“O apartheid é o único culpado”. A carta pró-Palestina dos alunos de Harvard

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Abedin Taherkenareh / EPA

Uma carta subscrita por 33 grupos de estudantes da Universidade de Harvard que culpabiliza Israel pela violência na região foi alvo de duras críticas de antigos alunos notáveis e de legisladores dos EUA.

A carta, redigida pelo Comité de Solidariedade para com a Palestina de Pós-Graduação de Harvard, afirmava que os estudantes “responsabilizam inteiramente o regime israelita por toda a violência em curso”.

“Os acontecimentos de hoje não surgiram do nada”, lia-se na declaração.

“O regime de apartheid é o único culpado. A violência israelita moldou cada aspeto da existência palestiniana durante 75 anos”, acrescentava a carta.

O documento foi redigido depois de Israel ter declarado que mais de mil pessoas foram mortas e 100 raptadas desde que os militantes do Hamas lançaram um ataque surpresa nas primeiras horas deste sábado, 7 de outubro. Na Faixa de Gaza, mais de 700 pessoas foram mortas em ataques aéreos israelitas de retaliação.

Esta quarta-feira, dia 10, já se contabilizam mais de 3 mil mortos de ambos os lados, milhares de feridos e mais de 260 mil deslocados na Faixa de Gaza.

Sem contar com as mais recentes fatalidades, cerca de 6400 palestinianos foram mortos desde 2008 às mãos de forças israelitas no conflito sem fim, comparativamente a cerca de 300 israelitas, segundo dados da ONU.

A declaração dos estudantes, publicada logo no sábado, foi prontamente criticada por alguns professores, bem como pelo ex-presidente de Harvard, Larry Summers, que escreveu numa publicação no X, anteriormente conhecido como Twitter, que se sentiu “alienado” com ela.

“Para ser claro, não há nada de errado com criticar o passado, presente e futuro das políticas de Israel. Tenho sido muito crítico em relação ao primeiro-ministro Netanyahu. Mas isso é muito diferente da falta de transparência em relação ao terrorismo”, completou noutro tweet.

“O silêncio da liderança de Harvard até ao momento, aliado a uma declaração de grupos de estudantes amplamente divulgada que culpa exclusivamente Israel, fez com que Harvard parecesse, na melhor das hipóteses, neutra em relação aos atos de terror contra o Estado judeu de Israel”, afirmou o ex-secretário do Tesouro dos EUA.

A Universidade de Harvard emitiu a sua própria carta na segunda-feira sem abordar diretamente a controvérsia, mas declarou que os líderes da universidade estavam “consternados” pelo “ataque do Hamas que visou cidadãos em Israel neste fim-de-semana e pela guerra em Israel e Gaza que está em curso”.

As críticas de Summers foram reiteradas por vários legisladores republicanos dos EUA, incluindo o antigo aluno de Harvard, Ted Cruz, que escreveu no X: “O que raio se passa com Harvard?”

O professor de Ciência da Computação de Harvard, Boaz Barak, também utilizou as redes sociais para condenar a carta, apelando para que a universidade retirasse as afiliações académicas dos grupos de estudantes.

“Tenho muitas críticas às políticas israelitas, mas todos os que assinaram esta declaração estão a endossar o terrorismo, a violação e o homicídio”, disse ele.

O centro judaico da universidade, Harvard Hillel, afirmou que a declaração era um sinal de “mais ódio e antissemitismo”.

Os grupos que subscreveram a carta — que apelou para que a Universidade de Harvard “pare a aniquilação contínua dos palestinianos” — incluíam a Faculdade de Direito de Harvard Justiça para a Palestina, os Judeus de Harvard pela Libertação e a Associação de Estudantes de Direito da Ásia do Sul de Harvard.

Numa publicação no Instagram, o autor da declaração, o Comité de Solidariedade para com a Palestina de Pós-Graduação de Harvard, disse que a sua conta foi temporariamente suspensa após a publicação da carta.

O grupo designou a ação como “um padrão recorrente de censura da Meta às mensagens pró-Palestina”.

ZAP // BBC

2 Comments

  1. Estes 33 Grupos de estudantes e outras mentes brilhantes que se passeiam no conforto e segurança que a nossa organização social lhes permite, deveriam ser coerentes e ir residir, “fazer vida”, nas zonas em conflito sobre as quais teorizam e se pronunciam e de lá então, escrever as suas teorias e dá-las a conhecer ao mundo. Que fácil é perorar sobre a vida dos outros se estivermos longe do perigo diário que os outros correm. As sociedades civilizadas de tão inclusivas que pretendem ser acabam por albergar em si e fazer germinar de forma inexpugnável a semente da sua implosão.

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