O “InProject”, criado por um grupo de alunas da Universidade de Coimbra, usa o croché como um “manifesto” contra o isolamento de idosos e terá brevemente as peças suspensas numa zona da Alta de Coimbra.
A partir de 4 de julho, quadrados e rosas de croché de cores e pontos ao critério de cada um estarão suspensos nas ruas, assim como nos corrimões, janelas e árvores da rua Fernandes Tomás, do Quebra Costas e do Arco de Almedina, fruto do trabalho de mais de 100 participantes, entre eles 50 moradores e comerciantes daquela zona da Alta de Coimbra.
Na iniciativa aproveitam-se também os guarda-chuvas de croché realizados na primeira edição do projeto, em 2013, que começou pela mão de alunas do 3.º ano da licenciatura em Serviço Social, então apenas na rua Fernandes Tomás, e que este ano se replica por vontade da nova turma do mesmo curso.
A caminho da antiga junta de freguesia de Almedina, onde o grupo ia realizar uma reunião, Joana Guerra, coordenadora do projeto, chamava por dona Ermelinda, uma das moradoras da rua Fernandes Tomás que participa na iniciativa, a pedir-lhe para ir com o grupo.
Dona Ermelinda disse que não. “Não veio para ficar a fazer croché”, explicou a também professora de Serviço Social da Universidade de Coimbra, contando que o projeto pretende combater o isolamento de idosos “de forma simbólica” e “transformar o local onde vivem” a partir desta atividade.
É o caso de Alice Nunes, de 72 anos, há 30 a morar no Quebra Costas, que até tinha ficado “chateada” na edição anterior por a iniciativa não se ter estendido à sua rua.
Durante o projeto, diz que já “foi professora de croché de muita gente”, tendo também dado a ideia de tapar as janelas velhas e partidas de um edifício abandonado com “painéis com poemas da Rainha Santa Isabel”.
“Eu nem durmo”, frisou, apontando para as voltas na Câmara para tratar de pormenores ou para as noites que passa em frente à televisão a ver a novela, enquanto faz os quadrados de croché.
Apesar de alguns dias “em que já não se aguenta mais”, Alice sente-se ativa e olha para o projeto como “um sinal de que Coimbra existe”.
Principalmente, a Coimbra “mais desconhecida e esquecida”, contou a antiga aluna de Serviço Social Clementina Almeida, justificando assim a escolha da rua Fernandes Tomás no primeiro ano do projeto, onde os moradores são escassos e quase todos idosos.
América, de um estabelecimento do Quebra Costas, que este ano participa no projeto, considerou que a iniciativa em torno do croché “está a fortalecer os laços entre moradores e comerciantes” da zona.
O projeto de “solidariedade intergeracional” ganhou dimensão e, entre os participantes que ajudam com o croché, estão “pessoas de todo o país”, sublinhou Joana Guerra.
“Víamos sempre as idosas a passar o dia à janela, sozinhas, e agora têm de interagir”, constatou a coordenadora do projeto, contando que, em 2013, uma senhora de 80 anos, a partir da janela, “funcionava como guia” para os turistas curiosos que olhavam para a instalação.
Para além do croché, “é trazer as pessoas para a rua e darem um pouco de si”, reforçou Ana Sofia, estudante do 3.º ano de Serviço Social.
Isabela Gomes, outra estudante, frisou a importância de os alunos “conhecerem outra realidade”.
As peças de croché vão estar nas ruas pelo menos até 31 de agosto, data em que termina o 2.º Festival de Croché Social, que se realiza em Coimbra.
// Lusa