/

Nova “pandemia assustadora” tem consequências imprevisíveis (e há pais em pânico)

2

Os jovens começam a ver pornografia cada vez mais cedo, logo a partir dos 9 anos de idade. Está, assim, a criar-se uma “Geração Porno” e há pais “em pânico”, sem saberem o que fazer, perante o que já é referido como uma nova “pandemia”.

O documentário “Geração Porno” do canal espanhol TV3 alerta para uma nova realidade que ainda não está a merecer a devida atenção, mas que pode ter consequências trágicas nos próximos anos.

Há cada vez mais adolescentes a usarem a pornografia para se educarem. E o pior é que tentam transferir aquilo que vêem nos vídeos porno para a vida real.

A pornografia tornou-se fundamental para esta nova geração, com as crianças a terem contacto com ela cada vez mais cedo.

Muitos jovens começam a ver vídeos pornográficos logo aos 9 anos de idade. Com 12 anos, quase metade vêem pornografia e aos 15 anos, a percentagem sobe para os 90%, conforme dados divulgados pelo documentário da TV3.

“Tal como existe uma Geração Z ou os Milenial, é razoável pensar que estamos a criar uma geração de meninos e meninas pornográficos“, destaca o psicólogo e sexólogo José Luis García no documentário.

Para estes jovens, a pornografia é como “uma droga”, uma verdadeira adição. “Porno e pijama” é a solução para lidar com o aborrecimento e o sexo real já parece “pouca coisa”.

Estamos na “origem de uma pandemia assustadora“, de acordo com a análise do psicólogo Juan Carlos Prieto que é especializado em dependências e que também foi ouvido para o documentário.

“Pornografia de abutre”

Para a realizadora do documentário “Geração Porno”, Oiane Sagasti, esta nova geração vai “marcar um antes e um depois”.

A pornografia é parte relevante da vida destes jovens, e está a moldar a forma como vivem a sua sexualidade com outras pessoas. E isso acaba por afectar também os jovens que não têm contacto com o universo porno.

800 milhões de sites pornográficos, cada um com uma média de 12 milhões de vídeos porno, de acordo com dados da revista The Economist.

E “88% dos vídeos porno contêm violência física“, com mulheres a serem estranguladas ou a terem os cabelos puxados, como nota o El Mundo. Mas há coisas ainda piores!

No documentário da TV3, quando perguntam aos jovens qual foi “a coisa mais aberrante” que já viram na pornografia, um rapaz refere “uma miúda esquartejada a ser f*****“.

É o que se chama a “pornografia de abutre”, como explica o realizador de filmes pornográficos Antonio Marcos ao El Mundo, salientando que o objectivo, neste caso, é oferecer “algo que seja o mais nojento possível para chamar a atenção” e os cliques dos jovens.

Pais chocados e em pânico

“O que faço?” “O que lhe digo?” “Como posso controlar isto?” Estas são as dúvidas dos pais que se apercebem do que se passa com os seus filhos. E é “pânico” o que sentem na desorientação sobre como lidar com o assunto.

No documentário, é possível perceber “a surpresa e preocupação” dos pais que participaram nas gravações, juntamente com os seus filhos.

As gravações foram feitas ao longo de vários anos com quatro famílias, envolvendo jovens de ambos os géneros, com idades entre os 13 e os 18 anos, a falarem das suas experiências com a pornografia diante dos pais.

Sentam-se frente a frente para falarem sobre os sites que visitam, o que vêem e o que os excita mais.

Alguns pais “não dão crédito ao que os seus filhos contam” porque “não o podiam imaginar”, realça a realizadora Oiane Sagasti.

Em outros casos, os pais ficam em choque com as respostas dos filhos que dizem que assistem a filmes porno porque estão “aborrecidos” ou “stressados”.

Mais espantados ficam quando referem que tentam reproduzir nas suas relações amorosas, as cenas pornográficas que são protagonizadas por actores e que, quase sempre, ilustram o sexo de forma irreal.

Há relatos de miúdas que vão a sex shops em busca de sprays para desensibilização da garganta porque os namorados querem que elas façam sexo oral como as estrelas porno.

“Poder aditivo superior à cocaína”

O grande problema é que a pornografia está à mão de semear na Internet. É muito fácil de aceder, é gratuita, “dá prazer” e tem “um poder aditivo superior à cocaína“, “o que incentiva o consumo”, como destaca o sexólogo José Luis García.

É “um super estímulo” e quando se consome de forma continuada, chega-se a um dado momento em que uma relação real já “não resulta suficientemente satisfatória”, acrescenta o sexólogo.

Então, os jovens esperam e querem o que o porno mostra – sexo em grupo, sexo anal, violência, humilhações – e tudo isso sem preservativo.

“Se constróis o teu desejo a ver sempre violência, depois vais precisar dela para te excitares”, conclui o documentário.

Mais crimes sexuais cometidos por menores

Nos últimos tempos, têm sido reportados vários casos de crimes sexuais cometidos por menores em países como Espanha e Itália, nomeadamente com violações em grupo.

Em Espanha, o número de crimes sexuais cometidos por jovens com idades entre os 14 e os 17 anos aumentou 14% num ano, de acordo com a Euronews.

Em Itália, o número é mais elevado, com um aumento de 15,7%, segundo dados da mesma fonte.

Ainda recentemente foi notícia o caso de seis adolescentes, com idades a rondar os 14 anos, que violaram uma menina de 11 anos na casa de banho de um centro comercial da cidade espanhola de Badalona.

Há “cada vez mais rapazes nos centros de detenção juvenil por crimes contra a liberdade sexual e cada vez mais condenações por este tipo de crime”, revela na Euronews o juiz de menores em Toledo (Espanha), José Ramón Bernácer, que trabalha com este tipo de casos há 17 anos.

Bernácer revela que o número de casos que ouviu duplicou nos últimos seis anos, lamentando a “falta de educação sexual” que se reflecte em comportamentos agressivos e “machistas”.

“As crianças que não têm educação ou experiência sexual vêem filmes pornográficos feitos para adultos e confundem o que é o sexo“, repara a psicóloga especializada em violência de género e stress pós-traumático María Rosario Gomis, também em declarações à Euronews.

“Como não têm nada com que comparar, assimilam a pornografia agressiva e pensam que a sexualidade é isso“, conclui, reforçando a importância da educação sexual nas escolas e defendendo legislação no âmbito do acesso livre à pornografia por parte de menores.

Susana Valente, ZAP //

2 Comments

  1. Crianças e adolescentes deveriam voltar a ler livros. E serem proibidos de usar telemóveis. Se não tem idade para terem compromissos e nem arcarem com encargos, não deveriam ter acesso a sites e aplicativos principalmente os pormograficos ou incentivadores de criminalidade. E os pais que liberassem o uso aos filhos, serem responsabilizados.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.