Uma nova arma de ondas de rádio desenvolvida pelo Exército Britânico consegue atingir drones a mais de um quilómetro de distância, perturbando os seus sistemas eletrónicos e abatendo-os. Ao preço de uma chiclete.
À medida que as guerras modernas se travam com drones cada vez mais avançados, também as estratégias de defesa contra este tipo de armas autónomas se revelam mais sofisticadas.
Na linha da frente do desenvolvimento de contramedidas para armas não tripuladas parece estar o Reino Unido — que guarda na memória as bombas voadoras V1 e V2 com que os nazis aterrorizaram o sul de Inglaterra durante a II Guerra Mundial.
Recentemente, um soldado britânico disparou pela primeira vez uma arma laser de alta potência montada num veículo de combate blindado, destruindo uma série de alvos de drones fixados em tempo real.
Agora, o Ministério da Defesa do Reino Unido revelou que está a testar uma arma futurista capaz de abater drones usando apenas ondas de rádio — um tipo de radiação eletromagnética cuja frequência é menor do que as frequências das micro-ondas e do infravermelho.
Esta arma de energia dirigida por radiofrequência, ou “RFDEW“, está a ser desenvolvida há algum tempo, mas os soldados britânicos tiveram recentemente a oportunidade de a testar, revelou o ministério em comunicado.
E se é verdade que um enxame de drones capaz de lançar ataques devastadores custa cada vez menos a produzir, também as armas capazes de os destruir saem cada vez mais baratas: cada “tiro” do RFDEW custa menos do que uma chiclete, detalha o comunicado — apenas 13 cêntimos.
Em janeiro, a Marinha Real britânica tinha já apresentado o sistema DragonFire, um laser de alta potência que pode destruir “qualquer alvo visível” à velocidade da luz — e cujo disparo custa cerca de 11 euros.
No teste do RFDEW agora efetuado, a Unidade de Ensaios e Desenvolvimento da Artilharia do Exército efetuou com sucesso um ensaio de disparos ao vivo.
Ao contrário das armas de energia baseadas em laser, que utilizam feixes de luz concentrados, o RFDEW desativa drones e mísseis bombardeando-os com frequências de rádio de alta potência, “fritando” na prática os seus sistemas eletrónicos internos.
Os sistemas baseados em laser provaram a sua eficácia contra drones individuais e outras aeronaves, mas enfrentam desafios quando lidam com enxames de drones. É aqui que o RFDEW tem demonstrado um potencial superior.
Durante os testes, as equipas de defesa aérea do Exército detetaram, seguiram e atacaram com sucesso vários alvos de drones a distâncias de até um quilómetro.
O comunicado do governo britânico sublinha que o novo sistema, que pode ser instalado em qualquer veículo militar, é altamente automatizado, pelo que pode ser operado por uma única pessoa. Além disso, é extremamente preciso, sendo capaz de neutralizar ameaças em terra, no ar ou mesmo sobre a água.
A espiral de contramedidas
Durante a Guerra dos Cem Anos, nos séculos XIV–XV, os britânicos inventaram o famigerado longbow — o “arco longo inglês“, considerado uma das armas mais letais e importantes da história, que se destacou pela sua capacidade de disparar flechas que atravessavam armaduras mais leves.
Em resposta ao aparecimento do longbow, as armaduras tornaram-se cada vez mais pesadas e sofisticadas, usando ligas mais resistentes e maior espessura de metal.
Para manter a eficácia das flechas, os fabricantes de armas aperfeiçoaram as pontas das setas, procurando formas que penetrassem melhor as novas armaduras, e investiram no treino intensivo de arqueiros para manter a cadência de disparo…
As fortificações em estrela contra os canhões de pólvora, os mísseis hipersónicos contra as “Cúpulas de Ferro” contra rockets…
Antes e depois do longbow, a história militar é rica em exemplos de que, de cada vez que alguém cria uma arma mais poderosa, alguém desenvolve uma defesa mais avançada que se revela eficaz contra essa arma — até aparecer uma nova arma invencível, que torna essa defesa inútil.
Ficamos então agora à espera da próxima geração de drones militares — que sejam invulneráveis a lasers e ondas de rádio. E da próxima geração de armas de defesa — capazes de abater esses drones.