O sushi é um perigo para a saúde?

Nos dias de hoje, existe cada vez mais pessoas a gostarem de comer sushi, mas será que se está a colocar em perigo a própria saúde?

Hyejeong Lee, uma estudante de doutoramento da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, enquanto estava a pesquisar para a sua dissertação, passou meses a comprar sushi em mercearias locais.

De acordo com o Nautitus, em vez de o comer, Lee que estuda microbiologia e segurança alimentar, submeteu o peixe a experiências.

Cortou pequenos pedaços, picou-os e misturou-os num caldo rico em nutrientes chamado solução de peptona.

De seguida, colocou o caldo em placas de ágar, utilizado para o crescimento de culturas bacterianas no laboratório.

Lee e a sua orientadora, Anita Nordena Jakobsen, esperaram e as placas de ágar não tardaram a desenvolver pequenas manchas amareladas — colónias de Aeromonas, bactérias que se encontram habitualmente no peixe cru, na água e no solo.

Como o sushi se tornou um alimento favorito na Noruega, os cientistas queriam saber se o peixe cru representa alguma ameaça para o saúde pública, diz Jakobsen, que estuda microbiologia alimentar aplicada.

As aeromonas não são o mais perigoso dos agentes patogénicos — normalmente não afetam pessoas com sistemas imunitários saudáveis.

Podem, no entanto, afetar os idosos e as pessoas com deficiências imunitárias, causando diarreia e infeções em feridas.

Mas, ainda mais preocupante para os cientistas foi o facto das Aeromonas poderem facilmente trocar o seu material genético com outras bactérias presentes no ambiente — e, nesse processo, adquirir alguns genes que as podem tornar muito mais perigosas.

A Organização Mundial de Saúde nomeou a resistência antimicrobiana como uma das 10 principais ameaças globais à saúde pública que a Humanidade enfrenta.

Assim, de acordo com Jacobsen, o facto do jantar de sushi poder conter bactérias portadoras de genes resistentes a antibióticos é preocupante.

Mesmo que estas bactérias resistentes aos antibióticos não façam com que a pessoa que come o sushi fique doente no imediato, continuam a representar uma ameaça para a saúde pública, uma vez que podem passar dos pratos para as mãos, para a roupa e muito mais.

E quando causam doenças, tornam uma infeção muito mais difícil — e, por vezes, impossível — de tratar.

Assim, à medida que estes micróbios resistentes se infiltram nos ambientes humanos, podem adoecer pessoas vulneráveis — ou trocar os seus genes de resistências com agentes patogénicos mais agressivos, tornando-os mais perigosas ou mortais.

Não foi a primeira vez que a equipa de Jakobsen colocou o sushi sob o microscópio. Num estudo de 2019, descobriram fontes terrestres peculiares de Aeromonas: as cebolinhas que são enroladas em alguns pratos de sushi na Noruega.

Uma vez que estes vegetais são servidos crus, podem albergar Aeromonas do solo. “As Aeromonas estão presentes em todo o lado, na água, mas também no solo”, afirma.

Atualmente, muitos consumidores procuram alimentos crus, inalterados por produtos químicos ou cozinhados, em parte porque acreditam que os alimentos crus “naturais” são melhores para a saúde, uma mensagem que, até agora, não é apoiada por provas científicas.

“Atualmente, muitas pessoas querem alimentos menos conservados. Querem alimentos naturais, que são vistos como mais saudáveis e melhores para nós”, diz Jakobsen.

O lado negativo é o aumento do risco de contaminação microbiana. Mas “as barreiras” naturais podem impedir a proliferação de bactérias sem recorrer a produtos químicos prejudiciais à saúde.

Por exemplo, a equipa descobriu que quando as fatias de peixe cru são colocadas em cima de arroz com vinagre — o tipo de arroz normalmente servido com sushi — as bactérias crescem mais lentamente, porque não gostam do ambiente ácido. E, claro, quanto mais tempo um almoço de sushi embalado ficar na prateleira, mais tempo estas bactérias têm para crescer.

Segundo Jakobsen, a solução não passa necessariamente por deixar de comer o seu peixe preferido, mas a descoberta acrescenta relevância à crise da resistência aos antibióticos.

“Trata-se de um aviso extra”, diz Lee. “Usamos tantos antibióticos na produção de alimentos, na aquacultura e na pecuária”.

Com estas conclusões, Lee diz que “precisamos realmente de construir sistemas sustentáveis de produção de alimentos”.

Comer ou não sushi, eis a questão.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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