As palavras cruzadas, que existem há cem anos na imprensa internacional, fazem bem ao vocabulário e à mente e têm resistido ao tempo, afirmou à agência Lusa Paulo Freixinho, que inventa estes passatempos em jornais portugueses.
Há registo da existência deste passatempo há vários séculos, mas considera-se que as palavras cruzadas modernas, na imprensa, surgiram a 21 de dezembro de 1913, quando o jornalista britânico Arthur Wynne, emigrado nos Estados Unidos, publicou um desafio com palavras no jornal New York World. Cumprem-se cem anos no sábado.
Esta é uma data importante para Paulo Freixinho, 45 anos, criador de palavras cruzadas há mais de vinte anos para cerca de dez publicações portuguesas, como os jornais Público e Jornal de Notícias e a revista Caras.
Actualmente dedica todo o seu tempo a ler e a inventar passatempos, rodeado de livros e de dicionários à procura de novas palavras para adicionar aos desafios, que também são publicados em periódicos portugueses na Alemanha e no Luxemburgo.
Para Paulo Freixinho, que já criou mais de vinte mil passatempos, as palavras cruzadas continuam a ser um bom desafio para a mente, sobretudo para o enriquecimento de vocabulário, mesmo que enfrentem algumas adversidades como a quebra de vendas dos jornais e revistas e uma maior dispersão da atenção dos leitores por outros entretenimentos.
“Acho que as palavras cruzadas nunca tiveram tanta visibilidade como agora, por causa da Internet. Houve uma altura em que, com o aparecimento do Sudoku, os jornais estavam a pedir menos palavras cruzadas, mas ainda há quem pare naquela página e resolva os problemas”, disse.
Paulo Freixinho tem ainda a experiência directa de contactar com leitores, como por exemplo crianças, nas visitas que faz às escolas e nos passatempos que cria para os mais novos.
“Acho que as palavras cruzadas são boas para quem gosta de saber mais e para quem gosta de conhecer mais palavras. Eu vivo rodeado de dicionários e leio bastante mais, para conhecer novas palavras na literatura”, admitiu.
Paulo Freixinho não é o único inventor de palavras cruzadas em Portugal – “há mais autores, não vivem todos exclusivamente disto e eu acho que até sou o mais novo” -, mas quebrou o anonimato e conquistou alguma visibilidade com a Internet, através de um blogue e das redes sociais.
Em 2011 editou o livro “Palavras Cruzadas com Literatura”, recorrendo apenas a obras da literatura portuguesa.
Apesar dos milhares de desafios já inventados, Paulo Freixinho exclamou que não se farta de palavras cruzadas: “Acho que é uma paixão para a vida. Ou melhor, não é paixão, que isso passa, é amor”.
Para assinalar, no sábado, o centenário das palavras cruzadas dos tempos modernos, Paulo Freixinho colocou no Facebook uma reprodução do primeiro puzzle de palavras, o tal criado por Arthur Wynne, com a forma de um diamante, sem quadrículas pretas, e com uma única palavra desvendada: Fun.
/Lusa