A ilha italiana de Lampedusa saltou para as páginas da imprensa mundial a 3 de Outubro, quando 366 imigrantes que tentavam chegar à Europa morreram num naufrágio, mas, desde então, os barcos não pararam de chegar.
Ainda na quarta-feira, cerca de 265 imigrantes oriundos de vários países africanos que, a bordo de três embarcações, pretendiam alcançar a pequena ilha situada entre a Sicília e a Tunísia, foram socorridos pela Marinha italiana.
Nas 24 horas anteriores, 900 outros imigrantes tinham sido recolhidos nas águas do Mediterrâneo, patrulhadas por um destacamento naval italiano desde os vários naufrágios de Outubro, um dos quais, no dia 3, causou a morte a 366 imigrantes, na maioria oriundos da Eritreia, e catapultou Lampedusa para o palco mundial.
Desde essa altura, o debate político sobre os fluxos migratórios tem crescido na União Europeia. Estava na agenda do Conselho Europeu de final de Outubro, quando os líderes europeus emitiram uma declaração conjunta defendendo “acções firmes para prevenir a perda de vidas no mar e evitar que tais tragédias humanas se repitam”.
O tema acabou, porém, por ser ofuscado pelos efeitos do escândalo da espionagem dos Estados Unidos às conversas telefónicas da chanceler alemã, Angela Merkel. Mas, apesar de tudo, foi criada uma equipa de intervenção para avaliar as migrações no Mediterrâneo, que deverá apresentar um relatório no Conselho Europeu desta semana.
Lampedusa personifica o desespero dos imigrantes que tentam a todo o custo chegar à Europa, mas está longe de ser o único porto de destino de quem foge à guerra ou à fome, quando não a ambas. As costas de Espanha e Grécia são especialmente vulneráveis, embora actualmente mais distantes dos holofotes mundiais.
A propósito do Dia Internacional dos Migrantes, que se assinala na quarta-feira, as Nações Unidas publicam, para assinalar a data, uma fotografia de dois barcos abandonados por migrantes que deram à costa em Lampedusa.
A ilha italiana com uma população de seis mil pessoas, não raramente superada em número pelos imigrantes em acampamentos improvisados, foi igualmente o primeiro destino que o papa Francisco visitou na Europa. Durante a visita, em Julho, o centro de detenção, com capacidade para abrigar 380 pessoas, estava, como habitualmente, lotado.
Três meses depois do papa, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, visitou Lampedusa, anunciando 30 milhões de euros para apoiar a Itália na gestão dos fluxos migratórios. Cerca de 25 mil imigrantes entraram em Itália ao longo deste ano, três vezes mais do que em 2012, segundo as autoridades de Roma.
São dezenas de milhares os candidatos à imigração, sobretudo oriundos da África subsariana, mas também de Síria, Líbia, Egipto, Iraque e Afeganistão, que, a bordo de embarcações em mau estado e pouco seguras e depois de pagarem somas avultadas a redes de passadores, entram anualmente na lotaria da chegada ao continente europeu.
Mas esta não é a única rota. No ano passado, 62 mil imigrantes tentaram chegar ao continente asiático, arriscando a vida na travessia do perigoso Golfo de Áden.
No continente americano, a Colômbia continua a ser o país de onde mais pessoas tentam escapar, sobretudo para Panamá, Venezuela e Equador.
Em 2013, mais de 16 milhões de pessoas abandonaram os seus países na sequência de guerra, fome ou catástrofes naturais, um aumento face a anos anteriores, sobretudo devido à crise síria, responsável por mais de dois milhões de refugiados.
/Lusa