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O misterioso Oumuamua pode ser um pedaço de um planeta semelhante a Plutão

Um novo estudo revela que o Oumuamua, o primeiro objeto interestelar a passar pelo nosso Sistema Solar, é provavelmente um fragmento de um planeta semelhante a Plutão.

Descoberto em 2017 pelo observatório astronómico Pan-STARRS no Havai, 1I / 2017 U1 ‘Oumuamua, que significa “mensageiro” em havaiano, passou a 87,3 quilómetros por segundo. O objeto estranhamente plano era semelhante a um cometa, mas com características suficientemente estranhas para desafiar essa classificação.

O mundo da astronomia debruçou-se no estudo do corpo celeste e as mais várias teorias já foram apresentadas em artigos científicos: desde o seu passado violento, passando pela possibilidade de ser um sistema binário, e o provável local de onde veio o Oumuamua. O Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian até sugeriu que o asteróide poderia ser uma “sonda” enviada à Terra por uma “civilização alienígena”.

Segundo os autores do novo estudo, as características do Oumuamua sugerem que provavelmente é feito de nitrogénio sólido, como a superfície de Plutão. “Provavelmente foi arrancado da superfície por um impacto há cerca de 500 milhões de anos e expulso do seu sistema original”, explicou Alan Jackson, astrónomo e cientista planetário da Universidade Estadual do Arizona, nos Estados Unidos, em comunicado.

De acordo com o coautor, o Oumuamua provavelmente não era plano quando entrou no nosso Sistema Solar, mas derreteu até ficar uma lasca, perdendo mais de 95% da sua massa, durante o seu encontro próximo com o Sol.

“Ser feito de nitrogénio congelado também explica a forma incomum do Oumuamua. Conforme as camadas externas de gelo de nitrogénio evaporaram, a forma do corpo ter-se-ia tornado progressivamente mais achatada, assim como um sabão quando as camadas externas são removidas com o uso”, disse Jackson.

A partir de observações do objeto, Jackson e o colega Steven Desch determinaram várias características do objeto que diferiam do que seria esperado de um cometa.

Primeiro, o objeto entrou no Sistema Solar a uma velocidade menor do que seria esperado, indicando que não viajava no Espaço interestelar durante mais de mil milhões de anos.  Além disso, a sua forma de panqueca também era mais achatada do que qualquer outro objeto conhecido do Sistema Solar.

O objeto foi empurrado levemente para longe do Sol, um “efeito de foguete” comum em cometas quando a luz solar vaporiza o gelo que os constitui, mas o impulso foi mais forte do que o normal.  Finalmente, o objeto carecia de um gás detetável a escapar, que geralmente é representado visivelmente pela cauda de um cometa.

Desch e Jackson propuseram a hipótese de que o objeto era feito de gelos diferentes e calcularam a rapidez com que esses gelos se sublimariam – passando de um sólido para um gás – conforme Oumuamua passava pelo Sol. A partir daí, calcularam o efeito de foguete, a massa e a forma do objeto e a refletividade do gelo.

“Foi um momento emocionante para nós”, disse Desch. “Percebemos que um pedaço de gelo seria muito mais reflexivo do que se estava a presumir, o que significava que poderia ser mais pequeno. O mesmo efeito de foguete daria a Oumuamua um impulso maior, maior do que os cometas normalmente experimentam.”

Um pedaço de um Plutão interestelar?

Desch e Jackson encontraram um gelo em particular – nitrogénio sólido – que fornecia uma correspondência exata para todas as características do objeto simultaneamente. Como o gelo de nitrogénio sólido pode ser visto na superfície de Plutão, é possível que um objeto semelhante a um cometa seja feito do mesmo material.

“Sabíamos que tínhamos acertado na ideia quando concluímos o cálculo de qual albedo [quão reflexivo é o corpo] faria o movimento de Oumuamua corresponder às observações”, disse Jackson. “Esse valor acabou por ser o mesmo que observamos na superfície de Plutão ou Tritão, corpos cobertos por gelo de nitrogénio.”

Desch e Jackson calcularam a taxa na qual pedaços de gelo de nitrogénio sólido teriam sido arrancados das superfícies de Plutão e corpos semelhantes no início da história do nosso Sistema Solar e a probabilidade de que pedaços de gelo de nitrogénio sólido de outros Sistemas Solares atingirem o nosso.

Os investigadores esperam que futuros telescópios, como os do Observatório Vera Rubin/Large Synoptic Survey Telescope, no Chile, que serão capazes de fazer levantamentos regulares de todo o céu meridional, consigam começar a encontrar ainda mais objetos interestelares.

À medida que são encontrados e estudados, os cientistas poderão continuar a expandir a compreensão sobre como são os outros sistemas planetários e as forma pelas quais são semelhantes ou diferentes do nosso próprio Sistema Solar.

“Espera-se que numa década ou mais possamos adquirir estatísticas sobre que tipos de objetos passam pelo Sistema Solar e se pedaços de nitrogénio são raros ou tão comuns como calculamos”, disse Jackson. “De qualquer forma, devemos conseguir aprender muito sobre outros sistemas solares e se passaram pelos mesmos tipos de histórias de colisão do que os nossos”.

Os investigadores apresentaram o estudo esta quarta-feira na 52ª Conferência de Ciências Lunares e Planetárias e publicaram esta semana dois artigos na revista científica Journal of Geophysical Research: Planets, que podem ser consultados aqui e aqui.

Maria Campos, ZAP //

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