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O pai da palavra “meandros” é um rio turco (e o seu futuro é incerto)

(dr) NASA Earth Observatory

Imagem de satélite do sinuoso rio Büyük Menderes, na Turquia

No sudoeste da Turquia, há um sinuoso rio que moldou a história humana. Agora, é a vez de os humanos esculpirem o seu curso futuro.

A água do rio começa a sua jornada numa nascente escondida numa encosta rochosa da Anatólia, passa por um canal estreito e por terras de pastagens e olivais até chegar a um desfiladeiro íngreme. Depois, aventura-se num vale plano que se estende até ao Mar Egeu e, ao longo da planície, o curso do rio encaracola-se como se fosse uma cobra.

Segundo o Atlas Obscura, Büyük Menderes é o mais longo rio a fluir para o Egeu e, na antiguidade, era conhecido como Maíandros – o “pai” da palavra “meandro”, usada para descrever curvas sinuosas no curso de um rio ou riacho.

Para os cientistas, Büyük Menderes é uma fonte de contínuo fascínio. O padrão do rio chegou até a intrigar Albert Einstein, que em 1926 ponderou as leis da Física que poderiam explicar as suas curvas.

Apesar do seu pesado significado, o rio é apenas um “bebé”: os seus atuais cursos superiores e médios eram originalmente riachos separados que se alimentavam em pequenos lagos durante a última Era do Gelo. A certa altura, há pouco mais de 10 mil anos, juntaram-se e fluíram para oeste.

Os cientistas não sabem o motivo que levou os diferentes riachos a unirem-se num único rio – ainda que a erosão seja uma possibilidade -, mas Büyük Menderes corre através de uma área sismicamente ativa.

Certo é que o curso do rio nem sempre foi o mesmo e tem mudado ao longo dos milénios. Exemplo disso é o maior lago criado pelo Büyük Menderes, o Lago Bafa, uma “fatia do mar” separado do Egeu pela sedimentação.

Nas proximidades, estão também as ruínas da antiga cidade portuária de Mileto, construída numa ilha, que fica agora a cerca de seis milhas para o interior. A cidade, que já foi um centro do comércio, foi abandonada no século XVI depois de o seu porto se ter tornado irremediavelmente assoreado.

Mas os dias de mudança chegaram ao fim.

As barragens reduziram a quantidade de sedimentos transportados pelo rio e, juntamente com a seca e as necessidades de irrigação para as colheitas de algodão, reduziram o volume do rio.

O aumento do escoamento agrícola e industrial também introduziu altos níveis de metais pesados ​​e outras toxinas na água, que é a casa de mais de 250 espécies de aves aquáticas e enguias europeias ameaçadas de extinção.

Atualmente, mais de 10.000 anos depois de o Büyük Menderes ter começado a desenhar a sua marca no interior da Anatólia, o seu futuro – e a sua próxima curva – são incertos.

Liliana Malainho, ZAP //

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