crime, emaranhadas nas suas densas copas: os ossos das suas vítimas aladas. Como arma do crime, estas árvores mortíferas usam as suas sementes super pegajosas.

Angela K. Kepler / Wikipedia

Noddies pretos (Anous minutus) e andorinhas-do-mar (Gygis alba) nidificam nas copas das árvores Pisonia (Pisonia grandis), num dos maiores povoamentos de pisonia do Pacífico, no Ilhéu dos Porcos, Atol Caroline, Kiribati.

Normalmente, as árvores espalham as suas sementes recorrendo a métodos variados. Frequentemente, usam o vento para as transportar, ou esperam que os animais as comam e “depositem” noutro local.

Mas numa ilha minúscula como esta, não há espaço para as sementes se espalharem, e as árvores precisam de uma solução mais radical.

As pisonias de Vostok desenvolveram sementes pegajosas, que se agarram às aves marinhas que nidificam na ilha remota, e que, esperam as árvores, caem muito tempo depois numa ilha diferente.

No entanto, as sementes são tão pegajosas que as aves podem acabar por ficar completamente enredadas nelas, e o sue peso impede-as frequentemente de levantar voo.

Em casos mais dramáticos, os pássaros ficam envolvidos nas sementes e completamente resinados, morrendo de fome, com os seus cadáveres mumificados pendurados nas árvores.

Alan E. Burger

Uma andorinha-do-mar-anã presa em sementes de pisonia

Estas árvores “assassinas de pássaros” podem ter um impacto devastador nas populações de aves.

Um estudo conduzido em 2005 pelo biólogo canadiano Alan Burguer na ilha Cousin, nas Seychelles, que tem uma floresta de pisonias, e publicado na Journal of Tropical Ecology, concluiu que estas árvores mataram um quarto das andorinhas-do-mar brancas e quase um décimo das cagarras tropicais.

Segundo o estudo, parece não haver qualquer benefício evolutivo para as sementes pegajosas das árvores “apanhadoras de pássaros” — que não recebem nutrientes adicionais à medida que as aves se decompõem no solo, nem os cadáveres cobertos de sementes são arrastados para as ilhas vizinhas.

“A extrema viscosidade das sementes evoluiu evidentemente para resistir à remoção pelas aves marinhas, facilitando assim a dispersão a longa distância“, escreve Alan Burger no Nature Seychelles.

Assim, o misterioso buraco negro no meio do Pacífico é na realidade um tenebroso cemitério de infelizes aves marinhas, apanhadas por sementes pegajosas ansiosas por espalhar a espécie de árvores assassinas que povoam uma ilhota.

Armando Batista, ZAP //

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