Patrões e sindicatos foram a Belém traçar o retrato do país e, ao contrário do que é habitual, parece haver um consenso: o quadro do país é negro e está longe de começar a melhorar.
Isabel Camarinha, líder da CGTP, foi a primeira a ser recebida pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, esta quarta-feira, e começou por afirmar que “estamos muito preocupados”. O desemprego, que subiu para os 7%, assusta e para Lucinda Dâmaso, presidente da UGT, “é provável que a taxa de desemprego venha a disparar”.
Segundo o Expresso, António Saraiva, presidente da CIP, sentou-se em frente a Marcelo para avisar que “há um perigo muito objetivo de aumento do desemprego”. “Lamentavelmente, antevejo que algum tecido empresarial vá desaparecer.”
“Não vamos ser cínicos e dizer que mesmo com o anterior modelo de lay-off o desemprego não ia aumentar. Vai, sim”, disse o responsável, numa crítica às medidas de apoio à economia lançadas pelo Governo que, na sua ótica, não são suficientes. Nem mesmo as últimas alterações feitas no regime de lay-off.
Vieira Lopes, da Confederação do Comércio, corroborou, garantindo que as medidas avançadas “não impedem o efeito em setembro de encerramento de empresas e de redução de quadros”. Neste quadro negro, o “desemprego é inevitável” e nem os fundos europeus ou o plano de retoma económica de Costa e Silva são uma garantia de melhoria.
“Os fundos só chegarão no segundo semestre de 2021 e a nossa preocupação é a de saber se o Estado tem capacidade técnica para aplicar e gerir esses fundos”, disse, referindo ainda que o plano Costa e Silva “é omisso em relação aos setores do turismo, comércio e serviços, que só por si representam 70% do PIB”.
A solução, essa, passa por um “choque de consumo”. A Confederação do Comércio quer baixar o IVA da restauração para estimular o consumo e reduzir as retenções na fonte dos salários dos trabalhadores, para aumentar os rendimentos e o poder de compra das famílias.
Francisco Calheiros, líder da Confederação do Turismo, foi o último a ser recebido. Sentou-se para afirmar que o setor é o mais prejudicado com a pandemia e que a não reposição do modelo de lay-off simplificado é “inexplicável”. “As medidas de apoio à economia teimam em não aparecer.”
Ora, com o desemprego a disparar não tarda, como querem um choque de consumo? Só se for consumo de ar que ainda não paga imposto (por enquanto)…