A OCDE admite que a economia portuguesa possa cair 11,3% em 2020 e que o desemprego aumente para 13%, se houver uma segunda onda de contágios, antecipando uma retoma lenta e que podem ser necessárias medidas de apoio adicionais.
No relatório com as previsões económicas mundiais divulgado hoje (‘Economic Outlook’), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) considera dois cenários para evolução da economia portuguesa em 2020 e 2021 consoante o país enfrente ou não uma segunda onda de contágios do novo coronavírus, sendo que em ambos o caso antecipa uma recessão mais forte do que o Governo.
Num cenário que considera apenas a onda de contágios verificada na fase inicial da pandemia de covid-19 e as medidas de confinamento então tomadas, a OCDE projeta uma recessão de 9,4% este ano e um crescimento do PIB de 6,3% no próximo ano.
No cenário macroeconómico que acompanha a proposta de Orçamento Suplementar para 2020, o Governo aponta para uma contração do PIB de 6,9% em 2020 devido aos efeitos da pandemia.
Assumindo uma segunda onda e novas medidas de confinamento, a OCDE vê o Produto Interno Bruto (PIB) a registar uma quebra de 11,3% em 2020, seguida de um crescimento de 4,8% em 2021.
Neste caso, assinala a OCDE, “a recuperação será mais lenta”, devido ao impacto negativo mais prolongado nas exportações, à maior incerteza, aumento de falências e maior dificuldade de os desempregados saírem desta situação.
Relativamente ao desemprego, a OCDE antecipa que a taxa suba para 13,0% em 2020, registando uma descida para 11,8% no próximo ano – tendo em conta o cenário de uma segunda vaga de infeções.
O efeito da pandemia nas exportações será também significativo, com a OCDE a projetar uma queda de 18,5% nas vendas ao exterior, ainda que antecipe que este indicador regresse a terreno positivo no ano seguinte, aumentando 3,5%.
Assinalando que o período de confinamento de cerca de dois meses levou a uma quebra homóloga de 20% da atividade económica, a OCDE sublinha que, apesar de o processo de fim do confinamento ter começado em maio, a recuperação vai ser lenta e que poderão ser necessárias medidas adicionais, para além das já tomadas pelo Governo e do novo pacote de medidas para a segunda metade do ano, contemplado no Programa de Estabilização Económica e Financeira (PEES).
“Poderão ser necessárias medidas adicionais” sobretudo se houver uma nova vaga de infeções e necessidade de novo confinamento, refere a OCDE, assinalando que a subida do valor pago aos trabalhadores colocados em ‘lay-off’ permitirá dar maior suporte ao rendimento familiar e substituir outras medidas de apoio, como a dos empréstimos para o pagamento de rendas.
A OCDE defende também medidas que garantam a viabilidade económica das empresas a longo prazo, nomeadamente a concessão de garantias públicas para evitar uma escalada do incumprimento de crédito e a redução de impostos em substituição da atual medida que permite o pagamento faseado de alguns impostos.
A OCDE avisa ainda que esta crise pode trazer novos riscos para a estabilidade do sistema financeiro.
“Uma recuperação lenta poderá desencadear uma onda de falências sobretudo nos setores mais afetados, com efeitos no setor financeiro, através de uma significativa subida dos rácios de incumprimento, que ainda permanecem elevados”, refere o documento.
Após o excedente orçamental registado em 2019, a OCDE estima agora que Portugal tenha pela frente dois anos consecutivos de forte desequilíbrio, apontando para um défice de 9,5% em 2020 e de 7,4% em 2021 no cenário de segunda vaga de contágios e necessidade de novo confinamento.
Na ausência de nova vaga da doença, o défice deverá ser de 7,9% este ano e de 4,7% em 2021.
Também aqui as previsões da OCDE são mais pessimistas do que as do Governo português que espera um défice das contas públicas de 6,3% do PIB em 2020.
