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Pandora Papers. Presidente do Chile enfrenta processo de destituição por suspeitas de corrupção

fotostvn / Flickr

Sebastian Piñera, Presidente do Chile

As revelações dos Pandora Papers envolvem o presidente chileno, Sebastian Piñera, na venda de uma empresa de minério nas Ilhas Virgens Britânicas através de uma companhia detida pelos seus filhos.

Depois de ver o seu nome implicado nos Pandora Papers, o presidente chileno vai ter agora de enfrentar um processo de destituição lançado pela oposição. O caso remonta a irregularidades na venda de uma empresa de minério através de uma companhia detida pelos filhos de Sebastián Piñera.

A oposição fala num “dever ético” de responsabilizar o presidente pelas suspeitas de irregularidades no seu envolvimento no polémico projecto Dominga. Piñera usou “o seu cargo para negócios pessoais“, acusou o congressista esquerdista Tomas Hirsch quando abriu o processo de impeachment que pode agora demorar várias semanas.

Já Jaime Naranjo, congressista também esquerdista e um dos responsáveis pelo processo de destituição, afirma que Piñera “violou abertamente a Constituição” e “comprometeu seriamente a honra da nação”.

Este avanço da oposição surge depois do procurador público chileno ter revelado este mês que iria abrir uma investigação a possíveis subornos, corrupção e fraude fiscal na venda da mineira Dominga em 2010, que foi feita através de uma empresa detida pelos filhos de Piñera ao empresário e amigo do presidente, Carlos Delano, por 152 milhões de dólares. A venda foi concluída nas Ilhas Virgens Britânicas durante o primeiro mandato de Piñera.

Para além disto, uma cláusula estaria no contrato que tornaria o último pagamento da venda dependente de que não se estabelecesse uma zona de protecção ambiental na área onde a mina opera, uma decisão que cabe ao presidente do país.

A investigação foi aberta depois das revelações feitas pelo Consórcio Internacional de Jornalistas na investigação sobre fraude fiscal e offshores dos Pandora Papers.

Sebastián Piñera, uma das pessoas mais ricas do Chile com uma fortuna avaliada em 2.5 mil milhões de dólares pela Forbes, já negou todas as acusações e defende-se dizendo que a venda já tinha sido analisada em tribunal em 2017.

“Enquanto presidente do Chile, nunca, nunca levei a cabo nenhuma acção ou gestão relacionada com a Dominga Mining”, afirmou.

Agora cabe à Câmara de Deputados do Chile, controlada pela oposição, decidir de a destituição é aprovada ou rejeitada. O voto vai ter lugar na primeira semana de Novembro e o país vai também a eleições presidenciais e legislativas no próximo mês. As sondagens apontam para um crescimento dos candidatos de esquerda.

Este pode ser o golpe final na presidência de centro-direita de Piñera, que está sob fogo também por ter declarado o estado de emergência em quatro províncias no sul do Chile onde tem havido confrontos entre o grupo indígena Mapuche e a polícia.

A região vive um período instável desde 2018, quando um homem que não estava armado foi morto pela polícia, que tentou encobrir o sucedido. O estado de emergência vai restringir o direito ao protesto e à liberdade de movimento e vai também aumentar a presença policial nas províncias.

Piñera ficou também mal na fotografia depois da repressão aos protestos contra o governo e a desigualdade económica que abalaram o Chile em 2019 e 2020.

Adriana Peixoto, ZAP //

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