É dono da maior congregação de pirâmides do mundo, mas enfrenta uma das guerras mais sangrentas dos últimos anos. O país esquecido pelos fãs de faraós tem muita história para contar, mas falta oportunidade para a ouvir.
É Património Mundial da UNESCO, mas recebia em 2021 apenas 6% dos turistas do Egito. Agora, quem lá vai arrisca a vida. Falamos do Sudão, um país esquecido por décadas de colonialismo, guerra e fome.
Desde1882 a 1956 o Sudão esteve sob domínio da Grã-Bretanha colonial. Ao alcançar a independência, país mergulhou numa guerra civil profunda, que acabou por resultar na criação do Sudão do Sul.
Atualmente, desde 2023, uma das guerras mais sangrentas do mundo tem como palco o Sudão. Há estimativas que apontam para mais de 40 mil pessoas mortas no conflito entre as forças armadas e as Forças de Apoio Rápido (RSF) que se defrontam no país.De acordo com a Euronews, mais de 14 milhões de pessoas foram deslocadas e o país está submerso numa crise humanitária profunda.
Mas o que é facto é que este país é rico em cultura — só é arriscado visitá-la. Isto porque o Sudão, milhares de anos antes de todos os conflitos que enfrenta, pertenceu ao Egito, depois a invasão do seu território por Mentuhotep II, no século XXI a.C., recorda o The Telegraph.
O país tem, na verdade, mais pirâmides que o Egito — são centenas, e as pirâmides de Meroë, que foi capital de uma das primeira civilizações de África — o Reino de Kush, cujos reis, os Faraós Negros, conquistaram o Egito em 747 a.C —, são consideradas por muitos “as maravilhas das maravilhas”.
São mais de 200 estruturas espalhadas pelo areal, e segundo conta o arqueólogo e diretor do sítio de Meroë, Mahmoud Suliman, à National Geographic, “É a maior congregação de pirâmides do mundo”, e as paredes estão repletas de desenhos bem conservados de elefantes, girafas e gazelas.
Ao longo de toda a região que ladeia o rio Nilo, há vastos conjuntos de pirâmides bem conservadas, com túmulos de faraós egípcios. No interior dos túmulos, encontra-se uma característica que no Egito não existe: as esculturas dos reis são mais altas do que as dos deuses. Os reis dominavam tudo.
“Estes reis e rainhas eram muito populares”, conta Aya Allam, uma artista sudanesa que vive em Cartum. “São um lembrete de que já fomos uma grande nação e que podemos voltar a ser grandes“.
Resta saber quanto tempo falta para esse momento. As pirâmides, essas, continuam a assistir aos conflitos e a toda a resistência do povo sudanês — são testemunhas silenciosas da História.