Relativamente à trajetória da dívida pública na ótica de Maastricht (a que conta para Bruxelas), a OCDE espera uma subida do rácio para 139,9% do PIB em 2020 e 137,9% em 2021 (assumindo nova vaga de infeções) ou para 135,9% do PIB em 2020 e 131,4% em 2021 (sem segunda vaga).
OCDE estima contração de 11,5% na zona euro
A OCDE estima que a economia da zona euro registe este ano uma contração recorde que pode chegar a 11,5% do Produto Interno Bruto (PIB), devido à pandemia de covid-19 e às medidas para a conter.
A incerteza em torno da evolução da pandemia levou a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) a incluir dois cenários no seu relatório de previsões económicas mundiais (‘Economic Outlook’), hoje divulgado.
O primeiro cenário é com a pandemia controlada, já o segundo é caso se registe uma segunda vaga de contágios.
Em ambas as situações, as projeções apontam para uma recessão recorde na zona euro, para uma acentuada subida da taxa de desemprego na casa dos dois dígitos e para uma subida do rácio da dívida pública acima dos 100% do PIB.
Assumindo que não haverá nova vaga de contágios e necessidade de novo confinamento, a economia da zona euro conhecerá este ano uma recessão de 9,5%, arrastada pela quebra de 9,9% do consumo privado, de 11,6% do investimento e 8,0%% da procura interna.
É esperado que estes indicadores entrem em terreno positivo em 2021 e que o conjunto das economias que integram a moeda única avance 6,5%.
Segundo a OCDE a taxa de desemprego aumentará para 9,8% este ano, registando um ligeiro decréscimo, para 9,5%, em 2021.
Todos estes indicadores serão ainda mais negativos, caso volte a registar-se uma segunda vaga de contágios por covid-19 e seja necessário avançar com novas medidas de confinamento.
Neste cenário, as projeções da OCDE apontam para uma contração do PIB de 11,5% este ano, seguida de um crescimento de 3,5% em 2021.
Relativamente ao desemprego, a Organização liderada por Angel Gurría, projeta uma subida da taxa para 10,3% este ano e novo agravamento em 2021, atingindo 11,0%.
A OCDE acentua que até 2021 os níveis de produção e de emprego se vão manter abaixo dos registados na era ‘pré-pandemia’, situação que será especialmente agravada em caso de novo foco de contágios e que contribuirá para evidenciar as divergências entre os vários países da zona euro.
Para a Organização, os países devem manter os apoios financeiros e orçamentais até pelo menos 2021, sendo que uma retirada prematura destas medidas terá efeitos negativos nos processos de recuperação.
A OCDE considera positivos e bem-vindos os pacotes de medidas aprovado no âmbito do Eurogrupo e o Fundo de Recuperação de 750 mil milhões de euros proposto pela Comissão Europeia, mas assinala que a ausência de uma resposta efetiva a nível europeu, tem feito com que a crise esteja a ser suportada “quase exclusivamente” pelos orçamentos nacionais.
“Uma resposta orçamental conjunta é essencial para apoiar a recuperação”, refere o documento, notando que os países mais atingidos pela crise pandémica são os mesmos que têm menos margem orçamental para lhe fazer frente.
“Subvenções financiadas por emissão de dívida comum aliviariam a pressão sobre os orçamentos nacionais” e contribuiriam para uma “recuperação mais dinâmica”, aponta ainda a OCDE, considerando que seria positiva uma rápida aprovação do programa delineado pela CE.
As projeções da OCDE são mais pessimistas que as do Banco Mundial, que prevê uma queda de 9,1% da economia da zona euro em 2020 e do que as do Fundo Monetário Internacional (FMI), que aponta para uma quebra de 7,5% em 2020.
Junto das instituições europeias, a Comissão Europeia antecipa uma recessão 7,7% do PIB para a zona euro, e o Banco Central Europeu (BCE) prevê uma queda de 8,7%.
ZAP // Lusa
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