O nosso telemóvel está a alimentar a guerra na RD Congo

Os rebeldes tomaram conta de várias cidades importantes: em causa está a origem das nossas baterias — obtidas num país onde violações, mortes e fome são cada vez mais recorrentes.

A coligação rebelde Aliança do Fogo do Congo (AFC), de que se destacam as forças M23, reivindicou a tomada de mais uma cidade mineira na parte oriental da República Democrática do Congo (RDC), pouco mais de uma semana depois de ter tomado o controlo da maior cidade da região, Goma.

É um conflito interno que se tem estendido ao longo de três décadas, mas tem assistido a um desenrolar cada vez mais brutal da guerra: os combatentes violam as populações, matam indiscriminadamente e, para juntar ao pesadelo, a propagação de vírus como o Ébola agravam cada vez mais a crise humanitária no país.

Depois de um breve cessar-fogo, os rebeldes continuam a ocupar zonas altamente ricas em recursos, mais propriamente em minerais críticos. Esses minerais são um dos principais motivos da guerra civil — os rebeldes querem ter o controlo das minas.

“O acesso aos recursos naturais está no centro deste conflito”, explicou à CNN o analista Jean Pierre Okenda, a propósito da tomada de posse de territórios no Leste pelo M23. “Não é uma coincidência que as zonas ocupadas pelos rebeldes sejam zonas mineiras”, comentou.

Na verdade, 40% do tântalo distribuído em todo o mundo provém da RDC. O minério através do qual se extrai este metal é o coltan, presente nas minas do país africano. Mas que substância é esta?

O tântalo presente no seu dispositivo móvel pesa menos de metade de uma ervilha, compara a BBC, mas é essencial para o funcionamento eficiente de qualquer smartphone e de quase todos os outros dispositivos eletrónicos sofisticados.

Ao comprar um telemóvel, estamos a comprar tântalo, um metal raro, azul-acinzentado e brilhante, utilizado para manter a bateria duradoura.

Teoricamente, a lei Dodd-Frank dos EUA, aprovada em 2010, e um ato legislativo que se assemelha a esse da UE, visam garantir que as empresas que compram estanho, tântalo, tungsténio e ouro — os chamados “minerais de conflito” — não estão a financiar a violência.

Para além disso, o Ruanda, país vizinho, é também acusado de tentar extrair estes minerais críticos, invadindo zonas da RDC. “As exportações de minerais do Ruanda aumentaram depois de as suas forças terem assumido o controlo de zonas mineiras importantes na RDC”, disse à CNN o Ministro das Comunicações do país, Patrick Muyaya.

Porém, ainda em dezembro último a RDC acusou a Apple de obter tântalo nas minas dominadas pelas forças rebeldes.

O analista Okenda resume: “É preciso dinheiro para fazer a guerra. O acesso aos locais de extração mineira financia a guerra”.

Os nossos telemóveis são então como uma moedinha que, inocentemente, depositamos no mealheiro dos rebeldes.

Carolina Bastos Pereira, ZAP //

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