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Onda de massacres na Colômbia fez 39 mortes em apenas duas semanas

Ernesto Guzman / EPA

Lucila Huila, no funeral dos dois filhos, Hiner e Esneider Collazos, assassinados por desconhecidos em El Tambo

Sete massacres em duas semanas. Este é o resultado da onda de violência que atinge a Colômbia, onde pelo menos 39 pessoas foram mortas durante os distúrbios mais recentes. O país já viu acontecer 46 massacres só este ano.

Após o último massacre, na noite de terça-feira, os corpos de três jovens foram encontrados perto de uma estrada nos arredores de Ocaña – uma cidade próxima da fronteira do país com a Venezuela. Este foi o sétimo massacre em apenas duas semanas, e já se contam 39 pessoas vitimas.

Este quadro de violência não é uma novidade para os colombianos. Só durante este ano, o país já presenciou 46 massacres. “Vivemos com uma sensação de medo constante. Podemos ser mortos a qualquer momento, mas o governo pouco irá fazer para nos salvar”, afirma um líder comunitário de uma cidade perto de Ocaña, que pediu para não ser identificado por receio de represálias.

Em 2016, um acordo de paz com o maior grupo rebelde do país, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), pôs fim a cinco décadas de guerra civil que matou mais de 260 mil pessoas, e fez mais de 7 milhões de desalojados.

Quando celebrado, o acordo tinha o objetivo de trazer maior segurança e desenvolvimento para as regiões mais pobres da Colômbia. Contudo, parece que o vínculo de “paz” criado, nada contribuiu para melhorar o ambiente de violência na Colômbia.

Atualmente, algumas fações das Farc continuam a lutar pelo controlo territorial, unindo-se a círculos extremistas como o Exército de Libertação Nacional (ELN), grupos paramilitares de direita, cartéis de droga, e militares colombianos.

Os alvos têm sido especialmente ativistas de direitos humanos, uma vez que este ano já foram assassinados mais de 100. A pandemia foi o argumento perfeito para alguns grupos armados exercerem pressão em várias regiões do país. De acordo com uma universidade local, pelo menos 30 pessoas foram assassinadas por “furar” a quarentena.

Sergio Guzmán, diretor da Colômbia Análise de Risco, culpa o governo pelo que se está a passar. “Falhou em não seguir o projeto traçado pelo acordo de paz. E a menos que isso mude, e vejamos um desenvolvimento genuíno e não apenas uma resposta militar, estas mortes vão continuar a acontecer”, diz Guzmán.

Iván Duque, presidente da Colômbia, sempre foi cético em relação ao acordo de paz que herdou quando assumiu o cargo há dois anos, relata o The Guardian.

O jornal britânico afirma que Duque culpou os grupos do narcotráfico pelo recente derramamento de sangue, e ordenou que as Forças Armadas fossem “implacáveis” a dar resposta a este problema que está a assombrar a população. Porém, o presidente acabou por receber duras críticas à forma como se referiu aos massacres, descrevendo-os como “homicídios coletivos”.

Embora a atual onda de massacres tenha suscitado comparações com os conflitos do final dos anos 90, os analistas garantem que a dinâmica atual dos grupos armados é mais complicada.

Gimena Sánchez, defensora de direitos humanos na Colômbia, afirma que “no passado, havia linhas e motivos ideológicos claros. Agora este grupos fragmentaram-se e criaram as suas próprias fações. A menos que haja uma mudança radical na atitude política de Duque, e das elites económicas do país, as coisas vão continuar a piorar”.

ZAP //

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