Pandemia de covid-19 pode provocar avalanche de doentes oncológicos nos próximos anos

Especialista antecipa que as consequências diretas dos últimos 24 meses se deverão sentir nos próximos dois ou três anos.

Dois anos após a pandemia ter irrompido pelo mundo sem aviso, especialistas e profissionais de saúde começam a antecipar o que virá depois, com as consequências de ter quase a totalidade dos serviços de saúde direcionados para a covid-19 a fazerem-se naturalmente sentir. No que respeita ao cancro, estima-se que quase cinco mil diagnósticos tenham ficado por realizar entre março de 2020 e novembro de 2021, pelo que se pode prever uma “avalanche de doentes” nos próximos anos.

Na raiz do problema estão precisamente a alocação de recursos para a luta contra a covid-19, o que teve impacto nos diagnósticos e tratamentos, mas também o “medo” do vírus, com a população a optar por ficar mais recolhida e a evitar espaços hospitalares. Ao jornal Público, Luís Costa, diretor do serviço de oncologia médica do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, reconheceu que os diagnósticos de cancro eram um “problema grave contra o qual se estava a lutar” mesmo antes da pandemia, pelo que entende ser natural que, com todas as alterações que ocorreram nos últimos meses tenham ocorrido “atrasos nos diagnósticos“.

Por outro lado, o “medo” do vírus também é referido como justificação para muitos pacientes para não se atrasarem nos exames ou não comparecerem às consultas. “Há vários casos em que perguntamos porque é que o tumor chegou àquela fase e as pessoas dizem que foi por causa da covid-19 e que tinham medo de vir fazer os exames”.

As dinâmicas sociais deste período também são importantes para se entender a totalidade do problema. “O facto de haver pessoas de idade que não têm tanto contacto com os filhos facilita que as coisas se atrasem”, aprofunda Luís Costa, em declarações ao mesmo jornal. Há ainda doentes que justificam os atrasos com o facto de os exames terem sido desmarcados.

A componente respiratória da covid-19 também teve impacto, por exemplo, no diagnóstico dos cancros de pulmão, com o mesmo especialista a reportar casos de pessoas que foram enviadas para casa por terem testes negativos, quando na verdade tinham uma doença oncológica. “Quase parecia que, se não fosse covid-19, estava tudo bem. Mas não é assim: há muitas doenças que matam muito mais do que a covid-19.”

O médico é da opinião que os casos de cancro que estão atualmente a ser detetados “ainda não são os casos que ficaram por fazer rastreio” devido à pandemia. “Acho que esses ainda vão chegar”. De facto. Luís Costa perspetiva que, nos próximos cinco anos, exista uma avalanche de doentes com cancro. “Mas nos próximos dois ou três anos já se vai começar a verificar”.

O impacto na mortalidade será inevitável, com este ponto a já estar previsto a nível europeu. “Ainda conseguimos manter algumas pessoas com doenças mesmo em estádios avançados controlados durante algum tempo, mas só daqui a uns anos é que se vai comparar“, conclui.

ZAP //

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